10 Outubro 2018
"Os dados mostram que os partidos localizados à direita do espectro ideológico vêm ganhando força nas últimas legislaturas. Nessa última eleição, o crescimento foi ainda maior: 63. Os partidos de centro viram sua representação minguar de 137 para apenas 75 deputados. As agremiações de esquerda, por sua vez, mantiveram sua representatividade, chegando a 137 cadeiras", escreve Oswaldo E. do Amaral, professor do departamento de Ciência Política da Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição, em artigo publicado por Observatório das Eleições, 08-10-2018.
Eis o artigo.
Com o final da apuração, uma nova composição na Câmara dos Deputados surgiu no Brasil. A taxa de renovação aumentou e atingiu 53%, contra 47% quatro anos antes. A melhor ilustração dessa renovação foi o crescimento do Partido Social Liberal (PSL), do candidato à presidência Jair Bolsonaro, que saltou de um para 52 deputados federais. Do lado oposto, MDB e PSDB perderam, respectivamente, 31 e 25 cadeiras. Partidos com menos de 2% das cadeiras elegeram 95 deputados, para dar uma dimensão do nível de fragmentação a que se chegou.
Nesse texto, nosso objetivo é apresentar a nova composição da Câmara dos Deputados a partir da localização ideológica dos partidos. Para isso, posicionamos os partidos nas categorias “Direita”, “Centro” e “Esquerda” a partir dos trabalhos dos cientistas políticos Timothy Power e César Zucco.
Os dados mostram que os partidos localizados à direita do espectro ideológico vêm ganhando força nas últimas legislaturas. Entre 2010 e 2014, foram 48 deputados. Nessa última eleição, o crescimento foi ainda maior: 63. Os partidos de centro viram sua representação minguar de 137 para apenas 75 deputados. As agremiações de esquerda, por sua vez, mantiveram sua representatividade, chegando a 137 cadeiras.
(Dados organizados pela Equipe Cesop/Unicamp)
Esses números atestam o que as eleições presidenciais mostraram: partidos tradicionais e de centro, como o PSDB e o MDB, foram, até o momento, os maiores perdedores. Partidos nanicos e pequenos localizados à direita, como o PSL e o PRB, os maiores vencedores.
Com as restrições impostas pela cláusula de barreira, é provável que se esse quadro se altere rapidamente no que toca ao número de cadeiras de cada partido na Câmara. No entanto, o mais provável é que a migração de deputados se dê no interior de cada bloco ideológico. Por exemplo, o PSL deve ampliar sua bancada com a incorporação de pequenos partidos de direita em caso de vitória de Jair Bolsonaro.
Os dados indicam, dessa forma, que estamos diante de uma renovação conservadora na Câmara. Candidatos de partidos de direita com forte discurso contra a criminalidade e a corrupção e a favor da defesa de valores morais “tradicionais” estiveram entre os mais bem votados nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três maiores colégios eleitorais do País.
Neste cenário, é provável que vejamos a emergência de uma pauta de marcado conteúdo conservador na agenda legislativa nos próximos anos, tanto em temas sociais quanto em temas econômicos. A capacidade de sucesso dessa pauta é incerta. O que é certo é que ela aumenta bastante em caso de vitória de Jair Bolsonaro.
Leia mais
- Eleições 2018. A radicalização da polarização política no Brasil. Algumas análises. Entrevistas especiais
- Eleições 2018 e a economia. Um cenário nada animador. "O maior desafio é político". Entrevista especial com Marcelo Manzano
- Eleições 2018: Como Bolsonaro superou a bolha radical na internet e terminou o 1º turno na liderança
- Onda conservadora leva Bolsonaro fortalecido para embate final contra PT
- Eleições 2018: Como Bolsonaro superou a bolha radical na internet e terminou o 1º turno na liderança
- ‘A classe média foi afastada da política’. Entrevista com Roberto DaMatta
- “Há um desejo de ver a ditadura como uma utopia”. Entrevista com Lilia Schwarcz
- Plebiscito em uma democracia agonizante. Brasil decide seu futuro
- Onda conservadora cria bancada bolsonarista no Congresso
- WhatsApp, um fator de distorção que espalha mentiras e atordoa até o TSE
- PSDB despenca e tem pior resultado em eleição presidencial
- O contato com o diferente é uma estratégia contra o fascismo
- Morte, ameaças e intimidação: o discurso de Bolsonaro inflama radicais
- Cuidado, somos perigosos!
- “Quando você não acerta suas contas com a história, a história te assombra”. Entrevista com Vladimir Safatle
- Existe algum rumo ético-político a ser seguido no segundo turno?
- Bolsonaro e o seu partido
- Aliada a Bolsonaro, Frente Parlamentar da Agropecuária reelege 52% de seus membros na Câmara 9 de outubro de 2018
- O neopinochetismo com Bolsonaro
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A renovação conservadora na Câmara - Instituto Humanitas Unisinos - IHU