Chile. “Há sexismo na campanha presidencial”

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Por: André | 19 Agosto 2013

“Há um certo sexismo. Quando duas mulheres saem como candidatas, se diz que é uma campanha de duas mulheres. Alguma vez se disse: ‘uma campanha de dois homens’?”, perguntou a favorita nas eleições presidenciais chilenas de novembro.

A reportagem é de Christian Palma e publicada no jornal argentino Página/12, 14-08-2013. A tradução é de André Langer.

Michelle Bachelet teve, nesta terça-feira, o primeiro encontro, desde que é candidata presidencial outra vez – e desta vez pela oposição –, com os correspondentes estrangeiros credenciados no Chile. O distendido encontro serviu para que mensageira da Concertación, hoje aglutinada na Nova Maioria e que inclui o Partido Comunista, aterrissasse em alguns temas e aprofundasse outros. Tudo com o vento em popa que significa liderar tranquilamente as pesquisas para as eleições de novembro, mas enfrentando agora uma adversária que entrou de cheio na briga. Trata-se de Evelyn Matthei, a ex-ministra do Trabalho de Sebastián Piñera, filha de um ex-militar que participou da Junta Militar de Augusto Pinochet e que equilibrou o tema do gênero na disputa que definirá o novo presidente do país.

Este foi, exatamente, um dos pontos tocados por Bachelet: “Há um certo sexismo. Quando duas mulheres saem como candidatas, se diz que é uma campanha de duas mulheres. Alguma vez alguém disse que há uma campanha de dois homens nas presidenciais?”, se perguntou. “Gosto do fato de que haja mulheres na política, mas não nos equivoquemos: aqui há uma disputa de projetos de país diferentes”, destacou.

Michelle Bachelet, médica e socialista, foi a primeira presidente do Chile. Em um fato inédito, uma candidata presidencial enfrentará outra mulher, numa disputa que envolve as duas maiores forças políticas do Chile. Ambas são filhas de generais da Força Aérea, mas com um passado muito diferente.

Alberto Bachelet, pai da ex-presidente, morreu em 1974 em decorrência de um ataque cardíaco, derivado das torturas de seus camaradas de armas que o torturaram por servir ao governo socialista de Salvador Allende, deposto em 11 de setembro de 1973, enquanto que Fernando Matthei, pai de Evelyn, integrou a Junta Militar que governou o Chile de 1973 até 1990.

Em relação à conjuntura, a ex-presidente criticou a realização do censo realizado pelo governo de Piñera no ano passado e que sofre de grosseiros erros técnicos. “O censo, creio que é um tremendo fracasso, impacta a todo o Chile. Portanto, creio que a grande tarefa é restituir, por um lado, os dados, conhecer os dados mais reais, porque atualmente não estamos certos de quantos somos. É evidente que se deve fazer um novo censo e evidente que, se a institucionalidade tem fragilidades ou falências, deve-se fortalecê-la e é preciso trabalhar para isso”, indicou.

No plano internacional, a ex-presidente do Chile assegurou que se ganhar as eleições presidenciais, as controvérsias com outros países serão resolvidos sempre através do Direito Internacional e trabalhará “com uma atitude de cooperação e de integração”. Atualmente, o Chile mantém dois litígios abertos na Corte Internacional de Justiça de Haia: um com a Bolívia e outro com o Peru, que tem a ver com uma saída para o mar, no primeiro caso, e com limites de fronteiras, no segundo.

“O Chile esperará com serenidade a sentença de Haia. Sempre teve uma política exterior de Estado nos grandes temas”, disse. Recordou, além disso, que durante seu mandato se estabeleceu uma agenda bilateral de treze pontos que incluía a reclamação boliviana perdida por esse país na Guerra do Pacífico (1879-1883). Neste ponto, considerou que a apresentação do governo de Evo Morales foi um erro que lamenta porque acredita que “com a política do diálogo se podia avançar de maneira importante”.

“Sempre com nossos países vizinhos temos que ter uma agenda variada e múltipla... uma relação inteligente que nos permita como países continuar avançando”, disse ao mesmo tempo em que declarou “acreditar realmente na integração latino-americana... o melhor que pode acontecer ao Chile é que todos os vizinhos estejam indo melhor... existem muitos desafios conjuntos”.

A mineração é um dos temas sensíveis para o país, devido ao fato de que explica mais da metade das exportações e pela grande quantidade de investimentos estrangeiros assentada. Neste sentido, assegurou que depois de agosto definirá sua política mineira em relação com aos royalties que o setor paga e à capitalização da cuprífera estatal Codelco. A candidata melhor colocada nas pesquisas para as eleições presidenciais de novembro próximo propôs uma ampla reforma tributária, mas não se pronunciou sobre as modificações nos instrumentos tributários que avançadas por Piñera após o terremoto de fevereiro de 2010.

A indústria do cobre é liderada no Chile pela estatal Codelco. Além disso, participam gigantes internacionais como BHP Billiton, GlencoreXstrata, Anglo American e Antofagasta Minerals.

Ainda sobre este tema, Bachelet disse que o projeto aurífero argentino-chileno Pascua-Lama deve cumprir com as medidas de mitigação exigidas pelas autoridades chilenas para que se possa avaliar sua continuidade. A construção de Barrick (8,5 bilhões de dólares) está parada no Chile enquanto não melhorarem algumas questões ambientais, entre outras.

Em relação aos problemas que afetam as comunidades originárias, em especial o povo mapuche, a principal das nove etnias chilenas, reiterou que “foi um erro que se aplicasse a lei antiterrorista durante o meu governo”.

O governo de Bachelet e o atual de Sebastián Piñera são as administrações que mais aplicaram contra os mapuches esta polêmica lei legada pela ditadura de Pinochet, a qual permite, entre outras coisas, prendê-los até por dois anos sem julgamento, interceptar suas comunicações e apresentar testemunhas encapuzadas em seus julgamentos.

Aproximadamente 200 comunidades, de cerca de 2.000 em todo o país, não estão de acordo com a política de distribuição de pequenas parcelas de terras e lutam, sem descartar atentados violentos e incendiários, para que lhes sejam devolvidos os territórios usurpados, primeiro pelos espanhóis, depois pelo Estado.

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