A ''conversão pastoral'' da Igreja: o Papa Francisco e o seu testemunho

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14 Fevereiro 2014

No último dia 8 de fevereiro, aconteceu um dia de palestras sobre o Papa Francisco na De Paul University, em Chicago. Com o título New World Pope Conference, a conferência teve entre os participantes o cardeal de Chicago, Francis George, o rabino argentino Abraham Skorka, a professora Maria Clara Bingemer, da PUC-Rio, e os jornalistas Sergio Rubin, da Argentina, e Andrea Tornielli, entre outros.

Segue abaixo uma transcrição do discurso de Andrea Tornielli, jornalista, publicado por Vatican Insider, 08-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Há algo inconfundível, que todo mundo já percebeu desde a noite do dia 13 de março de 2013, quando o conclave elegeu um papa vindo "do fim do mundo". Os gestos, as palavras, o testemunho de Francisco tocaram e continuam a comover muitas pessoas em todo o mundo.

Vale a pena lembrar, por um momento, a noite da eleição, quando o novo papa, aparecendo na janela central da basílica de São Pedro, pediu à toda a praça para rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Glória. Antes de dar a sua bênção aos homens e mulheres de sua nova diocese e ao mundo inteiro, o papa pediu à multidão - o povo de Deus - para rezar por ele.

A eleição foi incrivelmente rápida, assim como foi para o seu antecessor, e isso foi uma surpresa. Outra surpresa foi o anúncio histórico da abdicação do Papa Bento XVI, que havia ocorrido no mês anterior. O Papa Bento XVI foi, de fato, o primeiro papa em dois mil anos de história da Igreja a abdicar por causa da idade avançada.

Na minha opinião, há dois elementos que se destacam e podem ajudar a explicar a atenção e o carinho despertado pelo Papa Francisco, mesmo em grupos ideologicamente distantes.

Essa atenção e carinho não parecem estar diminuindo, apesar das previsões de um fim da 'lua de mel' com os meios de comunicação, previsões que foram promovidas por aqueles que, algumas vezes, parecem lamentar os últimos tempos, quando a Igreja estava "sob ataque".

O primeiro desses dois elementos é o seu testemunho pessoal da mensagem do Evangelho, ou seja, grandes e pequenos gestos, bem como pequenas ou grandes escolhas diárias que ele faz, e a sua capacidade de conhecer e conversar com todo mundo, simplesmente por ser ele mesmo. Tudo isso fez dele não apenas crível, mas, acima de tudo, acessível. O papa agora é visto por muitas pessoas em todo o mundo como uma delas.

Precisamos apenas pensar no abraço com o doente, o sofredor e as crianças. Precisamos apenas pensar no tempo que ele gasta entre as pessoas antes e depois das Audiências gerais de quarta-feira: o papa passa uma hora e meia a cada quarta-feira cumprimentando as pessoas. E tivemos a chance de ver as imagens de centenas de pessoas doentes que foram recebidas no Vaticano em novembro passado. Francisco passou mais de duas horas cumprimentando-as, uma a uma. Alguns poderiam dizer: "O papa não tem nada melhor para fazer?". Eu acho que a resposta para isso é que, para o papa, não há nada melhor para fazer!

O papa também mostra isso através da visitação às paróquias romanas, ou seja, à sua diocese. Em vez de relegar as visitas aos domingos de manhã, quando o papa tem tempo limitado, devido ao Angelus ao meio-dia, forçando-o a deixar a paróquia com pressa depois de celebrar a missa, Francisco resolve o problema fazendo a visita em uma tarde de domingo, para que ele possa ter o tempo que lhe convém. Aconteceu, então, que Francisco passou mais de três horas em uma paróquia, atendendo cada uma das pessoas lá, incluindo uma delegação de pessoas de um centro de aconselhamento.

O pastor deve ter "o cheiro das ovelhas", ele deve estar à frente das pessoas para orientá-las, entre as pessoas para conhecê-las e compartilhar com elas esperanças e medos, e atrás das pessoas, para evitar que alguém se perca no caminho. É a imagem ou, melhor ainda, o testemunho de uma Igreja que está realmente perto das pessoas e lado a lado dos que sofrem e vivem com dor, e daqueles que estão com dificuldades materiais, físicas ou espirituais.

