“Tempo de cuidar”: saídas criativas da Igreja para o enfrentamento da COVID-19

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29 Abril 2020

O cuidado é um elemento fundamental na vida de todo cristão. Desde essa perspectiva, a Igreja Católica lançou no Brasil, no domingo de Páscoa, a Campanha “Tempo de Cuidar”, como um grande chamado de solidariedade que ajude a diminuir os impactos da COVID-19. Através de doações de alimentos não perecíveis e materiais de higiene, a Igreja está tratando de amenizar o sofrimento da população mais vulnerável.

A reportagem é de Luis Miguel Modino.

Na tarde, deste terça-feira, 28 de abril, a coordenadora nacional da Cáritas brasileira, Valquíria Lima, e dom Mário Antônio da Silva, Presidente da Cáritas brasileira, participavam de um encontro virtual onde refletiam sobre a campanha “Tempo de cuidar”, e as saídas criativas para o enfrentamento da COVID-19.

A criatividade é promovida, segundo Valquíria Lima, desde uma fé que nos move a superar o medo. Ela narrava várias das inúmeras experiências que a sociedade brasileira tem desenvolvido nesse “Tempo de Cuidar”, que ela mesma definia como um tempo “de solidariedade ativa”, que tem se tornado uma “resposta muito positiva, atendendo necessidades básicas, mas também atendendo as pessoas”. Desde todos os cantos do Brasil tem chegado notícias de criatividade múltipla e diversa, insistindo em que “a sociedade tem respondido, principalmente para quem mais necessita, a solidariedade tem chegado”.

Tudo o que vem sendo realizado é definido por dom Mário Antônio da Silva como uma “ação que tem a presença do Espírito Santo, nos movendo para os gestos de solidariedade”. Segundo o bispo de Roraima, “a criatividade está no gesto concreto da caridade, no amor concreto de cada gesto que se realiza”. Ele lembrava as palabras do cardeal Tagle, presidente de Caritas Internationalis, quem diante da realidade que o mundo está vivendo, dizia que “é necessário, diante da pandemia do coronavírus, disseminar um contágio pandêmico do amor, algo que transforma, que realmente realiza a vida das pessoas”. Isso tem se traduzido em gestos concretos, destacados pelo presidente da Cáritas brasileira, quem destacava a grande doação recebida e a organização das pessoas desde a simplicidade, desde a criatividade.

Nesse sentido, a coordenadora nacional da Cáritas brasileira, ressaltava que “a campanha da Igreja do Brasil é para reforçar as ações de solidariedade que já vem sendo feitas”, relatando que já foram distribuídas quase 100 toneladas de alimentos, 26.000 kits de higiene, 2.300 peças de roupas e calçados, 11.000 refeições, 7.000 equipamentos de proteção. Ela, se referindo às palavras do papa Francisco, insistia na “necessidade da Igreja ser um hospital de campanha nesse tempo, que se preocupa com a necessidade imediata, mas também com a prevenção e o cuidado das pessoas, ir ao encontro daqueles que mais necessitam”. É por isso, segundo Valquíria Lima, que se faz necessário “que a Igreja seja hospital de campanha neste tempo de pandemia, não ficarmos dentro dos nossos muros e instituições, nós estamos junto daqueles e daquelas que mais precisam”.

A Campanha “Tempo de Cuidado” é uma ação solidária que, como bem lembrava dom Mário Antônio da Silva, “não vem para substituir nada que estava já sendo realizado, ao contrário, apoiar e dar visibilidade, procurando a integração de todo o trabalho de caridade que se realiza em toda a Igreja do Brasil”. Com a campanha se pretende, segundo o segundo vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, “que em cada comunidade tenhamos um serviço organizado da caridade, em que as pessoas possam colaborar e seja revertido num serviço da caridade organizado, em tempos de normalidade e também em tempos de emergência”.

Uma realidade muito presente no Brasil, e denunciada por Valquíria Lima, é que “boa parte da população brasileira não tem saneamento básico, o que dificulta as medidas de higiene necessárias no combate da COVID-19”. A coordenadora nacional colocava como exemplo o povo de rua e das favelas, onde existe dificuldade até para ter água para beber. Tudo isso, demanda, segundo ela, “a necessidade de políticas públicas, de fazer diagnóstico”, um elemento em que muito insiste o papa Francisco, que deve nos conduzir a “descobrir as mazelas e as necessidades do nosso povo”, vendo este tempo de pandemia “como oportunidade para a gente diagnosticar, cobrar políticas públicas, ação para a vida dos mais vulneráveis”.

Valquíria Lima, que insistia em não burocratizar a solidariedade, definia 2020 como um ano muito diferente, afirmando que “depois dessa pandemia o mundo e as pessoas não serão a mesma coisa”. Desde essa perspectiva, estamos diante de um “tempo para ver o valor que a gente dá às coisas, às pessoas, as necessidades que elas têm”, superando a imagem gerada em referência às pessoas por “esse modelo de sociedade e de consumo”. Por isso, este é “um tempo para a gente perceber aquilo que de fato é esencial”. Citando a Santa Dulce dos Pobres, ela lembrava, que “no amor e na fé encontramos as forças necessárias para nossa missão”.

Toda ação caritativa tem como referência o próprio Cristo. Nesse sentido, dom Mário Antônio da Silva afirmava que “Cristo tinha como coração de sua pregação o Reino de Deus, e o coração do Reino de Deus são os pobres, os necessitados, aqueles que estão sem voz e sem vez”. A consequência de tudo isso repercute na forma de realizar a ação solidária que está sendo desenvolvida pela Igreja do Brasil, que segundo o bispo de Roraima “visa primeiramente chegar às famílias necessitadas, às pessoas em extrema vulnerabilidade, em moradia precária, em situação de rua”.

Respondendo a algumas intervenções dos internautas, o presidente da Cáritas brasileira, falava sobre a celebração da Eucaristia, que nas últimas semanas está sendo realizadas seguindo o pedido de isolamento social promovido desde a CNBB. Ele afirmava que “quando eu celebro uma missa nesses dias, eu não não sou um indivíduo privilegiado que vou comungar o corpo e o sangue de Cristo presencialmente, eu sou corpo eclesial, é toda a Igreja que participa de uma celebração, mesmo aqueles que estão distantes”.

O segundo vice-presidente do episcopado brasileiro, encerrava sua intervenção definindo o momento atual como “período de incerteza, as vezes até de angústia, mas também nesse tempo de esperança, de criatividade”. Dom Mário Antônio da Silva tem afirmado que “eu considero este tempo, um tempo especial de missão, mesmo na oração, no silêncio, no círculo restrito de convivência, um tempo de unir as nossas forças e alargar os nossos corações em gestos de caridade, porque é tempo de cuidar, daí o cuidado permaneça como sinal da benção de Deus”.

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