Vaticano: luz verde para a beatificação de Enrique Angelelli

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11 Mai 2015

A 39 anos da sua morte, abre-se apenas agora, oficialmente, o caminho rumo aos altares para a canonização de Enrique Angelelli, bispo argentino de La Rioja. Stefania Falasca, no jornal Avvenire, relata que a causa que poderia declará-lo bem-aventurado foi introduzida pro martirio in odium fidei, depois que, em julho passado, o processo penal iniciado pelo tribunal de La Roja tinha estabelecido que a morte de Angelelli não foi causada por um acidente de carro – versão defendida desde o início também por alguns setores da Igreja –, mas foi um "homicídio premeditado executado no marco do terrorismo de Estado", no tempo da ditadura militar argentina.

A reportagem é de Gianni Valente, publicada no sítio Vatican Insider, 10-05-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Depois do atraso registrado nos tempos para a apuração da verdade processual – também por causa de despistes e tentativas de encobrimento – a introdução de introdução da causa de canonização por martírio havia sido submetida à Santa Sé pela diocese de La Rioja há apenas três meses, no último dia 7 de janeiro. O "nihil obstat" – revela Falasca – foi concedido mediante a Congregação para as Causas dos Santos em tempos surpreendentemente breves, no último dia 21 de abril.

Enrique Angelelli, testemunha da Igreja do Concílio Vaticano II, é o primeiro bispo assassinado pelas ditaduras latino-americanas. A sua história se insere nas violentas perseguições sofridas pela Igreja da América Latina nos anos 1970-1980. Filho de imigrantes italianos, Angelelli, já como bispo auxiliar de Córdoba, teve que enfrentar o ostracismo dos ambientes eclesiais mais reacionários.

Ele tinha participado do Vaticano II, e, em 1968, o Papa Paulo VI o nomeara bispo de La Rioja, uma das dioceses mais pobres da Argentina, atualmente na região noroeste de Nuevo Cuyo. Jorge Mario Bergoglio tinha conhecido Angelelli desde que era reitor do Colégio San Miguel: o bispo tinha enviado alguns dos seus seminaristas que haviam entrado na mira dos aparatos da ditadura, pedindo-lhe para protegê-los.

Em junho de 1973, Bergoglio e outros consultores da Companhia de Jesus havia viajado para La Rioja para um retiro espiritual, durante o qual houve um ataque de um grupo autodenominado "Cruzados de la Fe", organizado pelos proprietários de terras. Ele voltou para lá dois meses depois, no dia 14 de agosto de 1973, como provincial dos jesuítas, acompanhando a visita do geral da Companhia, o Pe. Arrupe, preocupado com as agressões naquela diocese contra religiosos e leigos.

Em agosto de 2006, na celebração eucarística na qual se celebrava o 30º aniversário da morte do bispo, o então cardeal arcebispo de Buenos Aires recordou Angelelli como "um pastor apaixonado pelos seu povo, que o acompanhava no caminho, até as periferias, geográficas e existenciais", descrevendo também "o escárnio que esse povo e esse pastor recebiam, simplesmente por seguirem o Evangelho"... homens e mulheres livres de compromissos, ambições, ideologias, para os quais o Evangelho era o comentário da própria vida".

Bergoglio contou que conhecera em La Rioja "uma Igreja perseguida, inteiramente, povo e pastor", também por meio "dos experimentados métodos da desinformação, da difamação, da calúnia".

Marcelo Daniel Colombo, atual bispo de La Rioja, tinha pedido e obtido do Vaticano algumas cartas referentes a Angelelli, para apresentá-las ao tribunal civil que investigava a morte do bispo. Esses papéis – disse o bispo – "evidenciam claramente os termos do estado de perseguição que viva a Igreja de La Rioja e as ameaças de morte recebidas por Angelelli".

Depois da decisão do tribunal, que condenou à prisão perpétua dois ex-militares colaboradores do general Videla, reconhecidos como mandantes daquele crime, o sucessor de Angelelli havia afirmado que, "hoje, não há mais quaisquer dúvidas sobre o fato de que essa Igreja particular viveu uma perseguição muito forte que levou embora a vida do bispo, junto com a de outros sacerdotes e leigos. Como se costuma dizer, não há cego pior do que aquele que não quer ver. Se ainda existem dentro e fora da Igreja pessoas que não querem ver na vida e na morte de Dom Angelelli um sinal heroica e eloquente de Deus pelo seu povo, rezemos por eles".

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