O testamento de Dom Jacques Noyer, bispo francês. “O celibato eclesiástico é uma falsa aventura”

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18 Janeiro 2021

Falecido em junho passado, o bispo emérito de Amiens, na França, deixou um texto no qual reflete sobre a laboriosa implementação do Concílio Vaticano II e denuncia um certo clericalismo que impede os cristãos de irem ao encontro do mundo. Trata-se do livro “Le Goût de l’Evangile” [O gosto do Evangelho] (Ed. Temps présent).

A reportagem é de Christophe Henning, publicada por La Croix, 14-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O autor não viu o seu livro. Jacques Noyer faleceu no dia 2 de junho de 2020, e essa última obra póstuma, publicada em novembro, é como o seu testamento. Aos 93, o bispo emérito de Amiens entrelaça a vida da Igreja com o seu próprio caminho, em uma confissão às vezes dolorosa: “Tenho o direito de ser sincero e de admitir que perdemos”.

Jacques Noyer, densos cabelos brancos e riso sonoro, foi sem dúvida o último representante de uma geração. Aquela que se confrontou com os frutos do Concílio Vaticano II e que assistiu impotente à sua difícil implementação: “A geração que saiu da guerra com o desejo de mudar as coisas vai desaparecendo lentamente, e a paisagem volta à tradição”.

Regozijando-se com o modo de fazer do Papa Francisco, Jacques Noyer reconhece o erro do método. “Nós tínhamos a ingenuidade de pensar que seria por meio do clero que despertaríamos o povo de Deus. Não, é o clamor dos homens e mulheres que vai despertar o clero”.

Sem amargura, mas com sincera dor, até mesmo reconhecendo uma parte de responsabilidade, o bispo emérito revisita os erros da Igreja. “Demorei muito tempo para descobrir que, mesmo na Igreja, entre os meus amigos padres, podia haver predadores com objetivos inconfessáveis”. Insistindo no papel dos leigos e no compromisso dos cristãos na sociedade, ele descreve o clero com uma linguagem contundente e iconoclasta. Por exemplo, a respeito do casamento dos padres, ele escreve: “O celibato eclesiástico é uma falsa aventura. Ele até corre o risco de ser um prolongamento da infância, em vez do risco da aventura”.

Percorrendo a história da eucaristia, Jacques Noyer também se mostra severo: “O mundo ao qual devemos anunciar o Evangelho não é neutro nem ignorante. Ele desconfia de uma Igreja de santos que pretendem dar uma lição aos pecadores”.

Famoso pelos seus desafogos apaixonados, Dom Noyer demonstra um forte amor pela sua Igreja. Seu último livro ressoa como um apelo à vigilância, como o grito de um ancião que convida à audácia e que lembra o essencial.

Para além das críticas, ele quis compartilhar, por uma última vez, o seu gosto pelo Evangelho, pela comunidade, pela Igreja: “Meu coração de pastor me convida a aceitar os homens e as mulheres como são. Gosto de caminhar junto com os mais simples, os menos sábios, os mais pobres”.

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