16 Janeiro 2012
A partir de janeiro, na versão impressa da revista Popoli, inicia uma nova editoria, Inter@gire, dedicada às conexões entre novas tecnologias e o Sul do mundo. Eis aqui o primeiro "capítulo".
A reportagem é de Ugo Guidolin, publicada na revista dos jesuítas italianos, Popoli, 10-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O ano de 2011 será lembrado sobretudo pelo protesto popular sem precedentes que, no Norte da África, catalizou a atenção do mundo inteiro sobre uma demanda de maior liberdade, dignidade, democracia e oportunidade econômica. Um vento de novidade, o da "primavera árabe", que não caracterizou apenas as praças físicas, mas também as virtuais da rede, através das quais o mundo pôde reunir informações e imagens do que realmente estava acontecendo através dos testemunhos diretos de quem convocava os seus concidadãos à união, postava nos blogs ou inseria mensagens no Twitter.
Talvez, possa parecer excessivo considerar a blogosfera e as redes sociais como um dos principais motores do novo vento de renovação que sopra no Norte da África, mas não é se pensarmos que, em todo o continente, em poucos anos, houve uma veloz e extraordinária evolução dos sistemas de informação digitais.
A África se conectou à Internet no ano 2000, com a instalação da primeira coluna dorsal de fibra óptica, mas ainda em 2009 foram instaladas outras duas, permitindo uma transmissão de dados total de 2.580 Gb por segundo. Até 2012, depois apenas de três anos, os canais de transmissão digital na África serão nada menos do que 12 e alcançarão uma capacidade de transmissão total de 31.640 Gb/s.
Esse aumento de conectividade favoreceu a imediata difusão das mídias sociais: em 2010, o continente africano foi o que teve as maiores taxas de crescimento no Facebook, superiores até às asiáticas. Em países como a República Democrática do Congo e a Angola, o aumento percentual de cadastros no Facebook nos últimos seis meses foi até superior a 50%. Em Dakar, hoje, mais de um terço da população tem um perfil no Facebook.
Com a expansão do sistema de informação, a gama de opções e de oportunidades disponíveis para os africanos também se ampliou, ampliando, por tabela, as expectativas: da capacidade dos agricultores para encontrar mercados alternativos para as suas culturas, à das organizações civis para fiscalizar a correção e transparência das eleições, passando pela dos cidadãos que enviam mensagens em rede às rádios (atualmente, o meio de comunicação mais utilizado na África) para obter respostas dos seus representantes políticos.
Em março de 2011, por exemplo, em Uganda, os eleitores puderam enviar algumas perguntas através do Facebook durante um dos debates finais entre os candidatos a prefeito de Kampala. Por outro lado, ainda em Uganda, um mês antes, estourou um protesto quando se descobriu que o governo tinha bloqueado todas as mensagens de SMS que faziam referência aos protestos em curso na Tunísia e no Egito durante o período eleitoral, fato que custou muito em termos de credibilidade ao regime de Museveni.
A expansão em mais canais das redes digitais na África também está redefinindo, portanto, as modalidades pelas quais os cidadãos se organizam e promovem as suas ações, começando pelo protesto generalizado que levou às ruas milhares de manifestantes em Moçambique em setembro de 2010, que eclodiu depois da circulação viral de uma infinidade de mensagens de SMS que criticavam os excessivos aumentos de preços do pão, da luz e da água decididos pelo governo.
Apesar desses progressos, muitos obstáculos normativos ainda inibem o impacto das novas mídias e das tecnologias digitais na África. No entanto, o rápido crescimento do rádio, dos celulares e da Internet é mais uma prova do desejo generalizado entre os africanos de ter um acesso mais diversificado às mídias independentes. A penetração e a diversidade dessas tecnologias e a importância que têm para grandes faixas de africanos torna o seu crescimento hoje quase impossível de reverter ou de controlar.
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Na África, a primavera é digital - Instituto Humanitas Unisinos - IHU