Cientista cria modelo para o desenvolvimento sustentável da Amazônia

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30 Outubro 2019

Depois de três semanas envolvido com as questões da Amazônia, no Sínodo que terminou neste sábado (26), o papa Francisco fez no dia 27, na missa da Basílica de São Pedro, uma espécie de reprimenda a quem menospreza a cultura indígena. Chamou de “superioridade presumida” o fato de não se dar o devido valor a esses povos. E atribuiu aos saques que se fizeram nas terras indígenas o que está acontecendo agora na Floresta Amazônica. O documento final do Sínodo alerta ainda para os riscos da mineração e do desflorestamento.

A reportagem é de Amelia Gonzalez, publicada por G1, 28-10-2019. 

Há um pedido, feito pelos bispos que estiveram reunidos durante três semanas, de se classificar a degradação ambiental como um “pecado ecológico”. Desta forma, a Igreja será mais um poder a lutar pela mesma causa dos cientistas e dos ambientalistas. Que não se esqueçam de perceber que natureza e homem estão intrinsecamente ligados, e que não adianta preservar um sem considerar o outro.

Neste sentido, vejo com bons olhos quem apresenta soluções que consigam integrar o desenvolvimento que se quer, inclusivo, usando o potencial econômico da floresta em pé. Carlos Nobre, cientista e pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, que desde sempre acompanha o imbróglio entre preservação e progresso, debruçou-se sobre dados, relatórios, estudos, e criou o que chama de “terceira via para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”.

Há tempos, Carlos Nobre vem se ocupando e se preocupando com o fato de que os alertas feitos ao público em geral não está dando certo para criar uma consciência em torno da necessidade de se promover mudanças. Quando perguntadas, as pessoas se mostram preocupadas, sim, com o futuro da Amazônia. Mas apenas 10% delas se mostram dispostas a fazer alguma coisa para travar a degradação.

Interessados também em desvendar essa possibilidade, os empresários do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) convidaram algumas pessoas para ouvir as propostas sobre o projeto do cientista. O encontro foi na sexta-feira (25), eu estive lá e trago informações para os leitores.

O nome do projeto criado por Carlos Nobre é Amazônia 4.0, porque a ideia é realizar a 4ª Revolução Industrial para a região, que sofre sério risco de virar uma savana se a estação seca passar do período de quatro meses.

“O caminho é combinar o mundo dos ativos biológicos e biomiméticos (aprender como a natureza resolveu um problema) com tecnologias avançadas num círculo virtuoso”, disse Nobre, para uma plateia atenta.

Somos o país com a maior biodiversidade do mundo, e este é um potencial que pode ser aproveitado sem que seja preciso acabar com ele. E é preciso colher sementes em vez de derrubar árvores. Chama-se a isso de bioeconomia:

“Hoje, mais de 245 espécies da flora brasileira já são base de produtos cosméticos e farmacêuticos e ao menos 36 espécies botânicas nativas possuem registros de fitoterápicos. Cerca de 80 famílias e 469 espécies de plantas são cultivadas em sistemas agroflorestais. Nesse contexto de grande potencial econômico, o que falta é industrialização, mas dentro de um modelo descentralizado. A Amazônia Legal tem 4.438 localidades. E as tecnologias modernas permitem desenvolver modelos industriais descentralizados”, acredita Carlos Nobre.

O cientista tem números que podem ajudá-lo a propagar sua ideia sem muito esforço. Um deles é bastante emblemático: o mesmo valor econômico gerado pela mineração da empresa Vale no Pará, por exemplo, é o do sistema extrativista do açaí na mesma região. Isto se explica porque a Vale apenas extrai o recurso e o exporta, sem dar a ele valor agregado.

“Muito poucos países desenvolvidos não são industrializados. Podemos nos inspirar em modelos descentralizados, já que são 4.438 localidades na Amazônia Legal. Hoje é possível, com a tecnologia avançada, imaginar educação moderna chegando a esses lugares. A Telemedicina também já possibilita o atendimento de saúde descentralizado. São as modernas tecnologias da 4ª Revolução Industrial que podem tornar isto possível. E é possível desenvolver capacidades locais”, disse Carlos Nobre.

O projeto Amazônia 4.0 já está em andamento, com Laboratórios Criativos funcionando em tendas ou em plataformas flutuantes, de maneira experimental. E, para quem já está se perguntando se os povos indígenas – maior centro da preocupação do Papa Francisco – estão inseridos, vale dizer que o desenvolvimento de Capacitação Local é realizado em território Yanomâmi e voltado para a cadeia do cupuaçu e do cacau. Só no território Yanomâmi tem mais de 400 variedades de cacau, e esta é uma riqueza nacional.

“Há um terceiro projeto, que é o Genômica, voltado para o potencial de recursos genéticos. É um laboratório que tem um sequenciador portátil e faz registro de blockchain. Isso tem um enorme potencial econômico”, disse o cientista à plateia de empresários.

É claro que, sem apoio governamental, fica mais difícil. Todo esse projeto, já em andamento, depende de uma educação de qualidade para criar modelos de capacitação de desenvolvimento em negócios sustentáveis. Como não há, segundo informa o cientista, nenhum país tropical desenvolvido que explore adequadamente sua biodiversidade, eis aí a grande oportunidade de o Brasil se tornar um diferencial.

Mas é preciso começar a criar uma outra visão sobre o meio ambiente e, mais do que isso, não esperar que o governo faça tudo sozinho. As indústrias precisam entrar e avançar em pesquisa aplicada, lembrando que as empresas com histórico de investimento nessa área costumam ser a mais bem sucedidas.

Quem está chegando agora no mercado de trabalho, quem está nos bancos escolares, também precisa ajudar. É preciso um olhar cuidadoso, de preferência sem preconceitos mas com curiosidade e muita leitura, em busca de verdadeiras mudanças de paradigma. A natureza não é um ente à parte do humano, ela é um todo integrado. Vale a pena usar, portanto, a tecnologia, o saber avançado que o homem soube criar, para aprender a tirar dela nosso sustento e ajudá-la a se renovar. Ela tem esta capacidade.

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