"A Árvore da Vida" retoma o mito de Terrence Malick

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22 Agosto 2011

Quando Terrence Malick entregou seu filme de fim de curso ao American Film Institute de Los Angeles, estipulou que ninguém poderia copiá-lo ou mesmo consultá-lo fora da instituição. E assim o curta-metragem "Lanton Mills" (1969), sobre dois cowboys do século XIX que descem de seus cavalos para assaltar um banco da California do século XX tornou-se a primeira peça do quebra-cabeças da mítica criada em torno do diretor bissexto, que fez apenas cinco filmes em quatro décadas – duas delas separam o segundo, "Cinzas do Paraíso" (1978), do terceiro, "Além da Linha Vermelha" (1998).

A reportagem é de Carlos Helí de Almeida e publicada pelo jornal Valor, 02-08-2011.

O quinto, intitulado "A Árvore da Vida", foi recebido com ansiedade na competição do 64ª Festival de Cannes, em maio passado, por um circo midiático que insiste em alimentar o enigma de um realizador recluso, que estipula por contrato não participação na promoção de seus filmes. Jornalistas do mundo inteiro foram recebidos por quatro produtores do longa-metragem e três de seus atores – o mais proeminente deles, o galã Brad Pitt, acumula aqui o papel de produtor associado.

Mesmo ausente, Malick virou o tema dominante do encontro, fazendo de  "A  Árvore da Vida" e suas ambições cinematográficas meros coadjuvantes. A produtora Sarah Green, por trás do longa anterior ("O Novo Mundo," de 1995) e do próximo de Malick (ainda sem título, com previsão de estreia para 2012), mais uma vez reforçou a lenda: " Terry [Malick] é um sujeito muito tímido" defendeu Sarah. " Ele prefere que os filmes falem por si mesmos, não gosta de ficar explicando detalhes sobre eles ou justificando suas escolhas como diretor", emendou o também produtor Grant Hill.

A mitologia em torno de Malick é até compreensível. Avesso à imprensa, o diretor deu sua última entrevista ainda nos anos 70. O que se sabe sobre seus hábitos, comportamento e métodos de trabalho são oferecido por aqueles que trabalharam com ele. "Terry me entrega algumas páginas de roteiro maravilhoso, mas reclamo que são seis páginas para decorar e ele sugere que eu faça um corte. Mostro o resultado para Terry e diz que ainda está muito longo, e nós acabamos ficando com apenas uma ou duas linhas de um texto que originalmente tinha seis páginas!", contou o ator Nick Nolte durante o lançamento de "Além da Linha Vermelha" (1998), no Festival de Berlim.

Malick parece não ter feito grandes alterações no seu sistema de trabalho. Houve muita improvisação no set de "A Árvore da Vida", espécie de ensaio poético e filosófico sobre as forças que regem a vida a partir do impacto da morte de um dos três filhos de um casal, nos anos 50. "Terry alugou um quarteirão inteiro de um bairro de uma cidade do Texas, vestiu o elenco com roupas dos anos 50 e nos deixou caminhar pelas ruas da área como se estivéssemos naquela época", comentou Brad Pitt em Cannes. "Terry é um diretor mais interessado no que pode acontecer espontaneamente durante um dia de filmagem do que no que está determinado no texto".

Assim como nos filmes anteriores do realizador, os personagens de "A Árvore da Vida" revelam-se mais como poetas ou filósofos do que meros personagens de um drama familiar qualquer. O tom evangelizador do filme levantou suspeitas de que Malick estaria confessando suas inclinações religiosas. "Acho que Terry está mais inclinado à questões espirituais do que propriamente a algum compartimento do cristianismo", observou Pitt, que funcionou como um dos produtores do filme. "É uma história que alude a temas de religiões e filosofias de todas as ordens, o que é uma marca dos filmes dele", analisou Sarah.

Coprotagonista (com Sissy Spacek) de "Terra de Ninguém" (1973), o primeiro longa-metragem de Malick, o ator Martin Sheen guarda o melhor testemunho da espiritualidade do diretor ermitão. Foi Malick que convenceu Sheen, já em seus 40 anos, a se converter novamente ao catolicismo, religião que havia abandonado aos 21 anos de idade. "Era 1981, eu estava em Paris rodando um filme chamado `Enigma`, e um dia encontrei o Terry na rua. Não o via há anos. Ele tinha parado de fazer filmes porque estava se sentindo corrompido por Hollywood, tinha deixado Los Angeles e se mudado para a Europa, onde estava dando aulas", recordou Sheen durante o Festival de Marrakech de 2008.

"Naquela época, eu estava atravessando um momento muito ruim da minha vida, e foi ele que me encorajou a voltar à religião, clareou minha cabeça", contou Sheen. "Terry explicou que as sementes do futuro estavam plantadas no meu passado e que, para descobrir o que eu era, seria necessário voltar atrás". Talvez esta aí uma das chaves para a compreensão de "A Árvore da Vida": a tragédia familiar ocorrida nos anos 50 é revivido pelo filho mais velho do casal, já adulto, nos dias de hoje, em personagem interpretado por Sean Penn.

 

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