10 Mai 2013
"Muito mais do que lastimar o atraso colonial do desastre da nova rodada de leilões do pré-sal, as pessoas com sabedoria e sentimento de humanidade devem combater a decisão política de continuar com a insanidade da extração e do uso de combustíveis fósseis, ainda mais num país tão generosamente agraciado pela natureza com fontes praticamente limpas de energia, como são o sol, o vento e o movimento natural das águas do oceano, energia que pode ser gerada de forma descentralizada e com participação das comunidades locais", escreve Ivo Poletto, assessor do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, em artigo publicado em seu blog, 08-05-2013.
Eis o artigo.
É inaceitável que se continue governado o Brasil em 2013 com mentalidade política de antes de 1950. Até aquela data, a dominação do desenvolvimentismo capitalista e socialista, estatal ou não, não contava com alertas científicos seguros sobre os efeitos do uso dos combustíveis fósseis. Por isso, a luta estava centrada no controle das reservas e na reserva de mercado para esses produtos. Daí o sentido nacionalista da luta pelo petróleo é nosso.
Por isso - e esse é o primeiro desastre -, em comparação àquele tempo histórico, o atual leilão do pré-sal para consórcios internacionais e nacionais é algo retrógrado, configurando quão profundas são ainda as marcas do colonialismo em nossa sociedade e nas autoridades que deveriam ser “públicas” e zelar pelos bens naturais comuns. Segundo cálculos, a perda do Brasil pode superar dois trilhões de reais!
Mas mesmo sendo imenso o primeiro desastre político e econômico, o segundo é incomparavelmente maior: a própria decisão política de extrair o petróleo do pré-sal para gerar energia com sua queima, pois isso significa aumentar irresponsavelmente a emissão de gases de efeito estufa, apressando um aquecimento que pode impossibilitar a própria vida humana na Terra. Qual o sentido da festa financeira gerada pelo pré-sal se, em seguida, os sofrimentos humanos se tornarem insuportáveis?
Por isso, mais, muito mais do que lastimar o atraso colonial do desastre da nova rodada de leilões do pré-sal, as pessoas com sabedoria e sentimento de humanidade devem combater a decisão política de continuar com a insanidade da extração e do uso de combustíveis fósseis, ainda mais num país tão generosamente agraciado pela natureza com fontes praticamente limpas de energia, como são o sol, o vento e o movimento natural das águas do oceano, energia que pode ser gerada de forma descentralizada e com participação das comunidades locais. Quem teima em insistir que seria atraso não aproveitar a oportunidade do petróleo do pré-sal para elevar o Brasil ao nível dos países ricos, ou está desinformado em relação à situação do planeta e em relação à história, ou é cego e está a serviço dos interesses egoístas e imediatos das corporações capitalistas multinacionais. Na verdade, a minoria rica brasileira já faz parte do reduzido clube predador e consumista internacional há muito tempo, e tem aumentado seu poder nos últimos tempos, sempre com apoio de governantes e utilizando recursos públicos. O caminho para uma vida digna e livre de toda a população do Brasil é outro, e uma de suas condições é exatamente a redistribuição da riqueza concentrada escandalosa e injustamente em poucas e poderosas mãos e bolsas, e outra é a geração de energia com fontes menos poluentes, de forma descentralizada e com participação da população local.
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Dois desastres, para o Brasil e para toda a terra: O pré-sal e o leilão do pré-sal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU