Desertificação da Caatinga gera impactos socioeconômicos. Entrevista especial com Humberto Barbosa

Mais Lidos

  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS
  • Povos Indígenas em debate no IHU. Do extermínio à resistência!

    LER MAIS
  • “Quanto sangue palestino deve fluir para lavar a sua culpa pelo Holocausto?”, questiona Varoufakis

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

Por: Patricia Fachin | 10 Abril 2017

O desflorestamento, o uso intensivo de terras para a agricultura e a pecuária e a retirada de lenha para fins energéticos e de mineração estão entre os fatores que originaram o processo de desertificação na Caatinga, especialmente na região da Paraíba, a qual tem aproximadamente 94% de suas terras afetadas por esse processo, diz Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens de Satélites – Lapis, que tem monitorado a região. Segundo ele, “93,7% do território do estado está em processo de desertificação, sendo que 58% em nível alto de degradação. (...) Existem microrregiões no estado cujo processo de desertificação já se encontra em estado grave ou muito grave, como em Seridó e Cariris”.

Apenas na Paraíba, pontua, “cerca de 70% da Caatinga encontra-se degradada”. Além dos impactos ambientais, como “a perda de parte do patrimônio genético da flora da Caatinga”, o pesquisador frisa que a desertificação gera uma série de efeitos socioeconômicos na região e afeta “diretamente o comércio local e regional, e a situação econômica de grupos de agricultores familiares”.

Apesar do avanço da desertificação na região, Barbosa adverte que a “adoção de boas práticas de uso do solo e de recuperação de áreas degradadas, por meio de ações de assistência técnica e de educação ambiental, pode contribuir para evitar o agravamento da desertificação no Semiárido brasileiro”.


Humberto Costa | Foto: Ufal

Humberto Barbosa é doutor em Ciência do Solo e Sensoriamento Remoto pela University of Arizona, EUA, mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe e graduado em Meteorologia pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. É professor da Universidade Federal de Alagoas – Ufal. Também é coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens de Satélites - Lapis, uma das principais referências no país quanto à recepção, processamento, análise e distribuição de dados satelitários do Meteosat Segunda Geração - MSG.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Como se chegou ao dado de que quase 94% das terras da Paraíba estão ameaçadas pela desertificação? Esse processo é irreversível?

Humberto Barbosa - Este dado é do Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca no Estado da Paraíba - PAE-PB: 93,7% do território do estado está em processo de desertificação, sendo que 58% em nível alto de degradação. Esse número varia de acordo com as metodologias utilizadas pelas instituições. Algumas delas trabalham com estimativas menores. É o caso do Instituto Nacional do Semiárido – Insa, que em 2012 divulgou um relatório afirmando que os estados do Ceará e Pernambuco são os mais castigados pelo processo de desertificação, embora, proporcionalmente, a Paraíba seja o estado com maior extensão de área comprometida: 71% de seu território já sofreram com os efeitos da desertificação.

No caso do Lapis, o monitoramento da situação das áreas suscetíveis à desertificação no semiárido brasileiro é feita por satélite.

Dados específicos para a Paraíba


(Fonte: www.lapismet.com)


(Fonte: www.lapismet.com)

O solo leva centenas de anos para se desenvolver. Uma vez perdido por fatores naturais e antrópicos, não é viável economicamente recuperar as áreas degradadas.

IHU On-Line - Desde quando esse processo de desertificação vem ocorrendo nas terras da região, e quais são as causas desse processo?

Humberto Barbosa - Dentre as causas da degradação, estão o desflorestamento, uso intensivo da terra para a agricultura, sobrepastoreio (excesso de animais por área) e erosão. Além de questões como retirada da lenha para fins energéticos e mineração.

Existem microrregiões no estado cujo processo de desertificação já se encontra em estado grave ou muito grave, como em Seridó e Cariris. São os chamados Núcleos de Desertificação.

IHU On-Line - De que modo um processo de desertificação impacta tanto o solo quanto os rios? Nesse sentido, quais são os impactos visíveis na região, seja no solo ou nos rios?

Humberto Barbosa - O processo de desertificação corresponde à perda progressiva do solo, com fortes impactos socioeconômicos relacionados à perda de produtividade da terra. O desmatamento ou desflorestamento provocam a erosão, de modo que ações naturais, como chuvas, ventos e a própria seca, associadas a atividades antrópicas que exercem impactos sobre os ecossistemas, aumentam a deterioração das terras.

IHU On-Line - Algo poderia ter sido feito para conter esse processo?

Humberto Barbosa - Algo ainda pode ser feito para conter o processo de desertificação. A adoção de boas práticas de uso do solo e de recuperação de áreas degradadas, por meio de ações de assistência técnica e de educação ambiental, pode contribuir para evitar o agravamento da desertificação no Semiárido brasileiro.

IHU On-Line - Esse processo de desertificação das terras da Paraíba impacta de algum modo regiões vizinhas? Como?

Humberto Barbosa - Os impactos sobre áreas circunvizinhas são socioeconômicos. Há que destacar também que o Núcleo de Desertificação do Seridó, além da Paraíba, abrange territórios do Rio Grande do Norte. Mas como explicado acima, é resultado da ação de fatores naturais e antrópicos em áreas específicas. Fora isso, perda da produtividade dos solos afetam diretamente o comércio local e regional, bem como a situação econômica de grupos de agricultores familiares.

IHU On-Line - Considerando esse processo de desertificação das terras da Paraíba, que percentual da Caatinga é afetado pela desertificação e quais as consequências desse processo para o bioma como um todo?

Humberto Barbosa - Na Paraíba, cerca de 70% da Caatinga encontra-se degradada. Dentre as causas da degradação, estão o desflorestamento, uso intensivo da terra para a agricultura, sobrepastoreio ou excesso de animais por área e erosão. Como consequências, pode-se mencionar a perda de parte do patrimônio genético da flora da caatinga, prejuízos socioeconômicos, perda de recursos naturais como o solo e sua fertilidade para produção.

IHU On-Line - Quais são as consequências sociais e econômicas desse processo de desertificação das terras da Paraíba? Como a vida das pessoas na Paraíba tem se modificado por conta disso?

Humberto Barbosa – As principais consequências são a pobreza, a migração, a perda dos meios de produção e a insegurança alimentar. Além disso, a baixa densidade demográfica tem sido registrada nos Núcleos de Desertificação da Paraíba, em razão da migração decorrente dos impactos socioeconômicos da desertificação.

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Desertificação da Caatinga gera impactos socioeconômicos. Entrevista especial com Humberto Barbosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU