Cipriani e Opus Dei. A crise na Igreja do Peru

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Por: Caroline | 10 Outubro 2013

Encruzilhada. O ex-bispo Gabino Miranda deve recorrer ao Ministério Público para esclarecer sua situação e oferecer uma forma de alívio aos fiéis que acreditavam em sua situação.

A reportagem é de Doris Aguirre, publicada no jornal peruano La Republica, 29-09-2013. A tradução é do Cepat.

Impacto profundo. Para o ex-presidente da Conferência Episcopal do Peru, dom Luis Bambarén, o Opus Dei lavou as mãos e se afastou do caso do sacerdote expulso Gabino Miranda, apesar de ter sido formado por eles.

Antes que o cardeal Juan Luis Cipriani se pronunciasse sobre o caso do destituído ex-bispo auxiliar de Ayacucho, Gabino Miranda Melgarejo, fez isso no Escritório de Informação do Opus Dei no Peru, no dia 20 de setembro. Esclareceu que o sacerdote não era um de seus membros, mas fazia parte da Sociedade Sacerdotal de Santa Cruz, uma organização que pertence ao Opus Dei. Era uma forma elegante de removê-lo do círculo do Opus Dei.

No dia seguinte, 21 de setembro, de Roma e por telefone, Cipriani alegou compreender e não condenar Gabino Miranda e pediu que lhe permitissem “o direito de defesa”, como se o ex-sacerdote houvesse sido vítima de uma injustiça. O que soou com pouca expressividade para um caso que abalou a fé dos católicos.

A fala de Cipriani foi um ataque velado ao Vaticano, que investigou e puniu Miranda. O certo é que o ex-bispo teve a oportunidade de responder as acusações, como esclareceu o presidente da Conferência Episcopal do Peru (CEP), dom Salvador Piñeiro, acerbispo de Ayacucho.

É notório que as reações de Cipriani e do Opus Dei, para o caso do ex-sacerdote Miranda, causam profunda preocupação pelo dano que alcançaram as ondas expansivas do impacto da expulsão de um homem amado no setor conservador da Igreja peruana.

Por isso, Cipriani advertiu: “Seria de muito mau gosto que, com uma situação assim, quisessem vincular ou maltratar uma instituição que goza de enorme saúde espiritual, proximidade com Deus e que procura sempre fazer o bem na Igreja. O Opus Dei jamais iria tolerar ou encobrir situações deste tipo”.

Juan Luis Cipriani também afirmou que desconhecia o caso de Gabino Miranda Melgarejo, religioso a quem promoveu a bispo auxiliar de Ayacucho. Todavia, uma carta assinada pelo próprio Miranda, destinada a Nunciatura Apostólica, em primeiro de junho, indica que o decreto papal de destituição data de 24 de maio deste ano e chegou a ele em 21 de junho.

Ondas Expansivas

E acrescentou: “Desconheço os delitos (dos quais) me acusam, desconheço a procedência dos acusadores, a jurisdição e a época em que se cometeram os supostos delitos”.

Entretanto, provavelmente impulsionado por sua consciência, admitiu: “Reconheço que em algumas circunstâncias fui imprudente e assim comuniquei ao Santo Padre através da Nunciatura, no último 11 de fevereiro (de 2013); mas novamente reitero, em consciência e na presença de Deus, que as supostas acusações não podem ser tipificadas em delitos contra sextum (violações do Sexto Mandamento)”.

É pouco provável que não tenha dito nenhuma palavra a nenhum membro do Opus Dei, de quem era muito íntimo.

Dom Salvador Piñeiro admitiu que o afastamento de Gabino poderá causar um dano terrível, se não for esclarecido rapidamente. E o efeito será mais duro para o setor conservador, a qual pertencia o ex-sacerdote.

“Segundo fui informado, Gabino Miranda cometeu pecados gravíssimos contra o sexto mandamento. Estes pecados não são perdoados para qualquer sacerdote, porque atenta contra o Santo Padre. O perdão pode ser concedido apenas pelo papa Francisco. Mas, no hipotético caso de que imputem ao padre um fato que cometeu, aproveitando um ato de confissão, a Igreja guardará rigorosamente o segredo. E ninguém pode tirar-lhe a língua”, explicou Piñeiro.

O clero que compõe o Opus Dei, encabeçado pelo cardeal Cipriani, lamentou que o ex-presidente da Conferência Episcopal do Peru, dom Luis Bambarén, tenha confirmado numa entrevista com Augusto Alvarez Rodrich, no programa “Buenas Noches”, em 19 de setembro, que Gabino Miranda tenha sido investigado pela Igreja por suspeita de pedofilia. O Opus Dei preferiria o silêncio completo.

Para dizer a verdade

Não faltaram ataques contra Bambarén, por ter trazido à luz a gravíssima sanção contra um sacerdote do âmbito do Opus Dei.