É o testemunho de uma Igreja que não tem medo da ternura, a ternura silenciosa cujo modelo é São José. "Nós não devemos ter medo da ternura!", repetiu Francisco desde o início de sua nomeação como bispo de Roma. E reiterou isso em minha entrevista com ele, que eu publiquei no La Stampa e no Vatican Insider em 15 de dezembro de 2013:

"Quando os cristãos se esquecem da esperança e da ternura, tornam-se uma Igreja fria, que não sabe para onde ir e se refreia nas ideologias, nas atitudes mundanas. Enquanto a simplicidade de Deus te diz: segue em frente, eu sou um Pai que te acaricia. Tenho medo quando os cristãos perdem a esperança e a capacidade de abraçar e acariciar. Talvez por isso, olhando para o futuro, eu falo muitas vezes das crianças e dos idosos, isto é, dos mais indefesos. Na minha vida de padre, indo à paróquia, eu sempre tentei transmitir essa ternura, especialmente às crianças e aos idosos. Me faz bem e me faz pensar na ternura que Deus tem por nós."

O segundo elemento que explica a atratividade do papa são os seus ensinamentos, que acontecem durante as homilias da missa celebrada diariamente na Casa Santa Marta. Elas são breves comentários das leituras do dia esperadas todas as manhãs. Um estilo curto e simples de pregação, que lembra Albino Luciani (Papa João Paulo I), ensinamentos que são, ao mesmo tempo, profundos e capazes de atingir o coração das pessoas. Esses ensinamentos acompanham muitos fiéis a cada dia, mais do que as grandes encíclicas ou debates intelectuais culturais jamais poderiam conseguir fazer.

A mensagem que Francisco considera mais importante, como ele mesmo proclamou em sua homilia na paróquia de Santa Anna, no Vaticano, no dia 17 de março, é a da misericórdia divina.

O papa disse aos bispos brasileiros durante sua viagem ao Rio de Janeiro em julho de 2013:

"Quanto à conversão pastoral, quero lembrar que 'pastoral' nada mais é que o exercício da maternidade da Igreja. Ela gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta, conduz pela mão... Por isso, faz falta uma Igreja capaz de redescobrir as entranhas maternas da misericórdia. Sem a misericórdia, poucas possibilidades temos hoje de inserir-nos em um mundo de 'feridos', que têm necessidade de compreensão, de perdão, de amor."

"Precisamos de uma Igreja capaz de andar ao lado das pessoas, de fazer mais do que simplesmente ouvi-los; uma Igreja que os acompanha em sua jornada; uma Igreja capaz de dar sentido à 'noite', contida na fuga de muitos de nossos irmãos e irmãs."

Francisco também disse, no decorrer da entrevista com o editor-chefe do La Civiltà Cattolica:

"Sonho com uma Igreja Mãe e Pastora. Os ministros da Igreja devem ser misericordiosos, tomar a seu cargo as pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa, levanta o seu próximo. Isto é Evangelho puro. Deus é maior que o pecado."

"As reformas organizativas e estruturais são secundárias, isto é, vêm depois. A primeira reforma deve ser a da atitude. Os ministros do Evangelho devem ser capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão, sem perder-se. O povo de Deus quer pastores e não funcionários ou 'clérigos burocratas'. Os bispos, especialmente, devem ser homens capazes de apoiar com paciência os passos de Deus em seu povo, de modo que ninguém fique para trás, assim como acompanhar o rebanho, com seu olfato para encontrar pastagens novas".

"Em vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e recebe, tendo as portas abertas, procuremos ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente. Quem a abandonou fê-lo, por vezes, por razões que, se forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um regresso. Mas é necessário audácia, coragem."

Algo óbvio para qualquer um que tenta observar a realidade - e não é influenciado por preconceitos nostálgicos, gostos por roupas eclesiásticas, ou até mesmo pelo debate autorreferencial de alguns círculos intelectuais, que muitas vezes reduziram os ensinamentos profundos do Papa Ratzinger a um modelo de Igreja do tipo "Law and Order" - é que esses primeiros 11 meses têm sido um sopro de ar fresco para muitos.

É exatamente na atitude "humilde e próxima" de Francisco e no seu retorno aos fundamentos da fé cristã e à radicalidade do Evangelho que podemos encontrar o traço distintivo desse primeiro ano. Uma proximidade capaz de "aquecer corações" e que foi manifestada, em toda a sua força, durante a primeira viagem papal fora de Roma, em julho de 2013, quando o papa foi para a ilha italiana de Lampedusa, para visitar os imigrantes que chegam em antigas e inseguras embarcações, que muitas vezes se tornam caixões afogados no abismo. A proximidade que também surgiu durante a viagem ao Brasil, que culminou com uma visita do papa a uma favela no Rio de Janeiro.

