O desafio de Lula de segurar apoios na esquerda

Mais Lidos

  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS
  • Povos Indígenas em debate no IHU. Do extermínio à resistência!

    LER MAIS
  • “Quanto sangue palestino deve fluir para lavar a sua culpa pelo Holocausto?”, questiona Varoufakis

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

28 Janeiro 2018

Dispersão será fatal para seu futuro eleitoral e judicial. No mundo político, Ciro destoa. No social, respaldo vai além de entidades.

A reportagem é de Andre Barrocal e publicada por CartaCapital, 27-01-2018.

A confirmação da condenação criminal do ex-presidente Lula levou ele e o PT a botarem de vez uma nova candidatura lulista na rua. Diante das dúvidas sobre a sobrevivência do plano, o desafio petista será segurar os apoios partidários e sociais à candidatura existentes até agora. Uma dispersão pode ser fatal para a escolha de Lula de atrelar seu futuro judicial ao eleitoral.

Às vésperas do julgamento em Porto Alegre, a unidade de boa parte da centro-esquerda em torno da causa de Lula, sintetizada no mantra “ele tem o direito de ser candidato”, era repetida em prosa e verso. Vice-presidente do PT, o ex-ministro Alexandre Padilha comentava que a unidade só não é total devido a Ciro Gomes.

O presidenciável do PDT volta e meia alfineta Lula. Foi assim ao defender a data do julgamento da apelação do ex-presidente pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), dizendo que “Justiça boa é Justiça rápida”.

Há quem veja em Ciro alguém a mirar um eleitorado conservador, da classe média anti-PT, para sair dos 5% nas pesquisas. Arriscado. Ele é quem mais ganha sem Lula no páreo. Conforme um Datafolha de dezembro, chegaria a uns 12%. Bater no petista pode ser tiro no pé.

Outros dois presidenciáveis estiveram em Porto Alegre nos últimos dias em apoio a Lula. Um deles, Manuela D’Ávila, do PCdoB, não precisou viajar. Afinal, é gaúcha.

Guilherme Boulos, do PSOL, precisou. Saiu de São Paulo na véspera do julgamento e um dia depois estava de volta, a garantir um palanque para Lula defender-se em um ato do MTST no centro da capital paulista.

O último candidato a presidente pelo PSOL, Luciana Genro, outra gaúcha, tem uma posição menos simpática a Lula. É defensora da Operação Lava Jato. Mas soltou uma nota pró-Lula após a decisão do TRF-4. “Um líder popular ser barrado pela Justiça não é admissível. Vai apenas restringir mais a capacidade de decisão do povo.”

Se quisesse atacar o ex-presidente, não falaria pelo PSOL, dominado hoje pela visão de que a Lava Jato quer acabar com a esquerda. “Estamos diante de uma encruzilhada. A questão não é se gosta ou não gosta do presidente Lula, mas de defesa da democracia”, disse Boulos em Porto Alegre.

O líder sem-teto e Lula têm se dado bem. Antes de Boulos fazer uns lances para ser candidato a presidente, a dupla teve conversas a respeito.

O PSB, que tenta ser aceito de novo no campo progressista após aderir ao impeachment de Dilma Rousseff, também faz gestos por Lula. Na véspera do julgamento, o presidente do partido, Carlos Siqueira, assinava uma nota de apoio. “O tribunal político mais adequado em uma democracia é o voto popular, em eleições livres”, dizia a nota.

A nota foi anunciada pelo senador João Capiberibe (PSB-AP) em uma espécie de comício feito por Lula em Porto Alegre no mesmo dia.

Nos bastidores do ato, o líder do MST, João Pedro Stédile, salientava a unidade das forças progressistas. “A causa do Lula uniu toda a esquerda. Ele não foi escolhido pelo PT apenas.”

Entre os principais movimentos sociais, como centrais sindicais, de camponeses, defensores de causas de gênero e raça, o apelo de Lula continua grande, embora haja gente sem entusiasmo, como a Força Sindical. “Para nós, é importante manter essa unidade na centro-esquerda. É esse bloco que nos dará força em torno de um ‘plano B’, que não existe mas pode se impor em 24 horas”, diz um deputado petista.

O apoio de algumas personalidades ajuda o plano lulista de tentar manter-se vivo eleitoral e judicialmente, ao sinalizar que o respaldo social a ele vai além de movimentos sociais organizados.

As manifestações em Porto Alegre nos últimos dias foram ilustrativas. A artista plástica e professora de filosofia Marcia Tiburi estava ao lado de Dilma Rousseff em um ato de organizado por entidades feministas. O cantor Chico César abriu o “comício” de Lula e, em meio a uma música, comentou: “Justiça é com Lula, eleição é com Lula”.

Ex-chefe no jornal Folha de S. Paulo, a jornalista Eleonora de Lucena foi a um evento na segunda-feira 22 e afirmou que a condenação de Lula “é o coroamento do golpe”. Símbolo de uma rebelião estudantil no Paraná em 2016, a jovem Ana Julia passou pela capital gaúcha também.

Idem o escritor Raduan Nassar, vencedor em 2016 do Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. O paulista de 82 anos esteve no “comício”, depois foi embora no carro de Lula, a convite deste.

Mas não faltarão pedras no meio do caminho da unidade a ameaçar o futuro do ex-presidente. “Nossos adversários vão fazer pequenas ações para minar a Lula, para mostrar que a candidatura dele está ‘bichada’”, diz o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS). Se essas ações derem certo, Lula perderá força eleitoral. E, assim, estará mais perto da prisão.

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

O desafio de Lula de segurar apoios na esquerda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU