07 Março 2012
Uma nova personagem entra em cena no processo que investiga o sumiço de R$ 2,5 milhões da Arquidiocese da Igreja Católica de Porto Alegre. Uma mulher, dizendo-se funcionária do governo português, filha de um ex-diretor do Serviço Secreto e Portugal, escreveu uma carta à Justiça gaúcha afirmando ter pego o dinheiro e estar disposta a devolvê-lo para inocentar o ex-vice-cônsul Adelino Vera Cruz Pinto.
A reportagem é de José Luís Costa e publicada pelo jornal Zero Hora, 07-03-2012.
O dinheiro desapareceu em dezembro de 2010, ao ser depositado na conta de Pinto, com objetivo de viabilizar uma suposta doação de recursos do governo luso para reformar paróquias no Rio Grande do Sul. O sumiço dos R$ 2,5 milhões resultou em acusação de estelionato contra Pinto e uma ordem de prisão preventiva que o transformou em foragido internacional.
A carta, um manuscrito de pouco mais de uma página, é acompanhada de uma certidão de reconhecimento de assinatura em cartório e de cópia de uma carteira de identidade. A mulher se apresenta como Teresa Maria Ferreira de Almeida Monteiro. Seria uma ex-namorada de Pinto, uma angolana de 52 anos, com cidadania portuguesa, moradora da região metropolitana de Lisboa, servidora do Ministério da Administração Interna.
Pelos documentos apresentados, ela é filha de Ramiro Ladeiro Monteiro, fundador e primeiro diretor do Serviço Secreto de Portugal, morto em 2010.
A mulher declara ter recebido “todo o dinheiro” repassado ao ex-vice-cônsul em parceria com Teresa Falcão e Cunha – suposta diretora de uma ONG que intermediaria a doação de Portugal para a Igreja. As duas seriam amigas.
O documento afirma que Pinto foi vítima de uma “situação criada” pelas duas mulheres, pois ele teria agido de boa-fé no caso. Por fim, Teresa afirma ter interesse em ressarcir a Arquidiocese em duas parcelas – em 30 de junho e 30 de dezembro de 2012.
Para o advogado César Peres, defensor de Pinto, a carta se configura em um fato novo a ser apurado pela Justiça, o que deve gerar um processo contra a mulher.
– É uma declaração importante, pois é uma prova da inocência do meu cliente – assegurou Peres.
Promotor diz que provas terão de ser apresentadas
Por telefone, dizendo estar em Lisboa, Pinto falou com Zero Hora ontem pela manhã. Ele afirmou que “tudo será esclarecido”. Sem emprego, ele disse estar sofrendo muito e vivendo da ajuda de alguns amigos diplomatas.
– É uma situação difícil. Fui tão enganado como os padres – garantiu o ex-vice-cônsul.
Para o promotor Fabiano Dallazen, é preciso avaliar a veracidade do documento. Ele diz que a mulher terá de ser interrogada e pode ser denunciada por estelionato.
– Se for isso, ela terá de apresentar provas de que pegou o dinheiro e dizer onde está. E isso não excluiu o Adelino (Pinto) porque o dinheiro foi depositado na conta dele – diz Dallazen.
Entenda o caso
- Em dezembro de 2010, sob a promessa de obter verba do governo de Portugal para reformas de paróquias, o então vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, Adelino Vera Cruz Pinto, convenceu a Arquidiocese da Igreja Católica da Capital a depositar R$ 2,5 milhões na conta bancária dele a título de contrapartida.
- A doação portuguesa seria por intermédio de uma ONG dirigida por Teresa Falcão e Cunha. O doação portuguesa nunca apareceu, a mulher e a ONG não foram localizadas. Pinto se tornou suspeito de desviar os R$ 2,5 milhões da Arquidiocese.
- Em março, a Polícia Civil foi procurada, e Pinto viajou para Portugal. Em agosto, foi indiciado pelo golpe. No inquérito, foi decretada a prisão preventiva do ex-vice-cônsul com validade no Brasil. Em setembro, o MP denunciou Pinto à Justiça, e ele virou réu, acusado de estelionato.
- Foi expedida uma nova ordem de prisão preventiva, e a Interpol (Polícia Internacional), comunicada. O nome e a fotografia de Adelino Pinto passaram a figurar na Difusão Vermelha, lista divulgada em site, como foragido.
“Gastamos o dinheiro em cassinos”
Localizada por telefone na praia da Costa da Caparica, em Portugal, a mulher que se diz servidora licenciada do Ministério da Administração Interna de Portugal afirma que foi namorada do ex-vice-cônsul e está disposta a devolver a parte do dinheiro que teria pego da Igreja Católica.
Eis a entrevista.
Em que foi usado o dinheiro?
Gastamos o dinheiro em cassinos de Portugal e da Espanha, em hotéis e em SPAs.
Quanto?
Uns 600 mil euros (equivalente a R$ 1,4 milhão)
Gastou em companhia da Teresa Falcão e Cunha?
Sim. Ela é viciada em jogo. O dinheiro foi repassado pelo doutor Adelino (Pinto) a ela na boa-fé e, após esse problema, ela sumiu.
Mas ela existe? Nunca foi localizada?
Existe sim. Eu apresentei ela ao Adelino (Pinto).
A senhora foi namorada de Pinto?
Sim. Antes de ele ir para o Brasil, e continuamos amigos.
A senhora tem como devolver o dinheiro que foi desviado da Igreja?
Quero devolver a metade. Não foi eu quem gastou tudo. Posso fazer um empréstimo. Sou funcionária pública. Atualmente, estou em baixa (licença médica) por causa da depressão pela morte do meu pai e por esse problema.
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Golpe contra a Arquidiocese de Porto Alegre. Mulher diz ter pego R$ 2,5 milhões - Instituto Humanitas Unisinos - IHU