''Ratzinger tirou o solidéu e quis uma cadeira simples''

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24 Fevereiro 2014

Giovanni Lajolo, piemontês (nascido em Novara em 1935), de 2006 a 2011 foi presidente do Governatorato da Cidade do Vaticano, o órgão que exerce o poder executivo do outro lado do Tibre. Lajolo foi nomeado por Bento XVI, que, em 2007, também o criou cardeal.

A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada no sítio Vatican Insider, 23-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Eminência, que efeito lhe provocou ver o Papa Emérito Bento XVI no meio de vocês?

Foi um momento de comoção, não apenas de emoção. Até porque ele quis se sentar em uma cadeira simples ao lado dos cardeais, e não houve como fazê-lo mudar de lugar. O decano Angelo Sodano me disse que tentou "lutar" para atribuir-lhe um lugar digno, como era lógico. Mas ele perdeu essa "batalha": Bento XVI já tinha um entendimento com o Papa Francisco para se sentar simplesmente em um canto. É, de fato, ele estava em um canto, à frente, mas em um canto.

Como vocês reagiram quando o encontraram?

Todos os cardeais logo foram ao seu encontro para poder saudá-lo, e era divertido vê-los, empurrando-se uns aos outros como crianças para chegar a Bento XVI. Foi uma nova onda de amor pelo pontífice emérito.

Quando Bergoglio foi cumprimentá-lo, Ratzinger tirou o seu solidéu: que significado tem esse gesto?

É um sinal de respeito e de humildade. Solidéu significa "só a Deus": ele só é retirado a Deus ou ao seu representante. Essa também foi uma cena tocante.

Como você encontrou Ratzinger?

Em boa saúde, com um rosto renovado, sereno e, como sempre, amigável, aberto: perguntava a todos "como vai você?", sempre com a sua mansidão e simplicidade.

Que significado teve essa primeira criação cardinalícia de Francisco?

Foi um consistório de caráter particularmente universal. Ele alimentou ainda mais a presença de representantes de todas as diversas Igrejas do mundo na Igreja diocesana de Roma – os cardeais são todos membros da Igreja de Roma. E eu gostaria de enfatizar a particularidade de algumas nomeações, começando pela de Gualtiero Bassetti, arcebispo de Perugia: ele, assim como outros, é uma pessoa não "no rastro" eclesiástico, ou seja, ele não possui um papel que prevê uma expectativa de cardinalato. Eu mesmo, por exemplo, tinha uma "expectativa", porque estava "no rastro": o cargo de presidente do Governatorato, de fato, traz não um direito, mas sim uma "expectativa" de se tornar purpurado.

Ao invés, com Bassetti, Francisco escolheu um pastor, simples, fiel, humilde, desinteressado, que não ambiciona à "carreira". E assim foi para o bispo de Les Cayes (Haiti), Chibly Langlois: o pontífice foi "pegá-lo" entre os "últimos da Terra". Tudo isso é muito bonito, porque enriquece ainda mais os carismas do Colégio dos Cardeais. E depois há a nomeação de Loris Capovilla. Fico contente que isso ocorra à luz da canonização de João XXIII: Capovilla foi um secretário precioso, porque sabia suavizar ou temperar certas espontaneidades do Papa João XXIII. E também foi significativa a presença de um neocardeal de cadeira de rodas, Jean-Pierre Kutwa, da Costa do Marfim: o papa desceu à nave da igreja para lhe dar os sinais cardinalícios. Foi um reconhecimento também da dignidade da e na enfermidade.

Como você definiria esse primeiro ano do Papa Bergoglio?

Para mim, Francisco é o "pároco do mundo". Ele se aproxima das pessoas com as suas pregações e as suas perguntas que provocam a resposta das pessoas. Lembro-me de João Paulo II que, uma vez à mesa – ele nos recebia muitas vezes durante as refeições – disse: "O papa é o verdadeiro pároco", porque é a partir dele que os fiéis recebem diretamente a doutrina e o discurso moral. E assim é Francisco, que não precisa se colocar na cátedra para ser ouvido, porque consegue estar tão "no meio" dos homens a ponto de ser considerado "o pároco de todos".

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