Ratzinger e Martini: encontro privado sobre o futuro da Igreja de Milão ou também a do mundo?

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10 Abril 2011

Essa é a história de como um líder da Igreja de 84 anos, muito lúcido de mente mas fatigado pelo Parkinson, quase incapaz de se manter de pé sem ajuda e privado da palavra, isto é, do seu carisma, deixou a sua cela no Aloysianum, a casa dos jesuítas em Gallarate, Itália, para se dirigir a Roma e se encontrar com o Papa Ratzinger, que desejava vê-lo.

A reportagem é de Giancarlo Zizola, publicada no jornal La Repubblica, 10-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Era quase meio-dia em uma esplêndida manhã primaveril quando o ex-arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini entrou, neste sábado, em cadeira de rodas, no escritório de Bento XVI no Vaticano.

Muitas coisas pareciam desfavoráveis a essa audiência, do estado de saúde do cardeal à desconfiança do "entourage" pontifício, para o qual Martini continuou representando um espinho nas costas, especialmente pela sua proposta de convocar um novo Concílio.

Considera-se que, se apesar de tudo isso, o encontro "impossível" ocorreu, isso dependeu da soma de três fatores: o Papa o queria, para além dos impedimentos curiais; a urgência de algumas decisões o exigia (dentre as quais a escolha do novo arcebispo de Milão), as condições críticas do cardeal, ao qual Ratzinger está ligado pela amizade, o mereciam.

"Primeiro aprendemos, depois ensinamos, depois nos retiramos e aprendemos a calar. Na quarta fase, o homem aprende a mendigar". Fiel ao provérbio indiano, Martini não imaginava que, na idade da "mendicidade também física", um Papa fosse mendigar a ele, mesmo sabendo como a patologia de Martini poderia inibir a comunicação oral, embora nos últimos dias um retorno das forças lhe permitisse por alguns momentos formular algumas palavras, talvez com a ajuda do computador e as traduções labiais de um padre, seu terapista.

Em todo caso, essa viagem à porta de Pedro assume para Martini valor de legado, por uma vida gasta a serviço da Igreja. A atenção dos observadores foi atraída fatalmente pela questão da sucessão do cardeal Tettamanzi na mais forte diocese europeia. Uma lista de três candidatos foi formada graças à consulta por parte do núncio, Dom Giuseppe Bertello, que a ampliou também ao laicato católico de Milão.

Os nomes mais insistidos são Luciano Monari, bispo de Bréscia, Gianni Ambrosio, de Piacenza, Bruno Forte, arcebispo de Chieti, para o qual também atua a estima pessoal de Ratzinger, enquanto as candidaturas mais midiatizadas dos cardeais Ravasi e Scola não responderiam ao critério, recomendado pelo Papa, de uma idade tal que permita pelo menos dez anos de governo antes da renúncia aos 75 anos, por contarem respectivamente com 69 e 70 anos.

Esse foi um problema que tornou pertinente a consulta com o ex-pastor de Milão. Mas talvez não foi o único. Existem também os sinais de uma crise fatal da Igreja, que, na Itália, não parece conseguir se desvincular da espiral do berlusconismo.

Desde os anos 1980, Martini havia contraposto às estratégias de um catolicismo triunfante e massivo um modelo de cristianismo espiritualmente renovado e reformador. Ele não foi ouvido por Wojtyla: Ratzinger o ouvirá? Martini recém acabou de escrever no computador um livro sobre os problemas pastorais que assolam os bispos. Pode-se supor que Martini também tivesse algum motivo para bater na porta e na consciência do Papa, antes da publicação do volume.

Audiências privadas como essas não são só ricas de "pathos" e de expectativas. Denunciam também o vazio, na cúpula do sistema papal, de um órgão representativo dos bispos capaz de colaborar com o Papa no governo da Igreja universal.

 

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