"É tempo de grande humildade para a profissão de economista", alerta Delfim Netto

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13 Fevereiro 2013

"É tempo de grande humildade para a profissão. É preciso cada vez mais cuidado com a tendência a aviar "receitas" universais para a política econômica extraídas de modelos que têm pouco a ver com a realidade", escreve Antonio Delfim Netto, economista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 13-02-2013.

Segundo ele, "é fundamental que se reconheça o imenso fracasso de nossas teorizações para que possamos transcendê-las e começar a reconstruí-las com um ponto de vista diferente, reconhecendo que devemos introjetar a heterogeneidade do comportamento dos agentes que levam à sua auto-organização. Isso já está em marcha nos principais centros de pesquisa, mas vai levar anos para ser incorporado aos livros e textos, o que exigirá um esforço sério e redobrado dos nossos jovens professores para antecipá-las para seus alunos".

Eis o artigo.

A crise "surpresa" de 2008 tornou instantaneamente obsoletos livros e textos de macroeconomia que se apoiavam em agentes abstratos. É tempo de grande humildade para a profissão. É preciso cada vez mais cuidado com a tendência a aviar "receitas" universais para a política econômica extraídas de modelos que têm pouco a ver com a realidade.

Para mostrar que não exagero, peço licença para transcrever dois pequenos textos de reconhecidas autoridades. O primeiro é da "OECD Economic Outlook" (1/2007), cujo departamento econômico possui dezenas de profissionais no "estado da arte".

Diz o texto: "No último 'Outlook', sugerimos que a desaceleração dos EUA não indicava um período de fraqueza para a economia mundial, como aconteceu na crise de 2001. Pelo contrário, um 'rebalanceamento' cuidadoso deveria ser esperado, com a Europa tomando a dianteira dos EUA em produzir o crescimento dos países da OECD [OCDE]". E acrescenta: "Os recentes acontecimentos confirmaram aquele prognóstico. De fato, a situação econômica é hoje, de muitas maneiras, melhor do que a que temos tido há anos". Isso no segundo semestre de 2007, só seis meses antes da tragédia!

O segundo é do competente economista D. Acemoglu ("The Crisis of 2008 - Structural Lessons for and from Economics", 1/2009): "Ainda que seja muito cedo para dizer como o segundo semestre de 2008 comparecerá nos livros de história, não pode haver a menor dúvida de que ele significará uma oportunidade crítica para a economia. É uma oportunidade para nós -e aqui digo a maioria dos economistas, entre os quais eu, infelizmente, me incluo- nos livrarmos de certas ideias que nunca deveríamos ter aceitado. É também a oportunidade para tomar alguma distância e refletir sobre o que temos aprendido com nossas investigações teóricas e empíricas -separar as que não foram contaminadas pelos eventos recentes- e perguntar se elas ainda podem nos guiar no debate atual sobre a política econômica".

Quais seriam as ideias nefastas a que se refere Acemoglu? Suspeito que uma delas é do Nobel Robert Lucas: "A teoria econômica é análise matemática. Todo o resto é figuração ou conversa" (Professional Memoir", 4/2001).

É fundamental que se reconheça o imenso fracasso de nossas teorizações para que possamos transcendê-las e começar a reconstruí-las com um ponto de vista diferente, reconhecendo que devemos introjetar a heterogeneidade do comportamento dos agentes que levam à sua auto-organização. Isso já está em marcha nos principais centros de pesquisa, mas vai levar anos para ser incorporado aos livros e textos, o que exigirá um esforço sério e redobrado dos nossos jovens professores para antecipá-las para seus alunos.

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