Teóloga dos EUA defende seu livro contra acusações do Vaticano

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08 Junho 2011

Elizabeth Johnson, professora de Teologia da Fordham University, em Nova York, em uma carta do dia 1º de junho à Comissão de Doutrina da Conferência dos Bispos dos EUA, defendeu vigorosamente a ortodoxia do seu livro de 2007, Quest for the Living God: Mapping Frontiers in the Theology of God, dizendo que a comissão não compreendeu, distorceu e interpretou completamente mal o seu livro.

A reportagem é de Thomas C. Fox, publicada no sítio National Catholic Reporter, 06-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto e revisada pela IHU On-Line.

A Comissão de Doutrina, no final de março, depois de ter estudado o livro durante um ano, concluiu que ele "não está de acordo com o autêntico ensinamento católico sobre pontos essenciais" e "mina completamente o Evangelho e a fé daqueles que creem no Evangelho".

Johnson, irmã de São José, aceitando uma oferta da Comissão de Doutrina para iniciar um diálogo centrado no livro, enviou à comissão uma carta de 38 páginas, contrariando a crítica. A comissão de nove bispos é chefiada pelo cardeal Donald Wuerl, de Washington.

O NCR recebeu uma cópia da carta de Johnson de uma pessoa não relacionada com a Fordham University.

Johnson escreveu que, no início da crítica, a comissão havia feito "diversos movimentos errados", que prejudicavam a precisão do seu julgamento, por:

  • Decidir que o livro não partiu da fé da Igreja;
  • Interpretar sua crítica à posição teológica conhecida como teísmo moderno como uma crítica à fé da Igreja; e por
  • Desconstruir sua posição sobre a linguagem religiosa como algo que leva ao ceticismo kantiano.

"Dados esses equívocos iniciais, o que se segue quase obrigatoriamente errou o alvo. As ideias são tiradas do contexto e distorcidas para significar o que elas evidentemente não significam. As frases são levadas a uma conclusão distante do que eu penso ou do que o texto diz. Falsos dilemas são compostos. Inúmeras omissões, distorções e falsificações completas permeiam a leitura. Como uma obra de teologia, Quest for the Living God foi completamente incompreendido e consistentemente deturpado na declaração da comissão. Como resultado, o julgamento da declaração de que Quest não é coerente com o ensino católico é menos do que convincente. Ele fica suspenso no ar, sem amarrações com o texto do próprio livro".

Além de uma "má interpretação" do conteúdo de seu livro, Johnson criticou o processo da comissão.

"Para usar uma metáfora judicial: o fato de que Quest for the Living God tenha recebido acusações de uma pessoa ou de pessoas desconhecidas, tenha sido colocado em julgamento de um ano e considerado culpado antes mesmo que eu fosse informada aumenta o aspecto problemático da aparência da declaração. Na minha opinião, teria sido melhor ter esse diálogo antes da divulgação da declaração. Então, se a Comissão de Doutrina ainda quisesse fazer uma declaração, ela estaria baseada, no mínimo, em uma leitura acurada do que o livro realmente diz".

"A simples cortesia humana indicaria que levantar uma tal crítica pública sem aviso não é uma forma generosa nem respeitosa para tratar um adulto. Se não fosse pela graciosidade do arcebispo Timothy Dolan, meu bispo local, eu ficaria sabendo sobre a declaração na internet ou no jornal. Não é nenhuma depreciação à comissão episcopal sugerir que ela poderia ter recebido menos críticas de estudiosos e do público leitor se tivesse seguido um procedimento mais dialógico. Além disso, em uma carta ao corpo docente da Fordham University citada na imprensa, Thomas Weinandy, OFM Cap, secretário executivo da Comissão de Doutrina, escreveu que a crítica do livro `de forma alguma pôs em questão a dedicação, a honra, a criatividade ou o serviço de sua autora`. É interessante saber disso, porque o tom áspero, as palavras depreciativas, a ridicularização e a retórica do medo da declaração certamente criaram essa impressão em minha própria mente e na visão do público em geral".

Ela admitiu ter curiosidade sobre o processo seguido pela comissão para chegar à declaração.

"Cada um dos nove bispo membros ou seus teólogos leu o livro e elaborou notas? Discutiram os pontos a serem feitos e debateram seus prós e contras? Será que eles votaram sobre o documento final? Pergunto isso por causa do meu trabalho na faculdade e das comissões profissionais, em que as distorções factuais são postas em questão e as posições mudam assim que as pessoas ouvem os argumentos uns dos outros. As inúmeras interpretações errôneas de Quest sinalizadas nestas observações fazem-me indagar se a comissão não poderia ter encontrado uma forma mais satisfatória de proceder para assegurar resultados mais acurados".

Johnson é professora de teologia sistemática da universidade jesuíta Fordham. É ex-presidente da Sociedade Teológica Católica da América e um dos seus membros mais conhecidos.

A crítica dos bispos, em março, incomodou um grande número de estudiosos católicos e desencadeou defesas às obras de Johnson. Entre os grupos que responderam, estão os conselhos da Sociedade Teológica Católica da América e do College Theology Society. Ambas as organizações emitiram declarações criticando o trabalho da comissão de doutrina dos bispos.

O corpo docente da Fordham ficou igualmente indignado. Uma declaração do dia 19 de abril, assinada por 180 docentes, defendeu Johnson como "um membro estimado e querido da comunidade Fordham por mais de duas décadas".

Eles enviaram uma carta à comissão para transmitir seu "apoio incondicional" a Johnson, dizendo estarem "consternados" com a ação da comissão. Eles pediram que a Conferência Episcopal desse "passos para retificar a falta de respeito e de consideração" manifestada a uma estudiosa católica "que dedicou uma vida de serviço honrado, criativo e generoso à Igreja, à academia e ao mundo".

Em resposta a essas duras críticas, o frei capuchinho Thomas G. Weinandy, diretor-executivo da comissão de doutrina, enviou uma carta no dia 28 de abril ao Departamento de Teologia da Fordham. Ele disse que a comissão de doutrina "leva a sério as suas preocupações".

A carta assegurava à faculdade que a comissão nunca pretendeu manchar a reputação de Johnson ou impugnar sua honra ou sua dedicação à Igreja.

Weinandy afirmou que a comissão de doutrina "de forma alguma pôs em causa a dedicação, a honra, a criatividade ou o serviço" de Johnson.

Ele continuava dizendo que a comissão havia escrito a Johnson, reiterando sua vontade de entrar em diálogo com ela. Ele disse que a comissão receberia ""quaisquer observações por escrito sobre o conteúdo da declaração da comissão que ela deseje oferecer".

Leia aqui a íntegra da carta de Johnson, em inglês.

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