Francisco promete promover a luta de Bento XVI contra a “ditadura do relativismo”

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24 Março 2013

Para as pessoas tentadas a traçar uma distinção excessivamente nítida entre o Papa Francisco e seu predecessor, na sexta-feira o novo papa ofereceu um lembrete claro de que ele pode ter um estilo diferente do de Bento XVI, mas que, substancialmente, eles são muito semelhantes.

A reportagem é de John Allen Jr. e publicada por National Catholic Reporter, 23-03-2013. A tradução é de Luís Marcos Sander.

Numa alocução para o corpo diplomático credenciado junto à Santa Sé na sexta-feira, Francisco lamentou não só a pobreza material do início do século XXI, mas também sua “pobreza espiritual”, numa referência a uma rejeição de Deus e de padrões de moralidade objetivos.

Nesse sentido, Francisco citou a famosa crítica de Bento XVI a uma “ditadura do relativismo” da pós-modernidade, feita durante uma homilia para a missa de 2005 que abriu o conclave que o elegeu papa.

(Em sua tradução das observações do papa para o inglês, o Vaticano na verdade traduziu o termo por “tirania”, mas a ideia é a mesma. Francisco disse que ela “aflige os chamados países ricos de modo particularmente grave”).

O recado parecia claro: o Papa Francisco tentará estar à altura de seu homônimo, Francisco de Assis, como homem dos pobres e da paz, mas isso não sinaliza qualquer afastamento das posições morais e culturais associadas com os pontificados de João Paulo II e Bento XVI.

“Não há paz sem a verdade”, disse Francisco aos diplomatas.

“Não pode haver paz verdadeira se toda pessoa é seu próprio critério, se toda pessoa pode sempre reivindicar exclusivamente seus próprios direitos, sem, ao mesmo tempo, cuidar do bem das outras, de todas, com base na natureza que une todo ser humano nesta terra.”

No discurso do Vaticano, referências à natureza humana universal são, muitas vezes, uma designação taquigráfica da defesa do ensinamento tradicional sobre questões como, por exemplo, a sexualidade, o matrimônio e a família.

Na sexta-feira de manhã, Francisco falou a representantes de 180 países, restando apenas 15 países reconhecidos internacionalmente que não têm relações diplomáticas formais com a Santa Sé.

Francisco disse esperar que hoje “também seja uma oportunidade para iniciar uma jornada” para o estabelecimento de relações diplomáticas com aqueles países restantes, entre os quais estão a China, a Arábia Saudita e a Coreia do Norte.

Observando que um de seus títulos é “pontífice”, que significa “construtor de pontes”, Francisco se comprometeu a tentar criar “espaços reais de fraternidade autêntica” entre os povos e as culturas. Ele disse que as religiões têm um papel especial a desempenhar neste tocante: “Não é possível construir pontes entre as pessoas e, ao mesmo tempo, esquecer Deus”, disse ele. Mas afirmou que o contrário também é verdadeiro: “Não é possível estabelecer uma ligação verdadeira com Deus e, ao mesmo tempo, ignorar as pessoas.”

Em termos de alusões à pauta de sua política exterior, Francisco deu uma ênfase especial ao diálogo com o islã, ao combate à pobreza (tanto material quanto espiritual), à construção da paz e à proteção do meio ambiente.

Em suas breves observações, feitas em italiano, Francisco não abordou nenhum foco de atenção global específico, como a Síria, por exemplo, onde a combatida minoria cristã do país está lutando para se manter em meio a uma sangrenta guerra civil e a correntes ascendentes do radicalismo islâmico. Ele também não falou de improviso, como fez com frequência durante sua primeira semana no cargo, atendo-se inteiramente ao texto que tinha preparado.

A manchete da sexta-feira, entretanto, provavelmente tem menos a ver com Francisco e a política exterior do que com Francisco e a política eclesial.

Com base no discurso de sexta-feira, ao menos, qualquer pessoa que tenha visto sua eleição como um repúdio da ampla perspectiva filosófica e teológica de Bento XVI provavelmente terá que mudar de ideia.

Uma nota de rodapé: Para os franceses, foi uma espécie de miniescândalo o fato de Francisco não ter feito sua alocação de hoje em francês, que é a língua que os papas tradicionalmente usam em ambientes diplomáticos. A título de explicação, autoridades do Vaticano dizem que o novo papa entende tanto francês quanto inglês, mas precisa de tempo para se acostumar a usar essas línguas em público. Com exceção de algumas poucas linhas em espanhol, até agora Francisco usou quase exclusivamente o italiano para suas observações públicas.

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