Por: Cesar Sanson | 12 Setembro 2012
"A política no EUA se polarizou radicalmente. As escolhas passaram a ser extremas. Há muito em jogo para o país e para o mundo nestas eleições". O comentário é de Sérgio Abranches em artigo no blog EcoPolitica, 11-09-2012.
Eis o artigo.
Romney não soube usar a convenção do Partido Republicano como trampolim. Obama se saiu melhor: ganhou popularidade e passou o adversário nas pesquisas, que mostravam empate no início de setembro, pouco antes da convenção democrática. Os dois representam escolhas polares extremas sobre mudança climática e paz mundial.
A convenção dos partidos nos Estados Unidos é um momento chave da campanha presidencial. Um grande show de marketing que tem muito destaque na mídia. Marca a reta final da disputa. Pode ser o trampolim para a vitória.
Estar pior nas pesquisas após a convenção Republicana é mau sinal para Romney. É o primeiro candidato republicano em décadas que não consegue fazer do grande show de mídia que é a convenção dos partidos no EUA um trampolim para se tornar mais competitivo no início da fase final da campanha, após a nomeação oficial dos candidatos. Romney estava encostado em Obama na média das pesquisas mais recentes nos dias anteriores à convenção Republicana, que aconteceu entre 27 e 30 de agosto. Obama tinha 46.9% e Romney, 45,5% das intenções médias de voto, de acordo com os cálculos do RealClear Politics. Na média das pesquisas realizadas após a convenção, o máximo que Romney conseguiu foi empatar com Obama, em 46,4%.
Obama entrou na convenção Democrata, com 46,4% das intenções de voto por esta média, empatado com Romney, e com 49% de desaprovação, contra 46,7% de aprovação.
Hoje, Obama tem média de aprovação de 49,4% e reprovação de 47,4% e se afastou de seu adversário nas intenções médias de voto: tem 48,7% contra 45,6% para Romney.
Na última pesquisa da CNN, Obama obteve 52% das intenções de voto e Romney 46%. Obama já arrecada mais que Romney. O presidente claramente conseguiu usar a convenção como trampolim para a reta final. A convenção Democrata foi mais estratégica e mais eficiente. Contou com a presença do político vivo mais popular do país, o ex-presidente Bill Clinton, que apresentou Obama como candidato do partido à reeleição. Coube a Clinton comparar os governos republicanos, particularmente da gestão de Bush, e os democratas, com ênfase, claro, na gestão Obama. Ele tratou da “herança maldita” da era Bush e do trabalho que Obama teve para repor o país nos trilhos. Obama pôde, dessa forma, falar do futuro e do que havia feito.
Esta eleição é crítica para a política sobre mudança climática no EUA e no mundo. A diferença entre os dois candidatos é total. O programa do partido Republicano fala uma vez em mudança climática. O programa Democrata menciona mudança climática 18 vezes. Em declarações escritas para o Sciencedebate.com, Obama disse que considera a mudança climática “um dos maiores temas desta geração”. E afirmou que continuará “os esforços para reduzir nossa dependência ao petróleo e reduzir nossas emissões de gases estufa construindo em simultâneo uma economia feita para durar”. Na convenção, Obama disse que “sim, meu plano continuará a reduzir a poluição do carbono que está esquentando nosso planeta, porque a mudança climática não é uma farsa. Mais secas, enchentes e queimadas não são uma piada. São uma ameaça ao futuro de nossas crianças.” Respondia a Romney que ironizou suas declarações sobre a importância da política sobre mudança climática.
Romney, em sua declaração escrita disse que “eu não sou um cientista, mas minha avaliação dos dados é que o mundo está ficando mais quente, que a atividade humana contribui para este aquecimento e que os formuladores de políticas públicas devem considerar o risco de consequências negativas”. Mas o republicano esqueceu rápido o que havia escrito e, na convenção de seu partido, disse que o “Presidente Obama prometeu começar a reduzir a elevação das águas dos oceanos e curar o planeta. Minha promessa é ajudar você e sua família.” Criticou o “custo enorme para a economia do EUA” das políticas de Obama para reduzir as emissões de gases estufa.
A declaração por escrito de Romney para as sociedades científicas, um público notoriamente minoritário, não bate com seu discurso em campanha, quando ele diz o que verdadeiramente pensa: “nós não sabemos o que está causando a mudança climática neste planeta. E a ideia de gastar trilhões e trilhões de dólares para reduzir as emissões de CO2 não é o rumo certo para nós.” Ou, então: “persiste a falta de consenso científico neste tema – a extensão do aquecimento, a extensão da contribuição humana e a severidade do risco – e eu acredito que nós devemos apoiar a continuação do debate e da pesquisa dentro da comunidade científica.”
A eleição é crítica, também, em temas relativos aos direitos humanos e à paz. Obama é sutilmente “pro-choice” (a favor do direito das mulheres de escolherem livremente fazer ou não o aborto). Tem resistido a uma intervenção militar direta na Síria, mas ajuda discretamente a armar a oposição a Bashar al-Assad. Não quer ir além de sanções econômicas progressivas ao Irã. Só recorreria à ação armada se o Irã começasse a construir um estoque de armas nucleares. Com a Rússia, que Romney chamou de “nosso inimigo geopolítico número um”, Obama pretende um novo tratado de redução dos armamentos nucleares. O que ele chama de “Tratado para o Novo Começo”. Obama vai tentar novamente intermediar uma solução negociada para o conflito Israel-Palestina que dê viabilidade a um estado palestino sem ameaçar a integridade de Israel. O maior problema é que as relações entre ele e Benjamin Netanyahu são muito ruins.
Romney é claramente contra qualquer liberdade de escolha no tema do aborto, “pro-life” como os contrários ao aborto denominam sua posição. Quer intervenção direta na Síria e considera o Irã uma ameaça existencial a Israel. Defende intervenção militar no Irã se ele se recusar a abandonar seu programa nuclear, independentemente de iniciar ou não a fabricação de armas nucleares. Com relação à Rússia, sua proposta é investir em mais mísseis com ogivas nucleares. Neste ponto a escolha posta aos eleitores do EUA é clara: de um lado, menos armas nucleares, de outro, mais armas nucleares. De um lado, negociação, de outro dissuasão militar. Romney é contra o estado palestino e só acredita na “paz armada” na região.
A política no EUA se polarizou radicalmente. As escolhas passaram a ser extremas. Há muito em jogo para o país e para o mundo nestas eleições. O aumento das chances de vitória de Obama representa um alento à causa do combate à mudança climática e à redução da tensão nas relações internacionais. O partido Republicano moveu-se para a extrema direita. Mais uma derrota, pode levá-lo a se mover mais para o centro, isolando o Tea Party, que reúne a direita radical e adquiriu muita força nas bases militantes do partido desde o 11 de setembro.
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EUA: eleição com escolhas polares sobre clima e paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU