As emergências do século XX e o realismo político do cristão Karl Barth

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24 Fevereiro 2014

Continua pela editora Castelvecchi a reproposta de interessantes coleções barthianas editadas por Francesco Saverio Festa. Depois do livro Per la libertà dell’evangelo [Pela liberdade do evangelho] (páginas contidas em Agire politico e libertà dell’Evangelo [Agir político e liberdade do evangelho], publicado pela Città Aperta em 2004) e Fede de potere [Fé e poder] (publicado em 2004 pelas Edizioni Lavoro), eis esta antologia Pace e giustizia sociale [Paz e justiça social] (título que já havia aparecido pela Città Aperta em 2008).

A reportagem é de Marco Roncalli, publicada no jornal Avvenire, dos bispos italianos, 21-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Precedida por um denso ensaio introdutório do editor, essa antologia do teólogo e pastor reformado apresenta escritos seus que abrangem o período entre o início de 1945 e 1959, portanto, às vésperas do colapso da Alemanha até um período em que a situação internacional ainda era caracterizada pela Guerra Fria.

Trata-se de quatro contribuições e de uma breve mensagem que colocam em confronto uma análise dos problemas políticos mais cruciais do pós-guerra e as desejáveis respostas dos crentes na consciência de uma mensagem evangélica que deve ser preservada de contaminações contingentes (embora, paradoxalmente, se tenha à frente um pensamento teológico dialético que aqui parece ser a premissa de uma imediata ação social).

As duas primeiras contribuições ("Os alemães e nós" e "Como os alemães poderão se curar?", traduzidos por Giovanni Miegge ainda em 1946) veem o teólogo da Basileia como "advogado dos alemães derrotados", decidido a curar as feridas do conflito e, diante do ódio transbordante, a se colocar na perspectiva do perdão (não sem apontar o dedo contra a falsa neutralidade do governo suíço).

Para Barth, "a cura alemã" pede que os alemães aprendam a pensar e a agir como pessoas politicamente livres e, portanto, responsáveis. "E justamente ao que os alemães – escreve – deveriam ser obrigados pelos aliados o mais rápido possível". Aliados e alemães – é o pensamento de Barth – devem, assim, dar lugar ao "hábito mental de um realismo cristão".

O terceiro ensaio da coleção ("A Igreja entre Oriente e Ocidente", de 1949) evidencia, acima de tudo, a tomada de distância dos antagonismos entre Rússia e Estados Unidos e as suas áreas de influência (filhas da velha Europa). O teólogo da Basileia adverte os crentes de dar apoio a cruzadas contra o Oriente soviético, convidando todos a buscar uma terceira via de conciliação (capaz de conjugar liberdade e justiça social) e a não pôr no mesmo plano nazismo e comunismo (este último, escreve Barth, "ao contrário do nazismo [...] na sua relação com o cristianismo, não fez uma coisa, e pela sua própria natureza não pode sequer fazer: nunca fez a menor tentativa de deformar e falsificar o próprio cristianismo, de se envolver em um vestido cristão").

De 1958 é o quarto texto da coleção: a carta "A um pastor da República Democrática Alemã", em que o autor volta à necessidade de reconhecer a existência do totalitarismo no mundo, seja na forma policialesca dos países do socialismo real, seja na forma econômico-financeira dos países do Ocidente capitalista.

O último texto é uma breve mensagem enviada ao Congresso Europeu contra as armas atômicas, realizado em Londres em 1959. O pensamento de Barth é inequívoco. Já não existe mais nenhuma guerra que possa ser definida como "justa" ou "legítima" a ponto de "justificar" o uso das armas atômicas, de modo que a "resistência" em nome da paz pode se traduzir em um convite à "objeção de consciência".

  • Karl Barth, Pace e giustizia sociale. Editado por Francesco S. Festa. Ed. Castelvecchi, 140 páginas.

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