Chefe de comissão litúrgica do Vaticano critica o Sínodo para a Amazônia

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06 Dezembro 2019

O padre que chefia o grupo internacional do Vaticano que prepara as traduções litúrgicas em inglês criticou o recente Sínodo para a Amazônia em uma série de postagens nas redes sociais.

A reportagem é de Heidi Schlumpf, publicada por National Catholic Reporter, 05-12-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Eu, Andrew Raymond Wadsworth, não desejo pertencer à nova Igreja Pachamama idólatra que está sendo criada”, disse ele em uma postagem do dia 26 de outubro em uma conta no Facebook que leva o nome do padre.

Esse post foi acompanhado por uma figura de Jesus em um trono, com as palavras “Christus Vincit. Christus Regnat. Christus Imperat” – expressão em latim para “Cristo vence. Cristo reina. Cristo impera”.

Wadsworth é diretor executivo da secretaria da Comissão Internacional sobre o Inglês na Liturgia (ICEL), com sede em Washington, EUA. A secretaria coordena e implementa as diretrizes da comissão de 11 Conferências Episcopais de países onde o inglês é o idioma principal usado na liturgia.

Wadsworth, padre da Arquidiocese de Westminster no Reino Unido, atua como diretor executivo da secretaria da ICEL desde 2009.

Várias postagens na conta de Wadsworth no Facebook criticaram a incorporação de símbolos indígenas no Sínodo para a Amazônia, particularmente aquilo que alguns chamaram de “Pachamama” – uma deusa da fertilidade ou figura da “Mãe Terra” na cultura da América do Sul. Uma estátua de madeira de uma indígena grávida foi roubada de uma igreja em Roma e jogada no Rio Tibre em um protesto perto do fim do Sínodo, que durou um mês.

“Mais alguém está farto dessas cenas doentias de adoração pagã, aparentemente organizadas diariamente pelo padre anglicano canadense na [igreja de] Santa Maria in Traspontina?”, dizia um post do dia 20 de outubro na conta de Wadsworth, acompanhado por uma foto de indígenas na igreja de Roma.

“Estou chocado que os carmelitas permitam esse sacrilégio na igreja deles”, afirmava a postagem. “Isso não é cristianismo, mas sim adoração perigosa do diabo. Kyrie eleison!” (veja abaixo).

Postagem do dia dia 20 de novembro na página do Mons. Andrew Raymond Wadsworth no Facebook. (Foto: NCR)

No dia 24 de outubro, Wadsworth compartilhou uma foto de uma missa tradicional no Brasil com o comentário: “Nem todo mundo na Amazônia está adorando ídolos...”.

Dois dias depois, ele também compartilhou uma foto da estátua da mulher grávida na igreja, acompanhada por esta citação das escrituras:

“Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel – o leitor entenda bem – então os habitantes da Judeia fujam para as montanhas” (Mateus 24,15-16).

No dia 3 de novembro, ele compartilhou uma foto com a legenda: “Demônio Pachamama adorado na Catedral de Lima”, com seu comentário: “Isso parece ser um culto inequivocamente idólatra à Pachamama na Catedral de Lima, Peru. Não acredito que isso teria acontecido sob a vigilância do arcebispo anterior, Juan Luis Cardeal Cripriani Thorne”.

Thorne, que era padre do Opus Dei, se aposentou em janeiro, aos 75 anos. Durante seu mandato, ele denunciou regularmente as uniões entre pessoas do mesmo sexo e proibiu a recepção da Comunhão na mão.

Na paróquia St. Thomas the Apostole, em Washington, onde fica a residência de Wadsworth, ele é listado como moderador ou superior do Oratório de São Filipe Néri. Os padres oratorianos não estão vinculados a nenhum voto, mas se comprometem com comunidades independentes e autogovernadas.

Tanto Wadsworth quanto seu colega oratoriano Pe. Richard Mullins, que é pároco da St. Thomas the Apostle, participaram de uma palestra, no dia 12 de novembro, proferida por Alexander Tschugguel, o austríaco que assumiu ter jogado as estátuas no Rio Tibre. Tschugguel falou em McLean, Virgínia, em um evento promovido pela Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP). A TFP original é um movimento político católico tradicionalista brasileiro fundado em 1960.

Em sua página no Facebook, Wadsworth compartilhou vários vídeos de Tschugguel, assim como um vídeo de um padre da Cidade do México queimando efígies das estátuas para expiar a “idolatria”. O último era do LifeSiteNews, um site canadense de direita.

Wadsworth também compartilhou uma série de artigos críticos do Sínodo, como um intitulado “Liberalismo e idolatria andam de mãos dadas”, da revista Crisis, e um vídeo do YouTube no qual o blogueiro Mons. Charles Pope, do LifeSiteNews, pede que o Papa Francisco leve a Igreja a se arrepender pela “idolatria da Pachamama”.

Ele também compartilhou a edição do dia 31 de outubro do programa de rádio The World Over, da EWTN, na qual o anfitrião, Raymond Arroyo, entrevista o bispo auxiliar do Cazaquistão, Athanasius Schneider, que criticou o Sínodo e Francisco, e uma carta aberta de Schneider do dia 26 de outubro sobre a estátua.

Outra postagem, do dia 21 de outubro, pareceu crítica ao Concílio Vaticano II. Compartilhando um vídeo do YouTube da abertura do Vaticano II pelo Papa João XXIII em 1962, Wadsworth escreveu: “O triunfo do sentimento sobre o conteúdo da fé – foi assim que começou há 57 anos!”.

Depois que o NCR entrou em contato com Wadsworth na paróquia e nos escritórios da ICEL, deixando mensagens pedindo comentários sobre as postagens do Facebook, a conta foi tornada privada. A imagem do perfil da conta é de Wadsworth, com uma foto de capa com as palavras “JE SUIS PRETRE”, ou seja, “eu sou padre”, em francês.

ICEL foi criada em 1963 para preparar as traduções em inglês de livros e textos litúrgicos em latim. Cada uma das 11 Conferências que são membros plenos da ICEL tem um bispo eleito na comissão. Dom Arthur Serratelli, bispo de Paterson, Nova Jersey, é o representante dos EUA.

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