Preocupações do Padre Geral da Companhia de Jesus com as universidades jesuítas

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09 Novembro 2017

“A universidade é um lugar privilegiado para colocar em prática a missão da Companhia de Jesus hoje. A educação, inspirada no humanismo renascentista e nos Exercícios Espirituais, foi a principal tarefa da Companhia desde os primeiros anos de sua existência. Hoje, uma universidade jesuíta é chamada a tornar realidade, com excelência, a missão de reconciliação e justiça da Companhia”, escreve Ildefonso Camacho Laraña, teólogo jesuíta espanhol e presidente da Fundação Universidade Loyola Andaluzia, em artigo publicado por Loyola And News, 03-11-2017. A tradução é de André Langer.

Eis o artigo.

Recentemente, o Geral da Companhia de Jesus, Arturo Sosa, fez uma longa visita ao Brasil (16 a 28 de outubro de 2017). Uma ênfase especial teve a sua presença nos centros universitários desse gigantesco país. E também os discursos – cinco, no total – que ele pronunciou nessas instituições. São discursos longos, muito pensados e com um conteúdo que vale a pena sintetizar. Vou tentar fazê-lo em torno do que me parecem ser os temas mais relevantes destes discursos:

1) A universidade é um lugar privilegiado para colocar em prática a missão da Companhia hoje. A educação, inspirada no humanismo renascentista e nos Exercícios Espirituais, foi a principal tarefa da Companhia desde os primeiros anos de sua existência. Hoje, uma universidade jesuíta é chamada a tornar realidade, com excelência, a missão de reconciliação e justiça da Companhia.

O apostolado intelectual em nossas instituições universitárias quer ajudar os estudantes a se situarem na realidade para favorecer seu desenvolvimento pessoal e sua contribuição como profissionais e pesquisadores para a construção de um mundo melhor (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 18 de outubro).

2) Um ponto ao qual dá especial atenção é o do apostolado intelectual. A própria expressão requer alguns esclarecimentos. Porque, se o apostolado intelectual é central na missão da Companhia de Jesus, a universidade é um espaço privilegiado para desenvolver a profundidade que isso exige e para acompanhar os complexos processos da história humana.

Para a Companhia, a profundidade intelectual é apostolado, ou seja, um modo de anunciar de forma mais efetiva a Boa Nova, de aprender a captar a presença de Deus no mundo (Universidade do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS, 27 de outubro).

3) Uma característica essencial do apostolado intelectual é o pensar. Pensar é uma atividade plenamente humana que compromete todo o ser humano de forma complexa. Pensar significa ir além do que aparece à primeira vista para compreender a complexidade dos processos em que estamos inseridos, encontrar sentido naquilo que se faz e vive, para abrir espaço à criatividade que inventa caminhos alternativos para uma vida melhor.

Pensar supõe a consciência de que não se sabe tudo, da complexidade da realidade. Pensar exige superar a lógica fundamentalista a que arrasta o modo polarizado de situar-se na vida. E o pensar deve estar em contínua relação com o agir (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte, 23 de outubro).

Formação de profissionais nas universidades jesuítas

4) É fundamental pensar no tipo de pessoas que queremos formar. Bons profissionais, mas também cidadãos responsáveis. A cidadania está intimamente vinculada à atividade profissional realizada com um profundo sentido humano, de respeito e interesse pela humanidade, e não por simples desejo de lucro ou prestígio mundano.

Um egresso nosso deve viver como cidadão os valores que alimentaram a sua formação: amor como serviço, num mundo egoísta e indiferente; justiça, diante da exploração e da falta de respeito pela dignidade dos mais fracos; paz, em oposição à violência que se impõe como instrumento dos mais fortes ou dos mais agressivos; honestidade, diante da corrupção; solidariedade, diante do crescente individualismo; sobriedade, em oposição ao consumismo e à "cultura" do descartável; contemplação e gratuidade, em oposição ao pragmatismo e ao utilitarismo (Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, 26 de outubro).

5) Temos de trabalhar na construção de sociedades democráticas baseadas no diálogo. Um estilo de vida democrático supõe: conceber e viver as relações de poder como serviço; colocar as qualidades e as capacidades de cada um a serviço da justiça social; valorizar a verdadeira política como uma atividade necessária para a vida em uma sociedade pluralista; procurar maneiras de descentralizar o poder político; aproximar as instituições públicas dos cidadãos (informação, transparência, prestação de contas); descentralizar os processos de decisão.

Talvez um dos maiores desafios nesse sentido seja garantir a possibilidade do diálogo, especialmente o difícil diálogo entre posições e grupos que tendem a se ancorar em posições extremas, polarizadas e fechadas (Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil 26 de outubro).

6) As instituições universitárias devem prestar especial atenção às três orientações da última Congregação Geral: o discernimento, a colaboração e o trabalho em rede. Especialmente o discernimento comum está enraizado na tradição dos primeiros jesuítas e tem sido uma constante ao longo da história da Companhia. Como forma de decidir, não é um processo baseado no puro cálculo racional, que domina no mundo científico e acadêmico (UNISINOS, 27 de outubro).

7) Tudo isso deve ser feito na dinâmica inaciana do Magis. Por melhor que se faça uma coisa, é sempre possível melhorar, abrir mais espaço à ação de Deus na própria vida e na história humana. Nisso consiste a excelência acadêmica e a excelência humana que a Companhia de Jesus deseja para os seus estudantes, professores e colaboradores: excelência acadêmica no contexto mais amplo de uma formação para a excelência humana integral (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 18 de outubro).

8) Seis realidades do mundo de hoje desafiam o nosso apostolado intelectual a buscar respostas criativas:

a) as migrações em proporções desconhecidas;

b) uma desigualdade cresce proporcionalmente à riqueza;

c) o enfraquecimento da capacidade de diálogo que leva à intensificação da polarização e do conflito;

d) a crise ecológica;

e) cultura digital, que sempre vai conquistando mais espaço em nossas vidas;

f) o enfraquecimento da política (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 18 de outubro).

A leitura desses textos é rica e estimulante. Dá lugar a uma profunda reflexão sobre o que são essas instituições e sobre o nosso papel e a nossa responsabilidade nelas.

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