Papado por tempo limitado?

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30 Mai 2014

Era o ponto máximo a que ele podia chegar. O Papa Franciscofalando de renúncia em resposta a uma pergunta dos jornalistas no voo de volta da Terra Santa – disse que não sabe o que Deus reservou para ele, mas certamente "Bento XVI abriu o caminho dos papas eméritos". Em suma, depois da renúncia do dia 11 de fevereiro de 2013, a Igreja não é mais a mesma que se conhecia até então. Uma afirmação forte, que confirma como o novo curso do pontífice argentino não é feito apenas de uma mudança da agenda pastoral e de governo, mas que trará consigo algo mais profundo. Como se a sua eleição devesse ser lida como um unicum com a renúncia do papa alemão.

A reportagem é de Carlo Marroni, publicada no jornal Il Sole 24 Ore, 29-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Um foco nítido da mudança que o papado está vivendo vem do belo livro Francesco tra i lupi. Il segreto di una rivoluzione [Francisco entre os lobos. O segredo de uma revolução] (Ed. Laterza), de Marco Politi, jornalista vaticanista de longa data, durante muito tempo no jornal La Repubblica e agora colunista do jornal Il Fatto Quotidiano, comentarista de redes de TV norte-americanas e escritor afirmado. O capítulo conclusivo do livro é intitulado "Um papado por tempo limitado", e a análise que daí surge é como um decodificador das palavras de Francisco no avião.

"Dois papas no Vaticano. E no horizonte se perfila um pontífice por tempo limitado. O ano de 2013 colocou em ação uma sublevação imprevisível na catolicidade. Muda o perfil do papado, e Francisco está mudando o modelo de Igreja. O sucessor provavelmente vai voltar a viver no apartamento papal, mas não poderá mais se apresentar com a pompa do passado. Sobretudo não conseguirá mais exercer um poder autoritário sem limites. O absolutismo imperial dos pontífices foi rachado irreversivelmente. O Papa Francisco se apresentou ao mundo como um discípulo de Jesus. Depois dele é difícil que um papa possa subir ao trono alegando ser plenipotenciário de Cristo."

Politi revela que no Vaticano correm rumores de que Bergoglio confidenciou a um bispo que está disponível para renunciar: "É difícil pensar que ele queira permanecer no cargo sem ter o pleno comando. Vegetar no trono em idade avançada não faz parte do temperamento intelectual de um pontífice jesuíta, atento para discernir as situações. A declarada vontade de manter e, de fato, renovar passaporte e carteira de identidade da sua pátria argentina permite entrever uma existência futura não necessariamente concluída dentro dos muros vaticanos."

E a estreita ligação entre Bento e Francisco – para além dos estilos dos programas que estão em polos opostos – é sublinhada no livro, justamente quando se relata a renúncia do papa alemão: "Sem Ratzinger, não há Francisco. Sem a renúncia de Bento XVI, o catolicismo não teria chegado à virada histórica de um papa do Novo Mundo".

O livro de Politi percorre, em riqueza de detalhes e anedotas, o histórico período entre os dois pontífices, as guerras entre os cardeais, as resistências da Cúria à mudança, a espinhosa questão das finanças pontifícias, os segredos do "conclave anti-italiano", que levou à cátedra de Pedro aquele que já é "o líder mais influente do planeta, que se prefixou uma obra gigantesca: reformar a Cúria e renovar a Igreja. Mas, nos bastidores, a luta é cada vez mais acirrada. O tempo é pouco. O que está em jogo é a fisionomia do catolicismo de amanhã".

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