Durante a Vigília de Pentecostes, em maio de 2013, Francisco disse:

"Se sairmos de nós mesmos, encontramos a pobreza. Hoje... – dizê-lo faz doer o coração - hoje encontrar um sem-teto morto de frio não é notícia. Hoje é notícia, talvez, um escândalo. Um escândalo: ah, isso é notícia! Hoje pensar que muitas crianças não terão que comer não é notícia. Isto é grave; sim, grave! Não podemos ficar tranquilos! Bem! As coisas estão assim. Não podemos tornar-nos cristãos engomados, aqueles cristãos demasiado educados que falam de coisas teológicas enquanto tomam o chá, tranquilos. Isto não! Devemos tornar-nos cristãos corajosos e ir à procura daqueles que são precisamente a carne de Cristo, aqueles que são a carne de Cristo!"

Em 29 de novembro último, em um diálogo com os superiores das ordens religiosas, Francisco disse:

"Não é uma estratégia boa estar no centro de uma esfera. Para entender, precisamos nos mover ao redor, e assim poder ver a realidade de vários pontos de vista. Temos que nos acostumar a pensar. Frequentemente faço referência a uma carta do Padre Pedro Arrupe, que foi o Superior Geral da Companhia de Jesus. Trata-se de uma carta enviada aos Centros de Investigación y Acción Social (CIAS). Nela o Padre Arrupe falava da pobreza e dizia que algumas horas de contato com os pobres são necessárias. E isto é muito importante para mim: é necessário conhecer a realidade via experiência, passar certo tempo caminhando pela periferia buscando se familiarizar com ela e com as experiências de vida das pessoas. Se acaso isso não ocorrer, então corremos o risco de sermos ideólogos abstratos ou fundamentalistas, o que não é saudável."

A "conversão pastoral" que o papa pede a toda a Igreja, portanto, tem muito a ver com o movimento para fora de nós mesmos e para fora dos debates internos e autorreferenciais que o mundo não entende, a fim de alcançar o que Francisco chama de "periferia existencial e geográfica", ou seja, tanto os subúrbios reais e físicos, quanto os da periferia mental de desespero e falta de sentido, os quais podem ser encontrados inclusive entre as habitações mais caras da cidade.

A partir desse ponto de vista, eu acho que é errado afirmar que o Papa Bergoglio fala e age dessa maneira porque ele vem do "fim do mundo", da Argentina. Melhor ainda, isso é verdade, se sabemos como realmente é uma capital como a cidade de Buenos Aires. O papa vem do "fim do mundo", mas, ao mesmo tempo, ele vem do coração do mundo moderno, com seus desafios e contradições. É verdade que Bergoglio não viajou muito, porque, como bispo, sempre que ele estava em uma viagem, ele desejava voltar a mi Esposa, para a sua noiva, ou seja, para a sua diocese (e até por isso ele criticou a atitude daqueles "bispos de aeroporto", sempre viajando). Ele não viajou muito, mas ele tinha o mundo em sua casa: as relações com outras denominações cristãs, as outras religiões, o desafio da secularização, os resultados de um certo tipo de capitalismo, as desigualdades, a pobreza...

E, no que diz respeito à pobreza, é impressionante ver como os ensinamentos da Igreja sobre a doutrina social, proclamada pelos papas durante os anos 1900, tornaram-se, no mundo de hoje, perigosamente esquerdistas, tanto que eles são erroneamente rotulados de "marxistas" por aqueles que não sabem nem o que seja o marxismo ou a doutrina social da Igreja.

A exortação Evangelii gaudium, o verdadeiro documento programático do pontificado diz:

"Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo." Uma comunidade evangelizadora "acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica... Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio."

O principal critério para a renovação não é qualquer pensamento teológico específico ou linha eclesiástica de pensamento, mas "um impulso missionário capaz de transformar tudo, de modo que os costumes da Igreja, as maneiras de fazer as coisas, tempos e horários, linguagem e estruturas podem ser adequadamente canalizados para a evangelização do mundo de hoje, e não para a sua auto-preservação.

O Papa Francisco acredita que mudanças precisam ser feitas à maneira pela qual o Evangelho é anunciado. Por exemplo, a forma como certos assuntos que fazem parte do ensinamento moral da Igreja são representados nos meios de comunicação é colocada em questão.

A "cobertura ocasionalmente tendenciosa da mídia" da doutrina da Igreja significa que a sua mensagem "corre um maior risco de ser distorcida ou reduzida a alguns dos seus aspectos secundários". Isso acontece quando "certas questões que fazem parte do ensinamento moral da Igreja são tomadas fora do contexto que lhes dá o seu significado".

De acordo com Francisco, a ação moral deve ser o fruto de uma vida iluminada pelo Evangelho.

"O ministério pastoral num estilo missionário não está obcecado com a transmissão desarticulada de uma imensidade de doutrinas que se tentam impor à força. Quando adotamos um objetivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem exceção nem exclusão, o anúncio concentra-se no que é essencial, no que é mais bonito, mais grandioso, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário."

