Papa Francisco: “Sou a favor das uniões civis, as pessoas homossexuais têm direito a uma família”

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22 Outubro 2020

A abertura em um documentário realizado por Evgeny Afineevsky e exibido pela primeira vez na quarta-feira no Festival de Cinema de Roma. O pontífice: “O que devemos criar é uma lei sobre as uniões civis. Dessa forma, as pessoas homossexuais usufruiriam de amparo legal”. Também esteve presente na apresentação Juan Carlos Cruz, vítima chilena da pedofilia do padre Fernando Karadima, que quis oferecer seu testemunho sobre a relação de afeto que se estabeleceu com Bergoglio

A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 21-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

“As pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser impedido ou tornado infeliz por isso. O que precisamos criar é uma lei sobre as uniões civis. Dessa forma, eles seriam amparados legalmente. Eu lutei por isso”. Que falou isso foi o papa Francisco em um documentário do diretor russo Evgeny Afineevsky apresentado no Festival de Cinema de Roma. Uma postura inédita e, no mínimo, revolucionária. Porque se é verdade que Bergoglio, poucos meses depois de sua eleição para o pontificado, havia feito uma abertura aos homossexuais, nunca até agora havia se manifestado a favor de uma lei sobre as uniões civis. No filme, Francisco telefona para um casal gay, com três filhos pequenos, respondendo a uma carta na qual os pais expressam seu grande constrangimento em levar suas crianças na paróquia. O conselho do Papa é de continuar a fazer isso, independentemente dos preconceitos das pessoas. Também esteve presente na apresentação do documentário Juan Carlos Cruz, vítima chilena da pedofilia do padre Fernando Karadima, que quis oferecer seu depoimento sobre a relação de afeto que se estabeleceu com Bergoglio. “Quando conheci o Papa Francisco - disse Cruz - ele me disse o quanto lamentava o que tinha acontecido: 'Juan, foi Deus quem te fez gay e ele te ama. Deus te ama e o Papa também te ama'”.

Um encontro, aquele entre Cruz e Bergoglio, nascido por ocasião do escândalo da pedofilia do clero chileno que levou o Papa a afastar todo o episcopado daquele país, providência única na história da Igreja. Mas também por ocasião da cúpula mundial, organizada por Francisco no Vaticano em fevereiro de 2019, sobre os abusos sexuais de menores cometido por sacerdotes e sobre os encobrimentos do episcopado. Evento do qual se originaram várias medidas concretas para implementar a linha de tolerância zero fortemente desejada pelo Papa. Em sua primeira viagem internacional, em 2013, ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude, Francisco usou palavras muito claras sobre o mundo homossexual. “Muito se escreveu - afirmou o Papa - sobre o lobby gay. Ainda não encontrei ninguém que me desse uma carteira de identidade no Vaticano com 'gay'. Eles dizem que existem. Acho que quando se está com uma pessoa assim, é preciso distinguir o fato de ser uma pessoa gay, do fato de fazer lobby, porque os lobbies, todos eles não são bons. Isso é ruim. Se uma pessoa é gay e busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O catecismo da Igreja Católica explica isso de uma forma muito bonita, e diz: ‘Essas pessoas não devem ser marginalizadas por isso, devem ser integradas na sociedade’. O problema não é ter essa tendência, não, devemos ser irmãos, porque esse é um, mas se houver outro, um outro. O problema é fazer lobby dessa tendência: lobby de mesquinhos, lobby de políticos, lobby de maçônicos, muitos lobbies. Esse é o problema mais grave para mim”.

Recentemente, ao receber um grupo de pais com filhos LGBT da associação Tenda di Gionata, Francisco usou palavras igualmente eloquentes: “O Papa ama seus filhos assim como eles são, porque são filhos de Deus. A Igreja não os exclui porque os ama profundamente”. Na sua exortação apostólica Christus vivit, Bergoglio escreve que “os jovens reconhecem que o corpo e a sexualidade são essenciais para a sua vida e para o crescimento da sua identidade. Mas, num mundo que destaca excessivamente a sexualidade, é difícil manter uma boa relação com o próprio corpo e viver serenamente as relações afetivas. Por esta e outras razões, a moral sexual é frequentemente causa de incompreensão e alheamento da Igreja, pois é sentida como um espaço de julgamento e condenação. Ao mesmo tempo, os jovens expressam de maneira explícita o desejo de se confrontar sobre as questões relativas à diferença entre identidade masculina e feminina, à reciprocidade entre homens e mulheres, e à homossexualidade.

Como emergiu, no entanto, durante os últimos quatro Sínodos dos Bispos, a abertura do Papa ao mundo homossexual, e em particular ao reconhecimento dos casais homossexuais, sempre encontrou forte oposição do episcopado mundial. A assembleia sinodal de 2014 tentou marcar uma virada, quando foi convocada por Francisco para discutir sobre a família. De fato, no documento provisório dos trabalhos, afirmava-se que “sem negar as problemáticas morais ligadas às uniões homossexuais, reconhece-se que há casos em que o apoio mútuo até ao sacrifício constitui uma preciosa ajuda para a vida dos parceiros”. Com uma abertura inédita também para crianças que convivem com casais homossexuais, “reafirmando que as necessidades e os direitos das crianças devem estar sempre postos em primeiro lugar”. Aberturas que no final foram duramente rejeitadas. Não devemos esquecer que, embora as palavras do Papa tenham valor universal, elas chegam em um momento em que a Conferência Episcopal Italiana se opôs à lei contra a homofobia. Uma posição que evidentemente não reflete o pensamento de Francisco.

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