Estranho nacionalismo

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30 Novembro 2016

"Estranho nacionalismo! Expande-se em termos globais e restringe-se em termos identitários. Expansão extensiva e intensiva: extensiva, no sentido de incorporar mais pessoas, povos e nações ao mercado global de produção-comercialização-consumo; intensiva, na tentativa de ampliar, simultaneamente, o consumo e o descarte, dos que já estão incorporados na rede mundial. Nacionalismo que, em lugar de um crescimento linear e irreversível, mais parece um mosaico de incongruências e contradições, onde se mesclam interesses de direita e de esquerda, de “primeiro e de terceiro mundo”, e, uma vez mais, de formas capitalistas e não capitalistas de produção", escreve Alfredo J. Gonçalves, padre carlista, assessor das Pastorais Sociais.

Eis o artigo.

De uma parte as águas se dividem e se isolam, numa tentativa de evitar os que “estão do lado de fora dos muros”: migrantes, prófugos, refugiados, fugitivos, extra-comunitários, ciganos, nômades, marinheiros, itinerantes... De outras parte, as mesmas águas se encontram e se entrelaçam, quando se trata de repartir as melhores fatias do bolo econômico mundial. Politicamente nacionalista, economicamente globalizado. Qual o ponto de discórdia em meio a essa aparente contradição? Os trabalhadores, claro, com suas famílias, suas necessidades e suas cicatrizes, ansiando por seus direitos. Batidos pela violência da fome ou da guerra, se põem em marcha, buscando um novo solo onde replantar as raízes e florescer.

Multidão apátrida: economicamente, provoca cobiça e exploração nos “traficantes de carne humana”, tanto do ponto de vista sexual quanto trabalhista; politicamente, em períodos determinados, podem até ser aceitos como mão-de-obra informal para serviços indesejados, mas lhes é vetada a porta da cidadania; socialmente, causam medo e rechaço na medida em que representam um risco na disputa pelas migalhas que caem da mesa dos opulentos que abitam o pico da pirâmide social; culturalmente, são estranhos e estrangeiros, o que pode significar uma ameaça aos “valores ocidentais”. Os Estados Nacionais precisam de trabalhadores (de qualquer nacionalidade), mas recusam-se em conceder-lhes o título de cidadãos plenos. Necessitam da pluralidade, mas se aferram à homogeneidade. Daí a grande quantidade de “clandestinos”, especialmente nas grandes capitais.

O fato é que as águas que separam são as mesmas que unem e interagem. Separam em nome da nação, do povo, da língua, da história e da cultura, para não falar dos interesses de grupos e classes; unem em nome da economia globalizada. De fato, os magnatas que constroem suas mansões no andar superior da pirâmide e aí se retiram para evitar os clamores que se erguem da planície, são os que, ao mesmo tempo, provocam as multidões de “excluídos e descartáveis”. Não deixam, entretanto, de se servirem do trabalho destes últimos: sob formas não capitalistas de produção, mas integrados no sistema do capitalismo mundializado e marcadamente financeiro. Vale recordar que as conclusões da Assembleia dos Bispos da América Latina e do Caribe – chamado Documento de Aparecida (2007), pela primeira vez usa um subtítulo em que associa as palavras “pobres e excluídos”.

Estranho nacionalismo! Expande-se em termos globais e restringe-se em termos identitários. Expansão extensiva e intensiva: extensiva, no sentido de incorporar mais pessoas, povos e nações ao mercado global de produção-comercialização-consumo; intensiva, na tentativa de ampliar, simultaneamente, o consumo e o descarte, dos que já estão incorporados na rede mundial. Nacionalismo que, em lugar de um crescimento linear e irreversível, mais parece um mosaico de incongruências e contradições, onde se mesclam interesses de direita e de esquerda, de “primeiro e de terceiro mundo”, e, uma vez mais, de formas capitalistas e não capitalistas de produção.

Esgotamento da economia globalizada? Talvez, mas não somente isso! Mais correto falar de uma metamorfose da economia mundial que tenta adaptar-se à rota de colisão entre, de um lado, o avanço e a exacerbação do neoliberalismo (privatizações, restrições aos direitos humanos, terceirização...), e de outro, às resistências locais vinculadas às tradições culturais. E aqui, vale repetir, entra em cena o “exército mundial de reserva”. Uma imensa massa de trabalhadores desempregados ou subempregados, dos mais diversos matizes, os quais, como folhas secas e sem raiz, estão prontos a deslocar-se de acordo com o humor do mercado e a direção dos ventos contrários que este último costuma provocar. Daí o intenso, complexo e diversificado fenômeno migratório que, dentro ou fora das fronteiras do próprio país, mantém fora de casa cerca de um bilhão de seres humanos em todo planeta. Multidão em marcha que pode abrir novos horizontes na história.

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