25 Novembro 2013
A taxa de desemprego voltou a cair em outubro (está abaixo de 5,5% desde agosto), mês em que foram gerados mais postos de trabalho formais do que em igual período de 2012.
A reportagem é de Camilla Veras Mota, Francine De Lorenzo, Elisa Soares e Murillo Camarotto, publicada no jornal Valor, 22-11-2013.
Divulgados ontem pela Pesquisa Mensal do Emprego (PME) e pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), esse dois dados positivos, contudo, embutem sinais de um esgotamento do mercado de trabalho. A estabilidade tem sido garantida mais pela redução da procura por trabalho do que por uma ampliação mais vigorosa da geração de emprego, arranjo que deixa o mercado de trabalho menos dinâmico e mais apertado.
A redução no número de trabalhadores em busca de emprego levou a taxa de desocupação no mês passado ao menor patamar para o mês de outubro desde 2002, para 5,2%, de acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso porque a População em Idade Ativa (PIA), que soma todos aqueles com mais de dez anos de idade, avançou 1,2% em relação a outubro do ano passado, enquanto a População Economicamente Ativa (PEA), que inclui aqueles que declaram estar empregados ou em busca de trabalho, caiu 0,5% no conjunto das seis regiões metropolitanas avaliadas pelo levantamento, na mesma comparação.
Essas 130 mil pessoas passaram a compor o grupo da População não Economicamente Ativa (PNEA), que ganhou 622 mil membros desde outubro do ano passado, 5% a mais, e contribuiu para diminuir a pressão sobre o mercado de trabalho. Além da redução da PEA, o grupo dos inativos foi incrementado pelo próprio crescimento vegetativo da população em idade ativa, os outros 422 mil.
Fonte: http://bit.ly/17P9s0b |
A decisão de muitos brasileiros de não procurar emprego, para Fabio Romão, da LCA Consultores, deriva principalmente da relativa melhora da renda diante do arrefecimento da inflação acumulada em 12 meses a partir de meados de 2013. "Com a recuperação dos salários, diminui a necessidade de mais pessoas trabalharem para complementar a renda familiar", diz. No mês passado, o aumento médio da renda real foi de 1,8% em relação a igual período de 2012, seguindo alta de 2,2% em setembro, na mesma comparação.
A redução da População Economicamente Ativa (PEA), ressalta Romão, diminui a pressão sobre o mercado de trabalho e "mascara um pouco" a perda de fôlego da economia brasileira na criação de postos de trabalho.
A pesquisadora da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, chamou atenção, durante divulgação da PME, para o comportamento da PNEA. Dos 18,434 milhões de pessoas que compõem esse grupo, 16,726 milhões não estão empregados, não procuram e nem querem ser empregados, 789 mil pessoas a mais do que em outubro do ano passado. O número é superior ao próprio crescimento da inatividade, de 622 mil. O instituto não arrisca, porém, uma explicação para essa dinâmica. "A pesquisa está observando o aumento do contingente, mas ainda não tem condições de avaliar a causa deste comportamento. Mas não é desalento, porque quando se observam os números efetivos, vê-se que ele tem se reduzido".
No Caged, a geração de empregos em outubro somou 94,8 mil vagas e superou a de outubro do ano passado. Esse resultado, contudo, foi inferior ao dos dois anos anteriores (2010 e 2011) e na indústria foi puxada pela sazonalidade do setor sucroalcooleiro, enquanto ficou estável em serviços.
A previsão da LCA Consultores para o saldo gerado em 2013, considerando as informações entregues ao Caged dentro do prazo legal, é de 770 mil postos, menos do que os 868 mil do ano passado. "Se levarmos em conta que o PIB deste ano vai ser maior que o do ano passado, esse número mostra uma certa fragilidade do mercado de trabalho", completa. O Caged de outubro apurou criação de 94,8 mil empregos, ante 67 mil no mesmo mês de 2012.
Fernanda Guardado, economista do Banco Brasil Plural, ressalta que outubro marca o terceiro mês seguido de alta da média móvel trimestral dessazonalizada elaborda pela instituição. Para ela, os números reiteram uma melhora marginal, mas não revertem o diagnóstico de que o mercado de trabalho está apertado. O próprio crescimento menor da PEA, afirma, limita a expansão da geração de emprego porque restringe as possibilidades das empresas de preencherem as vagas disponíveis.
Para Romão, da LCA, o destaque positivo da pesquisa foi o setor de comércio, que respondeu por mais da metade dos postos abertos, 52,2 mil. O desempenho, afirma o economista, é reflexo da inflação mais controlada e da alta mais consistente da renda. O setor de serviços, com saldo semelhante ao de outubro do ano passado (32 mil), diz, merece atenção, pois tem gerado empregos em patamar bem inferior ao de anos anteriores. Entre 2009 e 2011, por exemplo, o número de vagas abertas pelo setor foi sempre acima de 70 mil.
A construção civil foi o destaque negativo, com fechamento de 2,2 mil vagas. A indústria reverteu a tendência mostrada nos meses anteriores e voltou a gerar mais vagas do que no mesmo período de 2012. Em outubro, foram 33,5 mil, ante 17,5 mil no período anterior. Mais da metade das vagas foram criadas nos Estados de Alagoas (11,9 mil) e Pernambuco (5,5 mil) e estão concentradas na indústria alimentícia ligada à cadeia de sucroalcooleira. O Nordeste foi, assim como em setembro, a região que mais gerou vagas, 40,3 mil.
Para Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, os dados de outubro apenas evidenciam um movimento que se estende desde o início do ano. "O mercado de trabalho está menos aquecido em função do fraco desempenho da economia", afirma. Apesar disso, segundo ele, não dá para esperar um aumento na taxa de desemprego nos próximos meses porque as pessoas continuam deixando de buscar trabalho. A Tendências projeta taxa média de desemprego de 5,3% em 2013.
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Mais pessoas saem do mercado de trabalho e desemprego cai - Instituto Humanitas Unisinos - IHU