Contra o clericalismo: repensar a diversidade dos ministérios

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03 Mai 2019

Um congresso na Faculdade Teológica de Estrasburgo permitiu abrir alguns caminhos para reequilibrar os poderes entre padres e leigos.

A reportagem é de Isabelle de Gaulmynin, publicada em La Croix, 29-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“O clericalismo, eis o inimigo!” Mantra dos republicanos anticlericais do fim do século XIX, a expressão curiosamente se tornou, no início deste século XXI, o slogan favorito dos católicos para designar o que não funciona na Igreja. Daí o interesse pelo congresso organizado no fim de abril pela Faculdade Teológica Católica de Estrasburgo, intitulado apropriadamente “A tentação do clericalismo”, que reuniu uma série de disciplinas para definir o clericalismo e começar a oferecer um início de resposta a esse problema.

Mas o que é o clericalismo? Os canonistas falam de um desequilíbrio na relação entre o padre e o leigo, de uma “visão elitista e exclusiva” da vocação do padre, para retomar a expressão do Papa Francisco, que vê nisso uma das causas da “cultura do abuso” que gangrenou as estruturas eclesiais.

Em uma época em que todas as instituições são objeto de uma grave crise de confiança, o risco seria ver surgir entre os católicos um “anticlericalismo interno”, que colocaria novamente em discussão toda forma de hierarquia, em uma espécie de “populismo de Igreja” que suprimiria os corpos intermediários.

A fala de historiadores como Nicole Lemaître foi, desse ponto de vista, reconfortante: permitiu constatar que o clericalismo atual é, acima de tudo, uma construção histórica, que se deve em grande parte ao Concílio de Trento. A partir do século XVII, operou-se uma “radicalização católica” que concentrou todas as funções sagradas no padre ordenado, começando pela Eucaristia e pela confissão.

O primeiro modo de lutar contra o clericalismo, sem dúvida, se encontra em um melhor conhecimento do direito canônico, cujo propósito é justamente o de punir os desvios. Como observou o canonista Alphonse Borras, “o primeiro reflexo do bispo é buscar um advogado da sociedade civil, esquecendo-se de se dirigir às suas próprias autoridades judiciais”. A ênfase posta na misericórdia fez com que se esquecesse aquilo que o direito canônico pode ter de punitivo. Também faltam os lugares de regulamentação nas estruturas eclesiais, que permitiriam assinalar as disfunções graves.

Outra pista, mais teológica, o aprendizado da liberdade espiritual e o justo exercício do seu “poder espiritual” pelos padres. Dom Eric de Moulins-Beaufort, arcebispo de Reims, desenvolveu uma reflexão sobre a figura do “pastor”. “Há um só pastor, é Cristo.” Ele repreendeu os padres que querem se pôr no lugar do Pastor. Isso requer também a vigilância das “ovelhas”, isto é, dos fiéis, que não devem permanecer em uma atitude submissa ou idólatra.

Mas, se a concepção atual do padre-clérigo se deve em grande parte à história, sem dúvida é possível repensar a sua definição. O canonista Thibault Joubert insiste na importância assumida pela figura do padre em detrimento da do bispo e dos outros ministérios que podem ser exercidos pelos leigos: “Tivemos uma teologia do sacramento da ordem centrada no sacerdócio. Hoje, existe uma tensão entre duas teologias do ministério: a primeira concentrada na figura sacerdotal do padre; a outra que parte de uma pluralidade orgânica dos ministérios sob a presidência do bispo”.

De qualquer modo, a concentração progressiva no padre das tarefas antigamente subdivididas em uma grande variedade de funções sagradas foi deletéria para a diversidade dos papéis no catolicismo. Um defeito de pluralismo que alimentou os abusos de poder que conhecemos.

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