“Não se deve contrariar o óbvio. Aqui, em Ayacucho, não há nada. Dom Luis Bambarén se pronunciou apressadamente, afirmando que Gabino foi separado por estar envolvido em um caso de pedofilia. Se Bambarén tem prova, que o denuncie então, caso contrário, estaria encobrindo-lhe. E isso sim é punível por lei. Que não fale por falar”, disse, mortificado, o chanceler da Arquidiocese de Ayacucho, Percy Quispe Misayco, que é muito próximo ao cardeal Cipriani.

Dom Bambarén compreende o incômodo e o desconforto do Opus Dei e seus seguidores pelo ocorrido com Gabino Miranda, já que é próximo de Cipriani e de seu círculo.

“O Opus Dei tomou distância do caso do ex-bispo Gabino Miranda e isso me surpreendeu. Gabino foi formado por eles. Não compreendo agora por que querem lavar as mãos. Eles teriam que se pronunciar sobre o caso”, apontou Bambarén.

Sobre o tema, oficialmente, existe o comunicado em que o Opus Dei trata do ex-bispo: “O interessado (Miranda), que nunca foi incardinado (incorporado) no clero da Prelazia do Opus Dei, nega qualquer delito com menores; este Gabinete carece de mais informações sobre sua situação. Como ocorre com qualquer bispo, os órgãos competentes são suas dioceses e a Santa Sé”.

Pouquíssimas palavras para um feito sem precedentes na Igreja peruana e para o Opus Dei.

Acatamento e resignação

Questionado se as ondas expansivas do impacto da saída de Miranda alcançarão o cardeal Cipriani, Bambarén disse: “Dom Juan Luis Cipriani é o arcebispo de Lima. Não é o chefe da Igreja peruana. Todo bispo depende do Santo Padre e deve acatar suas decisões. Naturalmente, nós sentimos muita pena e vergonha que o papa Francisco tenha tomado medidas tão drásticas. As razões eu não sei. Tenho muita pena da situação de Gabino Miranda”.

Dom Bambarén acrescentou: “Gabino passou por um seminário, teve uma preparação espiritual com Deus. Estudou na Universidade de Navarra, esteve na Sociedade Sacerdotal de Santa Cruz, do Opus Dei. Então, decepcionou todos os que o rodeavam. Há muita gente em Ayacucho que se solidarizou com ele. Gabino deveria rezar por eles, porque lhes falhou. O ex-bispo Miranda não é dono só de sua alma, mas de todas as almas que Deus lhe havia confiado. E se deu um mau exemplo, é um pecado muito grave”.

Se o ex-bispo Gabino Miranda expuser abertamente os fatos ou caso se apresentar, por decisão própria, frente ao Ministério Público, isso dará sossego aos fiéis da Igreja em geral e ao Opus Dei, em particular. Mas, Miranda persiste em negar tudo. E assim agiu na conversa que teve com dom Salvador Piñeiro.

“Eu estou muito interessado em que se esclareça o caso e, assim, que se alcance a tranquilidade e a paz, não apenas para o povo de Ayacucho, mas para todos que se sentem atingidos. Gabino foi meu bispo auxiliar, por isso me dói na alma. Fiquei muito abatido com a notícia”, expressou Piñeiro. Se assim é atingindo o Arcebispo de Ayacucho, a dor deve ser mais devastadora para o setor ao qual pertencia Miranda, sob a proteção do Opus Dei.

Todavia, ainda é incerto o que acontecerá com o clero nacional devido ao ocorrido com o ex-bispo Gabino Miranda. De acordo com fonte da Conferência Episcopal do Peru, o papa Francisco poderia adotar, brevemente, algumas medidas, como substituições e nomeações. É óbvio para onde direcionará o Santo Padre: para esse setor que preferiu afastar-se e lavar suas mãos a respeito do sacerdote expulso.

A promotoria de Ayacucho iniciou o procedimento para que o Vaticano entregue as informações

O titular da Segunda Procuradoria Criminal de Ayacucho, Garry Chávez Valdivia, encarregado das investigações contra o ex-bispo Gabino Miranda Melgarejo, solicitou ao Ministério Público que, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, solicite ao Vaticano o processo da expulsão do ex-bispo auxiliar de Ayacucho.

“Eu tenho conversado com o arcebispo Salvador Piñeiro e através de uma carta entregue ao meu escritório, fomos informados sobre a decisão tomada pela Santa Sé contra o ex-bispo Gabino Miranda. Mas, em nenhum momento explica por que ou quais as razões sobre sua separação da Igreja católica", disse o promotor Garry.

“Nós insistiremos com o pedido, porque esta promotoria não tem a pessoa que denunciou o suposto crime de pedofilia ou outra forma de abuso”, disse Chávez.

“A promotoria está habilitada a solicitar o relatório ao Vaticano sobre o caso de Gabino Miranda, mas esse processo será muito longo, porque estamos frente a um segredo do Pontífice. Duvido que o Vaticano responda”, advertiu o bispo Salvador Piñeiro.

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