O grito de socorro dos virologistas africanos: “Não podem nos deixar sem vacinas”

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08 Janeiro 2021

"O mundo corre o risco de uma catástrofe moral". Nestes termos, o veterano virologista camaronês John Nkengasong, chefe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Africanas (CDC-África) se expressou preocupado com uma possível chegada tardia ao continente de vacinas contra o coronavírus. E ele não é o único em tal estado de espírito. “Espero que as campanhas de vacinação comecem em abril”, explicou Nkengasong. “Trata-se de um longo período de tempo para um vírus que se espalha muito rapidamente. De fato - concluiu o diretor do CDC africano - a segunda onda já está aqui entre nós”.

A reportagem é de Matteo Fraschini Koffi, publicada por Avvenire, 06-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

A luta contra o tempo continua. Embora a África seja o continente com um dos níveis mais baixos de contágios do mundo, as autoridades locais preferem permanecer vigilantes. Na verdade, restrições foram recentemente impostas em vários estados devido a esse novo aumento da pandemia. “Na última semana, os contágios por Covid-19 aumentaram 19 por cento e as mortes 26 - ressaltam as estimativas do CDC-África -. Desde o início da pandemia, a África registrou 2,7 milhões de casos e 64 mil mortes”. Dos 54 estados africanos, a África do Sul é o que apresenta a situação mais grave, com pouco mais de um milhão de contágios e mais de 30 mil mortes. É precisamente na chamada "Nação Arco-Íris" que as autoridades começaram a gerir a nova variante inglesa do coronavírus: aparentemente mais letal e de disseminação mais rápida.

“São proibidos aglomerações internas e externas, toque de recolher entre nove da noite e seis da manhã e proibição da venda de álcool - disse amargamente na semana passada o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa -. Nosso país está em um ponto extremamente perigoso e precisamos agir”. O Zimbábue anunciou restrições semelhantes. No Chade, onde o vírus teve um dos impactos mais leves em comparação com o resto do continente (apenas 2 mil contágios desde março), o recente aumento de casos obrigou o presidente, Idriss Deby, a impor o toque de recolher noturno e a obrigação de usar máscara. No entanto, continua a ser muito difícil chegar a acordos a nível africano e internacional sobre como reagir. Agora que as campanhas de vacinação foram lançadas nos países ocidentais, a África espera ansiosamente que os especialistas tomem uma decisão comum e determinada.

“Acreditamos que a vacina não deve ser massivamente imposta às populações – constava de uma declaração de dezembro da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) -. Ainda faltam informações sobre os efeitos colaterais em pessoas mais vulneráveis e a Covid-19 não é uma das principais causas de mortalidade no continente africano”. Dentro da mesma organização, há quem acredite que a vacina deva ser obrigatória para todos os africanos o mais rápido possível. “Precisamos voltar ao normal o mais rápido possível - afirma um especialista europeu radicado na África -. Os serviços de saúde locais ficaram totalmente abalados com esta emergência”.

Uma coisa é certa: as informações sobre as vacinas devem ser compartilhadas. A maioria das autoridades e agências humanitárias do Continente africano pressionam para que os laboratórios africanos, como os do Senegal e da África do Sul, produzam as vacinas, facilitando sua distribuição e reduzindo os custos. Uma política sanitária que, no entanto, contrasta com as intenções de algumas empresas farmacêuticas ocidentais que preferem manter certas noções sobre a vacina em sigilo. “Corremos o risco de que outras potências estrangeiras, como a Rússia e a China, assumam o controle com suas vacinas de qualidade duvidosa - admitem alguns profissionais de saúde africanos -. Essa pandemia está assumindo uma dimensão cada vez mais geopolítica em relação ao nosso continente”. O presidente chinês, Xi Jinping, já havia declarado em setembro que “os países em desenvolvimento, especialmente a África, terão prioridade quando as vacinas chinesas começarem a ser distribuídas".

Há menos de um mês, o presidente queniano, Uhuru Kenyatta, ordenou ao seu ministro da saúde que "olhasse para a China à procura de campanhas de vacinação contra o coronavírus".

Na verdade, porém, as campanhas de vacinação ainda não estão em andamento nem programadas em mais de cinquenta países africanos. O processo de imunização com a vacina russa Sputnik V começou quinta-feira em Conakry, capital da Guiné: dois milhões de doses do soro já chegaram de Moscou. Uma ação considerada por muitos, como as ofertas chinesas, como uma "colonização sanitária". Um processo, o da ausência de uma estratégia que certamente não é continental, mas muito menos estatal que preocupa vários cientistas da comunidade internacional. Também porque está se tornando cada vez mais claro que o programa Covax, ao qual a Fundação Gavi Alliance da Gates foundation e a Organização Mundial da Saúde aderem com o objetivo de levar vacinas aos países mais pobres, certamente não será capaz de atender a todos os pedidos. Principalmente no curto prazo.

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