O papa citou São Tomás para enfatizar que "relativamente ao agir exterior, a misericórdia é a maior de todas as virtudes" para a inteligência humana iluminada pela fé.

A missão de anunciar a alegria do Evangelho leva em conta as limitações humanas e as condições nas quais os seres humanos vivem, marcados pelo pecado original e as influências externas a que estão sujeitos.

Acredito que, a fim de compreender plenamente a "conversão pastoral" que o Papa Francisco pede para toda a Igreja, é necessário reler as páginas do Evangelho, as páginas que devem ser o ponto de referência constante na vida de cada cristão. Bem, se olharmos para a dinâmica dos contos do Evangelho, percebemos que Jesus atraiu os pecadores, ele não afastou-os ou repeliu-os. Ele deu testemunho de um amor sem limites, e sempre abraçou antes de julgar: pensemos no consolo da mulher adúltera que, em vez de ser condenada, é perdoada. O coração da mensagem cristã é o abraço de um Deus que nos ama pelo que somos, e sempre acolhe e nos perdoa. É nesse abraço que nos reconhecemos: pequenos, pecadores e necessitados da misericórdia.

Nesse sentido, o testemunho e as palavras do papa são tão tradicionais - na verdadeira tradição cristã - como não poderiam deixar de ser. E se as suas palavras, a sua insistência sobre a misericórdia divina também incomodam algumas pessoas dentro da Igreja, devemos nos perguntar como e por que o cristianismo perdeu essa conotação fundamental e atraente.

Em resposta ao que está acontecendo, várias atitudes são possíveis. Há aqueles na Igreja que afirmam já estar fazendo o que o papa quer, há aqueles que se sentem entrincheirados em seus próprios esquemas e tentam reduzir o testemunho e os ensinamentos do papa aos seus próprios pensamentos sobre a Igreja. Há aqueles que criticam e obstruem, em nome de uma suposta tradição: é o problema dos colecionadores de paramentos e aqueles que cristalizam a liturgia e a mensagem da Igreja em uma nostalgia atemporal do "regime antigo" do passado. Há aqueles que escolhem os discursos do papa a fim de se sentirem justificados. Há aqueles também que estão à espera do fim de seu pontificado.

Mas a "conversão pastoral" que Francisco pediu a toda a Igreja só será realizada se os bispos, os sacerdotes e cada entidade eclesiástica, assim como cada homem e mulher fiel permitirem que o exemplo e as palavras do papa os interpelem pessoalmente. Todos, ninguém excluído.

"Precisamos invocar o Espírito Santo constantemente. Ele pode curar-nos de tudo o que nos faz esmorecer no compromisso missionário. É verdade que esta confiança no invisível pode causar-nos alguma vertigem: é como mergulhar num mar onde não sabemos o que vamos encontrar. Eu mesmo o experimentei tantas vezes." No entanto, Francisco assegurou, "não há maior liberdade do que a de se deixar conduzir pelo Espírito, renunciando à tentativa de planejar e controlar tudo até o último detalhe, e deixá-lo iluminar, guiar e dirigir-nos, impulsionando-nos para onde Ele quiser" (Evangelii Gaudium).

Gostaria de terminar com esta citação do papa, que explica muito bem o que significa evangelizar:

"Na verdade, quando na opinião de muitas pessoas, a fé católica deixa de ser o patrimônio comum da sociedade e, frequentemente, se vê como uma semente insidiada e ofuscada pelas divindades e senhores deste mundo, só com grande dificuldade pode a fé tocar o coração das pessoas por meio de discursos simples ou apelos morais e menos ainda por um apelo geral aos valores cristãos (...) todavia a mera enunciação da mensagem não chega ao mais fundo do coração da pessoa, não toca a sua liberdade, não muda a vida. O que fascina é, sobretudo, o encontro com pessoas crentes que, pela sua fé, atraem outras pessoas para a graça de Cristo, dando testemunho d'Ele."

O papa que disse isso não foi Francisco, mas Bento XVI, aquele Bento XVI que foi muitas vezes esquecido e taxado com o clichê de conservador "ratzingueriano" (eu, pessoalmente, acredito que Ratzinger não era "ratzingueriano"): era maio de 2010 e Bento XVI falava aos bispos de Portugal. Essas palavras nos ajudam a entender como Bergoglio e as perspectivas de Ratzinger sobre a igreja e o mundo estão em sintonia, mesmo com inflexões e personalidades diferentes, caráter e formação diversas. Mas essa é e sempre será a riqueza da Igreja: se houvesse continuidade absoluta ao longo de todo o tempo, o papa seria agora um pescador da Galileia...

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