Escândalo financeiro no Vaticano: Óbolo de São Pedro, os confrontos secretos entre duas partes

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07 Outubro 2019

Mais que uma investigação - documentos em mãos - a história assume os contornos de uma caça às bruxas. Um confronto interno entre poderes e uma montanha de dinheiro no meio a ser administrada. O caos no Vaticano começou em 2 de julho com uma denúncia apresentada aos magistrados pelo diretor geral do IOR, Gian Franco Mammì. Antes de chegar a cumprir um ato formal tão grave Mammì tinha passado previamente pelo Papa Francisco - com quem ele tem um relacionamento antigo e muito próximo - para obter a aprovação e informar que a Secretaria de Estado havia lhe solicitado um financiamento. de 150 milhões de euros para saldar uma hipoteca onerosa em um imóvel de luxo em Londres, no cruzamento da Avenida Draycott com Ixworth Place. Mammì estava enfurecido.

A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 05-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

A carta

No mês anterior, em 4 de junho, o Substituto da Secretaria de Estado, o venezuelano Pena Parra, havia enviado um funcionário (um dos cinco investigados) para entregar ao IOR uma carta com a solicitação de liberação, urgentemente, de 150 milhões de euros. Para "razões institucionais não especificadas", observam os magistrados. O pedido de financiamento foi para o exame - como é de praxe -, mas Mammì se opõe e não o concede. Não o considera “compatível com os fins estatutários específicos do instituto”.

Em tal ponto, a solicitação é bloqueada e, portanto, na semana seguinte, o monsenhor Pena Parra retorna ao ataque para solicitar uma resposta pedindo "uma antecipação da liquidez por razões institucionais da Santa Sé". Quais são essas razões? Pelos documentos dos magistrados é explicado que o dinheiro é necessário para pagar um empréstimo já contratado em outro banco que incide em um imóvel londrino de propriedade da Secretaria de Estado.

Elementos obscuros

Segundo os magistrados (e o IOR), é uma solicitação "que evidencia alguns elementos de opacidade, considerando que não especifica o beneficiário de tais somas". No entanto, na carta que Pena Parra envia ao IOR, relata a Mammì em detalhes que esse montante é necessário para o pagamento das hipotecas pendente no imóvel. Hipotecas contraídas por uma empresa de propriedade da Secretaria de Estado que, por sua vez, detém a propriedade de um ativo dado em garantia. Todas as transações em questão referem-se a um período de cerca de 12 meses.

Enquanto isso, o Escritório de Auditoria Geral – um departamento que tem a obrigação de auditar todas as realidades administrativas da cúria - começou a destrincar as operações em andamento. Assim, em 8 de agosto, enviou um documento aos magistrados do Vaticano para informar que a maioria das atividades financeiras da Secretaria de Estado resultam depositadas no Credit Suisse, nas filiais suíças e italianas, onde se concentra quase 80% da carteira gerenciada. Uma montanha de dinheiro. A verdadeira origem do confronto parece estar justamente nisso.

A arma de fumaça. O fato é que o dinheiro da Secretaria de Estado não está depositado no IOR, mas em outra instituição de crédito. O Auditor Geral fala assim de conflitos de interesse, uma vez que trata das doações recebidas do Papa para as obras de caridade, para a manutenção da cúria, na prática o Óbolo de São Pedro. Os magistrados observam que se trata de valores vultuosos "aplicados em fundos que, por sua vez, investem em títulos dos quais o cliente não sabe os detalhes, bem como em fundos alocados em países offshore como Guernsey e Jersey, de alto risco especulativo e duvidosa ética”.

Contornos especulativos

A falta de controle direto do IOR sobre o dinheiro depositado no Credit Suisse, de acordo com o Auditor Geral, indicaria os contornos "claramente especulativas das operações, com o risco de expor todo o Estado a riscos patrimoniais e de reputação". Para resumir: o dinheiro investido em outro lugar "poderia ser usado para fins incompatíveis com aqueles que os geraram" e, como resultado, o Óbolo de São Pedro poderia ser posto em perigo, enquanto que, se fosse administrado pelo IOR, os riscos seriam anulados.

Os magistrados a partir de escutas telefônicas e investigações reconstroem a sequência das atividades financeiras da Secretaria de Estado e concluem que as "atividades de aquisição de imóveis para fins de investimento" são reservadas apenas à APSA, que a Secretaria de Estado não informou ao Conselho de Economia que o empréstimo solicitado não responde a finalidades religiosas, que existem transações financeiras pouco claras.

Abuso de autoridade

"Esses elementos permitem evidenciar como, na gestão, podem ser identificados os sinais de crime de abuso de autoridade" para os cinco funcionários da Secretaria de Estado que acabaram sob investigação e suspensos das funções de forma preventiva Agora, a autoridade judiciária terá que verificar se eles efetivamente administravam as operações de forma autônoma ou não. À espera do próximo episódio desse confronto sem iguais entre os poderes.

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