05 Mai 2011
O acesso mais amplo dos jovens à educação está mudando o perfil dos trabalhadores domésticos, e no longo prazo pode provocar um “apagão” que, por outro lado, levará a uma valorização da categoria. De acordo com o estudo “Situação atual das trabalhadoras domésticas no país”, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a média de idade das domésticas está aumentando, e a participação das jovens no total de trabalhadoras está cada vez menor.
A reportagem é de João Pedro Schonarth e publicado pelo jornal Gazeta do Povo, 06-05-2011.
Com mais escolaridade, as jovens perdem o interesse pelo trabalho como domésticas. Assim, quando as gerações atuais de trabalhadoras se aposentarem, haverá bem menos profissionais no mercado. “É possível pensar que, dado o processo de envelhecimento populacional e o surgimento de novas possibilidades ocupacionais para jovens trabalhadoras, o trabalho doméstico, da forma como conhecemos hoje, tende a reduzir-se drasticamente”, avalia o estudo.
Natalia Fontoura, pesquisadora do Ipea e uma das autoras do documento, acredita em uma melhora na qualidade de vida dessas trabalhadoras: quando o mercado não tiver tantas profissionais à disposição, o empregador precisará pagar mais. “Hoje elas ganham pouco e são discriminadas, mas no futuro a situação pode mudar. Como as jovens não tendem a entrar neste trabalho porque podem optar por melhores condições, a tendência é que elas possam ser mais valorizadas, tanto financeiramente quanto profissionalmente”, estima Natalia.
Mas, para o presidente do Instituto Doméstica Legal, Mario Avelino, as políticas públicas adotadas pelo Estado não dão condições para uma maior formalização e, por consequência, um aumento da renda e da qualidade de vida das trabalhadoras. “O governo é míope em relação a essas trabalhadoras, são necessárias políticas públicas urgentes para que haja um movimento de regularização. Essas profissionais são discriminadas pelo próprio governo, que estimula a ilegalidade”, critica Avelino. Ele considera que, como a oferta dessas profissionais tem diminuído e a demanda aumentado, a tendência é de que elas passem a receber por hora de trabalho. “Isso é o que já acontece em países desenvolvidos”, salienta.
Uma das medidas do governo para aumentar a formalização, a medida que permite ao empregador descontar na declaração do Imposto de Renda os gastos com contribuições à Previdência Social, não atingiu o objetivo desejado. Segundo o Ipea, a quantidade de domésticos que recolhiam para o INSS manteve a mesma trajetória de crescimento entre 1999 e 2009, saindo de 25,9% para 30,1%.
Educação
As trabalhadoras domésticas brasileiras também estão estudando mais, de acordo com o estudo. Entre 1999 e 2009 elas aumentaram o tempo na escola, que passou de 4,7 anos para 6,1 anos. Entretanto, esse número é muito menor que a escolaridade média das brasileiras ocupadas que não são domésticas. Antônia Rosa Silva Santos é um exemplo desse novo perfil de trabalhadora doméstica. Aos 59 anos, ela voltou a estudar e está cursando a quarta série. Ela saiu de Cianorte, no Noroeste do Paraná, com destino a Curitiba há 13 anos.
Desde então não teve nenhuma renda fixa, vivendo de pequenos serviços feitos na casa de vizinhos. “Eu trabalhava na roça e meu marido decidiu vir para Curitiba. Viemos, mas depois ele me deixou. Eu tive de cuidar dos meus cinco filhos com essas faxinas e com a ajuda de vizinhos. Eu comecei a estudar porque não tive condições quando era nova. Não sabia ler e agora posso pegar ônibus e contar dinheiro, coisas que não fazia antes”, comemora. “Nem penso em parar de estudar”, acrescenta Antônia, que agora dá exemplo aos filhos, fora da escola.
A reportagem é de João Pedro Schonarth e publicado pelo jornal Gazeta do Povo, 06-05-2011.
Com mais escolaridade, as jovens perdem o interesse pelo trabalho como domésticas. Assim, quando as gerações atuais de trabalhadoras se aposentarem, haverá bem menos profissionais no mercado. “É possível pensar que, dado o processo de envelhecimento populacional e o surgimento de novas possibilidades ocupacionais para jovens trabalhadoras, o trabalho doméstico, da forma como conhecemos hoje, tende a reduzir-se drasticamente”, avalia o estudo.
Natalia Fontoura, pesquisadora do Ipea e uma das autoras do documento, acredita em uma melhora na qualidade de vida dessas trabalhadoras: quando o mercado não tiver tantas profissionais à disposição, o empregador precisará pagar mais. “Hoje elas ganham pouco e são discriminadas, mas no futuro a situação pode mudar. Como as jovens não tendem a entrar neste trabalho porque podem optar por melhores condições, a tendência é que elas possam ser mais valorizadas, tanto financeiramente quanto profissionalmente”, estima Natalia.
Mas, para o presidente do Instituto Doméstica Legal, Mario Avelino, as políticas públicas adotadas pelo Estado não dão condições para uma maior formalização e, por consequência, um aumento da renda e da qualidade de vida das trabalhadoras. “O governo é míope em relação a essas trabalhadoras, são necessárias políticas públicas urgentes para que haja um movimento de regularização. Essas profissionais são discriminadas pelo próprio governo, que estimula a ilegalidade”, critica Avelino. Ele considera que, como a oferta dessas profissionais tem diminuído e a demanda aumentado, a tendência é de que elas passem a receber por hora de trabalho. “Isso é o que já acontece em países desenvolvidos”, salienta.
Uma das medidas do governo para aumentar a formalização, a medida que permite ao empregador descontar na declaração do Imposto de Renda os gastos com contribuições à Previdência Social, não atingiu o objetivo desejado. Segundo o Ipea, a quantidade de domésticos que recolhiam para o INSS manteve a mesma trajetória de crescimento entre 1999 e 2009, saindo de 25,9% para 30,1%.
Educação
As trabalhadoras domésticas brasileiras também estão estudando mais, de acordo com o estudo. Entre 1999 e 2009 elas aumentaram o tempo na escola, que passou de 4,7 anos para 6,1 anos. Entretanto, esse número é muito menor que a escolaridade média das brasileiras ocupadas que não são domésticas. Antônia Rosa Silva Santos é um exemplo desse novo perfil de trabalhadora doméstica. Aos 59 anos, ela voltou a estudar e está cursando a quarta série. Ela saiu de Cianorte, no Noroeste do Paraná, com destino a Curitiba há 13 anos.
Desde então não teve nenhuma renda fixa, vivendo de pequenos serviços feitos na casa de vizinhos. “Eu trabalhava na roça e meu marido decidiu vir para Curitiba. Viemos, mas depois ele me deixou. Eu tive de cuidar dos meus cinco filhos com essas faxinas e com a ajuda de vizinhos. Eu comecei a estudar porque não tive condições quando era nova. Não sabia ler e agora posso pegar ônibus e contar dinheiro, coisas que não fazia antes”, comemora. “Nem penso em parar de estudar”, acrescenta Antônia, que agora dá exemplo aos filhos, fora da escola.
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Emprego doméstico. Categoria encolheu em algumas décadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU