Nova teologia eucarística: por que uma ''nova'' teologia eucarística? Artigo de Ghislain Lafont (parte 1)

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24 Fevereiro 2018

“Há alguns dias, no dia 13 de fevereiro, ele completou 90 anos. No entanto, ao lê-lo, sentimo-lo jovem, novo, cheio de frescor, curioso, criativo, livre. No panorama da pesquisa católica em torno da Eucaristia, Ghislain Lafont representa, há muitas décadas, um ponto de referência”, afirma o teólogo italiano Andrea Grillo em seu blog Come Se Non, 18-02-2018.

“Pedimos a ele – afirma Grillo –, e ele respondeu com a costumeira generosidade, enviando dois textos, que inauguram um percurso de reflexão nova em torno da Eucaristia. Apresento aqui a tradução do primeiro breve texto, programático e geral. Trata-se de uma síntese admirável, que tematiza precisamente a exigência de uma ‘nova’ teologia eucarística. Questão que o autor resolve através da correlação entre ‘três ordines’ – evangélico, litúrgico e político – com a qual também é retomada a herança do Concílio Vaticano II e de suas três constituições – Lumen gentium, Sacrosanctum Concilium e Gaudium et spes, à luz da Dei verbum. Mas é apenas o início de um raciocínio que se desenvolverá em intervenções sucessivas e preciosas. Agradeço de coração ao Pe. Ghislain, desejo-lhe uma juventude ainda longa e frutuosa, e ofereça seu primeiro texto.”

A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Por que uma “nova” teologia eucarística?

Por Ghislain Lafont

Como pode haver uma “nova” teologia eucarística? Porque a verdade da Revelação está sempre em antecipação em relação a nós. Há e sempre haverá experiências novas, conceitos novos, organizações inéditas de um conteúdo de fé que nenhum discurso pode esgotar.

Espontaneamente, penso que a nova teologia eucarística poderia se situar dentro de uma reaproximação inédita, nova, entre os três aspectos da comunidade humana: comunidade evangélica, comunidade litúrgica e comunidade política.

A comunidade evangélica é formada pela Palavra de Deus, o Evangelho que foi anunciado e realizado por Jesus Cristo em relação com a Lei, os profetas e a sabedoria de Israel. Essa comunidade põe em prática, cada vez mais e cada vez melhor, a Lei do Reino, isto é, a plena caridade para com Deus, para com os outros e para consigo mesmos (Mc 12, 29-31).

Para fazer isso, ela reúne ao longo do tempo o dom prometido por Cristo: o Espírito que procede do Pai (Jo 16, 8ss) e introduz na inteligência e na prática das coisas de Deus. O próprio Espírito age ainda mediante os dons (carismas) que permitem uma vida evangélica segundo uma ordem (em grego, taxis). Esses carismas determinam campos de responsabilidade e uma autoridade geral, a da “presidência”, que os organiza em vista do crescimento do corpo evangélico.

A comunidade litúrgica é aquela que transcende o tempo e, precisamente por isso, dá seu sentido ao tempo; ela faz memória do “início”, ou seja, da morte e ressurreição de Cristo, e do “fim”, quando, em Cristo, Deus será tudo em todos (1Cor 15, 28); ela põe em prática o dom que lhe foi dado pelo Cristo na Ceia (1Cor 11, 22-26), o de seu Corpo e de seu Sangue no ato perfeito de amor.

Portanto, é uma comunidade simbólica, animada por um relato que evoca o Mistério de Cristo articulado em gestos concretos, que tornam presentes e transfiguram os últimos atos da existência humana: dar e receber a vida, no nível do alimento, do sacrifício e da sexualidade. A comunidade litúrgica, precisamente por ser “protológica” e “escatológica”, não está continuamente no tempo: ela intervém nele de acordo com seu próprio ritmo. Ela também constitui uma “ordine”, uma taxis, a fim de poder iluminar e transfigurar o tempo: ela revela ao tempo seu sentido absoluto e marca as etapas de sua história.

A comunidade política, enfim, engloba uma realidade mais ampla da comunidade cristã, no sentido de que não é definida pela revelação do Evangelho nem pela misteriosa presença da Origem e do Fim. Ela gere as relações humanas em si mesmas, na terra humana; ela corresponde ao dom da criação: “Crescei, multiplicai-vos, dominai...” (Gn 1, 26-27). Ela se desenvolve, com progressos e regressos ligados a seu desenvolvimento, a seus atrasos, às felizes descobertas e às reviravoltas dramáticas. Ela também está sempre em busca de uma ordem, de uma taxis.

Ordem da Caridade, animada pelo Espírito, ordem do Mistério, recebido de Cristo, ordem da Liberdade, imagem de Deus criador. São comunidades que se correspondem. Surge sempre de novo o problema de sua articulação, cada um tendo sua própria realidade, que não é nem idêntica aos outros, nem separada dos outros, enquanto a gestão de sua comunicação deve ser sempre de novo pensada e posta em prática.

Em suma, trata-se de retomar, sem descanso e de forma viva, a interpretação das três grandes constituições do Vaticano II: Lumen gentium, Sacrosanctum Concilium e Gaudium et spes; trata-se de repensar de modo original a distinção e a comunicação entre essas três ordens da existência humana, sob a luz sempre presente do fundamento: a Revelação de Deus, Dei verbum.

Penso que essa tarefa, à qual todos se dedicam depois do fim do Concílio Vaticano II, de modo mais ou menos profético ou clássico, deve continuar hoje e, justamente nessa perspectiva, pode-se buscar uma “nova teologia eucarística”.

Para tal trabalho, é preciso encontrar um ponto de partida. Proponho buscá-lo mediante uma releitura do relato das origens, no livro do Gênesis, de 1 a 3.

(Continua...)

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