16 Agosto 2017
Aquele que, até as 12h do dia 7 de julho, era apenas o vigário-geral da Igreja milanesa e depois foi escolhido pelo Papa Francisco para suceder o cardeal Angelo Scola como novo arcebispo de Milão é um daqueles “padres sem frescuras, pretensões e ambições particulares, homens capazes para estar entre as pessoas, perto das expectativas, sofrimentos e desejos de cada um. Sacerdotes à escuta do povo, porque eles mesmos são do povo”, como descreveu Paolo Rodari, vaticanista do La Repubblica, no primeiro – e até agora único – livro dedicado a Mario Delpini (Ed. Piemme, 168 páginas).
A reportagem é de Zita Dazzi, publicada por La Repubblica, 14-08-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
São páginas das quais saímos com uma ideia clara de como poderá ser o episcopado do novo arcebispo, que, em comparação com os seus ilustres antecessores, publicou pouco – um par de livros, um dos quais é de fábulas para crianças – antes da nomeação que o levará, no dia 24 de setembro, à cátedra de Santo Ambrósio.
Delpini é alguém que, como lembra Rodari, já na nomeação feita por Bergoglio, deixava claro, diante de blocos de anotações e câmeras ao vivo com o Vaticano, que era apenas “um medíocre empregado” e que sentia “principalmente a minha inadequação”.
Não era fácil, portanto, com essas premissas, conseguir reconstruir o pensamento de Delpini, indo encontrá-lo na miríade de homilias, orações, naqueles que o monsenhor chama de “pequenos pensamentos despretensiosos”, ou nos artigos escritos para o jornal Avvenire, além das suas longas poesias espirituais.
Rodari salienta que Delpini, assim como Francisco, na sua explícita simplicidade e franqueza, poderá surpreender. O ex-reitor do seminário superior de Venegono, pelo qual passaram todos os padres das 1.100 paróquias ambrosianas, é definido por Rodari como um “brilhante pregador”, um “atento leitor da realidade”, “um homem para quem a sobriedade é uma regra de vida, um verdadeiro padre ambrosiano, sensível, humilde e irônico”, alguém capaz de palavras “que ficam impressas, sempre voltadas a indicar a esperança contra a desilusão e os mitos dos nossos dias – do dinheiro fácil, das tantas drogas que anestesiam a consciência, do sucesso a todo o custo –, a defender uma seriedade talvez impopular diante das mentiras que nascem da arrogância, da opressão, de se crer superior aos outros”.
Certamente, explica o autor, Delpini é alguém que conhece muito bem a “máquina” da Igreja milanesa, os nomes de todos os sacerdotes (que o chamam de “você”), as ruas de uma cidade que ele percorre de bicicleta, com capacete e sinalizadores fluorescentes, determinado a não se mudar para o suntuoso palácio da Cúria Arquiepiscopal para não abandonar o anonimato pobre e simples da “Casa do Clero”, no bairro multiétnico de Porta Venezia.
Rodari também reencontrou uma reflexão de 2014 dedicada aos milaneses, a partir da qual se entende que Delpini está profundamente enraizado no coração da cidade: “Quero fazer o elogio do rosto da nossa gente. Certamente, poderiam sorrir um pouco mais, mas têm o rosto sério, como quem considera a vida como algo sério: levanta-se todas as manhãs, a nossa gente, e recomeça a fazer o mundo funcionar: não é de se admirar que sempre tem algo a fazer, a fazer às pressas, a fazer bem, a fazer aquilo que se deve fazer. Quero também fazer o elogio do mau humor da nossa gente. Eu conheço os defeitos e as feridas da cidade, sei dos dramas e das complicações, do esforço de viver e do consumo da esperança, da apreensão para a inédita e imensa solidão”.
Dos escritos do novo arcebispo, Rodari escolhe e extrai frases esclarecedoras sobre aqueles que serão os princípios-guia do seu episcopado, em que as igrejas deverão ter as “portas abertas”, “sem muros”, apontando para a “simplicidade”, “essencialidade”, “proximidade”, “vizinhança”, “cotidianidade”.
Tudo sem trair os valores fortes da acolhida e da solidariedade para com os pobres e também para com os muçulmanos, porque “os cristãos dispostos reagem ao medo com a inteligência, o realismo, o compromisso de gerar o futuro com a criatividade que constrói um país hospitaleiro em vez de uma terra assustada e resignada”.
E porque “quem confia em Deus vence o medo e renova a vida cristã, para que habite o nosso tempo como tempo de graça”.
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O arcebispo do povo, entre oração e bicicleta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU