Pandemia aumenta em 170% o número de mulheres desalentadas na Região Metropolitana de Porto Alegre

Por outro lado, o número de idosos em desalento diminuiu. Essa redução pode estar relacionada a queda da renda das famílias, fazendo com que eles retornem ao mercado de trabalho para repor a parcela perdida durante a pandemia.

Foto: Agência Brasil

29 Março 2021

Desde 2012, quando a pesquisa sobre desalentados começou a ser realizada, as mulheres sempre foram a maioria na Região Metropolitana de Porto Alegre. Esta realidade, no primeiro ano da pandemia, ganhou números ainda maiores, já houve um crescimento de 170,1% em relação ao ano anterior. Enquanto isso, neste mesmo ano, o aumento foi de 75,8% para os homens.

 

O texto é do ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

 

O desalentado é uma categoria definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, que encontra-se na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD. Para o IBGE, desalentados são aqueles que desistiram de procurar trabalho.

Na Região Metropolitana de Porto Alegre, houve um aumento de 123,1% no número de pessoas nessa situação de 2019 para 2020. Antes da pandemia, eram 19 mil pessoas desalentas na região. Com os dados mais recentes, do quarto trimestre de 2020, o número disparou para 42,2 mil pessoas desalentadas.

O professor de sociologia do trabalho, Cesar Sanson, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, indica que esse número seja ainda maior. Em artigo publicado na IHU On-line, “Uma sociedade de desalentados”, Sanson entende que a pesquisa pode esconder uma condição subjetiva que a torna ainda mais grave.

 

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A hipótese para o alto número de desalento é de que ela realidade esteja associada ao fato do emprego com carteira assinada estar cada vez menor. Sendo assim, as pessoas desistem de procurar por saber de antemão que não encontraram e seguirão não encontrando o trabalho formal.

Em outras palavras, muitos deixaram de procurar um emprego formal porque consideram inatingível, e, por isso, assumem a informalidade trabalhando para terceiros e/ou por conta própria. É nessa situação que Cesar considera haver um desalento subnotificado, pois as pessoas aceitam o que encontram, desistindo do que desejam.

“Pode estar escondendo a condição daqueles que tornaram o que era para ser uma exceção uma regra, ou seja, já não acreditam mais que um dia terão um emprego formal, logo tornam a situação da informalidade como a normalidade”, finaliza o artigo.

 

 

Mulheres são as mais afetadas na pandemia

 

Desde 2012, quando a PNAD começou a ser realizada, as mulheres foram a maioria das desalentadas na Região Metropolitana de Porto Alegre, representando 60,7% em 2020. No primeiro ano da pandemia, houve um crescimento de 170,1% em relação ao ano de 2019. Enquanto isso, para os homens, o aumento foi de 75,8% em um ano.

 

 

No caso das mulheres, é provável que o aumento acima da média esteja relacionado aos cuidados dos afazeres domésticos e familiares durante a pandemia. Em entrevista para IHU On-line, Luana Pinheiro, pesquisadora Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea aponta: “Alguns estudos mostraram o quanto o trabalho doméstico e de cuidados aumentou na pandemia tanto para homens, quanto para mulheres, mas, obviamente, muito mais para elas do que para eles. Assim, houve – e há – sobrecarga ainda maior das mulheres com o trabalho doméstico, uma vez que elas não puderam contar com o Estado, com o mercado ou com os homens para compartilhar o trabalho doméstico de suas famílias de forma igualitária.”

 

 

Por outro lado, o número de idosos em desalento diminuiu de 6 mil para 5,7 mil. Ainda assim, representavam 13,4% em 2020, sendo que em 2019 esse percentual era de 31,6%. Essa redução pode estar relacionada a queda da renda das famílias, fazendo com que eles retornem ao mercado de trabalho para repor a parcela perdida durante a pandemia.

 

 

Queda da renda durante a pandemia 

 

A pandemia do novo coronavírus colaborou para uma perda média de 12,5% na renda dos trabalhadores na Região Metropolitana de Porto Alegre, sendo a quarta região com maior queda, quando comparada com outras regiões metropolitanas do Brasil. Ficou atrás somente de Maceió, Salvador e Recife. A perda da renda na metrópole de Porto Alegre é o dobro da média das demais regiões metropolitanas e do Brasil como um todo.

 

 

Em 2020, a queda da renda foi de 40,4% para os mais pobres, enquanto para os 10% mais ricos, a queda foi de apenas 10,6%. Comparativamente com as demais regiões metropolitanas do país, a metrópole de Porto Alegre foi uma onde os mais pobres foram os mais afetados. A queda ficou acima da média do Brasil, enquanto nas metrópoles da Região Sul foram de menos de 20%.

 

 

Grande parte desta população mais pobre que perdeu renda do trabalho recorreu ao Auxílio Emergencial. Ao analisar os dados da PNAD, percebe-se o enorme peso deste benefício para população. Embora a Região Metropolitana de Porto Alegre tenha um dos menores percentuais recebendo o Auxílio Emergencial, o benefício representa quase 40% da renda média total dos domicílios e corresponde para 24,4% dos domicílios metade ou mais da renda.

A taxa de pobreza era de 10,8% antes da pandemia na Região Metropolitana de Porto Alegre, percentual que se traduz em 406,8 mil pessoas. Se não fosse o Auxílio Emergencial de R$ 600 e R$ 1.200, a taxa de pobreza teria chegado a 18,8%. Isto em números absolutos representa que o benefício evitou que 337,8 mil entrassem na linha de pobreza, que totalizaria em 744,6 mil pessoas.

 

 

Todos os dados apresentados acima fazem parte do estudo “Mundo do trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre” desenvolvido pelo Observatório do Vale do Rio dos Sinos e o Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas. Como se trata de dados trimestrais com muitas variáveis, serão publicados textos com temas específicos do mundo do trabalho na página ao longo dos meses.

 

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