Líder indígena diz que “o Irmão Francisco” está arriscando sua vida pela Amazônia

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18 Setembro 2019

Segundo aquele que provavelmente é o líder indígena mais importante da Amazônia, o Papa Francisco está pondo sua vida em risco ao defender a própria floresta e os direitos das pessoas que vivem nela, entre outras coisas por convocar um Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia no próximo mês em Roma.

A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 17-09-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

“O Irmão Francisco”, de acordo com Gregorio Diaz Mirabal, “está arriscando a sua vida” pela Amazônia, listando a Rússia, a China, os EUA e a Europa como potências mundiais infelizes pelos esforços do papa em lançar luz sobre a situação na região.

O papa não está sozinho, de acordo com Diaz Mirabal. O líder indígena diz que vários cardeais, bispos e padres arriscam suas vidas “ao ficarem do nosso lado, o lado de salvar o planeta”.

Diaz Mirabal coordena a Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica - COICA, grupo que reúne mais de 4.500 comunidades que moram na região amazônica. Estima-se que 500 grupos indígenas vivam na região com cerca de quatro milhões de habitantes.

Embora esta sua avaliação possa ser exagerada, dificilmente é de todo sem sentido. Só em 2019, estima-se que 200 lideranças indígenas foram mortas por denunciar os prejuízos causados por projetos de extração e companhias mineradoras.

Participante da assembleia dos bispos em Roma, Diaz Mirabal diz que a presença de indígenas na Cidade Eterna “não vai ser só para sair na foto”.

“É uma grande oportunidade ter um papa que fala a verdade, uma realidade histórica que é a questão indígena, e ele está assumindo-a com grande coragem”, disse. “Assim, temos um dever moral de apoiá-lo nessa luta”.

“Deixar o papa sozinho neste momento”, continuou Diaz Mirabal, “é garantir a destruição do mundo”.

Embora não se descreva como católico, Diaz Mirabal diz ter fortes laços com a Igreja e está feliz por participar do evento.

Francisco é “muito bravo e tem uma enorme sensibilidade”, disse ele a um grupo de jornalistas em Quito, quinta-feira passada.

“Queremos ir ao sínodo não para tirar fotos com o papa, mas porque precisamos propor soluções de curto e longo prazo para salvar o planeta, porque se salvamos a bacia amazônica, salvamos a humanidade”, completou.

Também segundo Diaz Mirabal, empresas privadas, governos e pessoas que moram nos nove países componentes da bacia amazônica enxergam a região não como uma floresta onde vivem pessoas, mas como territórios de onde extraem petróleo, ouro, água e coltan.

Diaz Mirabal se reuniu com Francisco em junho, em Roma, durante um evento das Nações Unidas. Ele disse que Francisco contou que apoia os povos indígenas porque eles são “os únicos que estão considerando a salvação do planeta”.

O papa lhe falou que as comunidades indígenas compreendem que o atual modelo econômico causa prejuízos ao planeta e à vida dos que nele vivem.

Em troca, o líder indígena contou ao pontífice argentino que o COICA está trabalhando com a REPAM, rede eclesial que reúne diferentes instituições católicas atuantes na região Amazônica, com o CELAM e com a Caritas e várias igrejas locais.

Horas antes de conversar com os jornalistas, o grupo que Diaz Mirabal coordena firmou um acordo com Greta Thunberg, adolescente sueca que tem ajudado na conscientização mundial sobre os perigos das mudanças climáticas. Em 20 de setembro, Thunberg irá liderar uma caminhada em Nova York, e Diaz Mirabal estará presente.

Apesar das esperanças para com a assembleia sinodal no próximo mês, Diaz Maribal falou que o que mais lhe interessa é “o que vai acontecer depois do sínodo, porque se tudo ficar em Roma, então será um fracasso”.

“A nossa esperança é que todos nos comprometamos a criar uma nova pauta global, fortalecida pelo Papa Francisco e pelos indígenas, para quem sabe despertar o planeta, porque existe muita insensibilidade com o que está acontecendo, e nós precisamos colocar o mundo em ação”, refletiu Diaz Mirabal.

Perguntado sobre a sua opinião com relação à Igreja Católica, visto que ela desempenhou um papel central na colonização da região por Espanha e Portugal, o líder indígena respondeu que a prioridade, hoje, é “superar os erros do passado” e que, embora eles permanecem na memória, a Igreja é fundamental na proteção dos seus direitos e de seu lar.

No entanto, ele disse também que há um “chamado histórico” pelo “exército”, isto é, a Igreja, um chamado à ação: “Precisamos das suas orações, sim, mas também precisamos das suas ações. Precisamos todos nos unir para salvar o planeta”.

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