Uma “bispa católica” em Lyon: provocação ou profecia?

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26 Mai 2020

A biblista francesa Anne Soupa se candidatou para o cargo de bispa de Lyon, após a renúncia do cardeal P. Barbarin. O pedido foi formulado em uma carta rica em motivações e em um curriculum vitae em boa e devida forma. A notícia é do jornal La Croix na edição online do dia 25 de maio.

A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada em Settimana News, 25-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Isso não se faz, eu sei muito bem disso. Mas eu gostaria que fosse possível imaginar que uma mulher pode se tornar arcebispa sem que isso se torne uma piada.”

Trata-se de uma provocação para denunciar “a invisibilidade em que as mulheres são mantidas na Igreja”. “Alguns vão me dizer que eu tenho a coragem de fazer isso. Concordo. Mas eu gostaria de perguntar a eles, depois dessa primeira reação, o que eles pensam de verdade. E que, finalmente, se possa dizer: por que não um leigo ou uma leiga à frente de uma diocese?”

Nascida em 1947, formada no Instituto de Estudos Políticos de Paris, com dupla graduação em Direito e Teologia, ativa há décadas nas edições Cerf, ela não é nova nos posicionamentos “desconfortáveis”.

Junto com Christine Pedotti, ela fundou o Comitê da Saia em 2008 para lutar contra a discriminação feminina na Igreja e criou a Conferência Católica dos/as Batizados/as Francófonos/as para promover o laicato.

Em 2009, publicou “Les pieds dans le bénitier” (Os pés na fonte de água benta), que é considerado o início formal da questão feminina na Igreja da França.

Em 2012, em uma entrevista à revista Témoignage Chrétien, ela disse: “É possível imaginar um sínodo das mulheres, ideia que eu proponho no fim do meu livro. Nessa circunstância, poderiam surgir moções especificamente femininas e, por que não?, votos que unam homens e mulheres”.

Em março de 2013, ela convocou 72 mulheres “em conclave”, em vista da sucessão de Bento XVI, avaliando a chegada do Papa Francisco com o livro “Francisco, uma surpresa divina” (2014).

Não era assim

A denúncia do papel insuficiente da mulher na Igreja nasceu de um estudo da Bíblia, “porque eu não suporto a manipulação da qual as Escrituras são objeto, simplesmente para justificar escolhas culturais que não têm nada a ver com a fé”.

Jesus desmantelou os códigos culturais da sua época. Mas, pouco a pouco, em particular com a virada da reforma gregoriana (séculos X-XI), a mulher acabou em um cone de sombra que a exclui dos papéis diretivos e empobrece o conjunto da Igreja.

“O desafio atual para a Igreja é reencontrar a sua grande tradição emancipatória. É uma razão fundamental para a própria saúde da Igreja, que passa pela plena integração das mulheres. Não é uma rendição à moda, ao espírito do tempo, mas sim um retorno coerente à mensagem original, à sua igual tradição igualitária. Ao contrário do que geralmente se pensa, no Gênesis, o homem não foi criado antes da mulher. Adão, em hebraico, não é o macho, mas sim o ser humano. Quando Deus o envolve em um sono misterioso, é para tirar dele tanto o homem (Ish) quanto a mulher (Ishsha). A igualdade das origens requer hoje que as mulheres possam ter acesso às mesmas responsabilidades que os homens.”

“É urgente conceder-lhes um espaço maior. Isso significa necessariamente o acesso ao sacerdócio e ao episcopado? A mensagem original foi turvada demais por textos como aqueles aos quais eu aludi para poder concluir aquilo que deve ser atribuído a uma tradição misógina e a uma complementaridade entre homem e mulher.”

Soupa, que é autora de uma dezena de textos teológicos e de divulgação publicados entre 1995 e 2019, sabe muito bem que, embora as paróquias ainda estejam “em concorrência”, o episcopado não está. E que, em Lyon, não há apenas um apreciado administrador apostólico, Dom Michel Dubost, mas também uma mulher no papel de ecônoma diocesana, Vérnique Bouscayrol.

Ela também sabe que as Igrejas anglicanas e protestantes (com tradições sacramentais diferentes) conhecem a presença de “bispas”, enquanto as Igrejas ortodoxas e a Igreja Católica defendem o “não”.

Como jornalista, ela maneja com eficácia a comunicação pública, em que a passagem entre provocação e profecia é decidida apenas no tempo, mais ou menos longo, da recepção.

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