"Os migrantes obrigam o mundo a escolher". Entrevista com Alejandro Solalinde

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16 Mai 2017

“É curioso, mas os migrantes estão polarizando o mundo”, diz o sacerdote mexicano Alejandro Solalinde, candidato ao Nobel da Paz de 2017. O padre Solalinde, que escapou de um atentado dos narcotraficantes pelo seu compromisso em favor dos migrantes, está na Itália para apresentar o livro I Narcos mi vogliono morto [Os Narcos me querem morto], publicado pela editora EMI.

A reportagem é de Geraldina Colotti, publicada no jornal Il Manifesto, 14-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Nesse domingo, ele esteve em Udine, no Festival Vicino Lontano, e visitou a mostra “Vivos”, ligada ao tema dos desaparecidos mexicanos, do qual ele se ocupa há anos. No dia 18 de maio, ele estará no Salão do Livro de Turim, junto com Moni Ovadia e Alex Zanotelli.

Ele escreve: “Poucos sabem ou querem saber que, no México atual, faltam pelo menos 150 mil seres humanos, cinco vezes os desaparecidos da última ditadura argentina. Desaparecidos no vácuo daquela guerra esquecida em que os narcos rivais se enfrentam com o apoio de unidades de polícias inteiras e do Exército pelo controle dos tráficos. Assim como para muitos outros horrores cometidos durante esse conflito, os ‘testes gerais’ de desaparição foram feitos sobre os migrantes”.

Em Oaxaca, Solalinde gere a pousada para migrantes “Hermanos en el camino”. Uma estrutura – explica – “que nasceu para proteger as pessoas migrantes da polícia e dos cartéis do crime organizado. Para os criminosos, eles são a presa perfeita: oficialmente, eles não existem, não têm documentos. E, para as máfias, tudo tem um valor econômico, até mesmo os órgãos. Começamos a ajudá-los, a responder às principais necessidades concretas, como as de se comunicarem com as famílias, mas também a fornecer assistência legal, a denunciar, a reunir as diversas histórias, a entender que a migração é um fenômeno complexo”.

Eis a entrevista.

Depois da chegada de Trump, o número de pessoas que procuram ir para os Estados Unidos diminuiu?

Um pouco sim, mas o fluxo continua, inventam-se formas engenhosas para passar. De 100 pessoas que tentam ir para os Estados Unidos, 25 se rendem e voltam atrás, outros 25 tentam, mas o dado novo é que 50% permanece no México e se organiza, convencidos de que Trump não vai durar e poderão tentar de novo. O repúdio contra as políticas xenófobas de Trump, nos Estados Unidos, é forte. No dia 1º de maio, eu estive em Los Angeles em uma das três marchas gigantescas, cada vez mais numerosas, em que é evidente o papel das mulheres. A minha impressão é de que eles estão perdendo o medo de se manifestar e que estão se organizando. É curioso, mas os migrantes estão polarizando o mundo. Isso é claro nos Estados Unidos, mas também no México. A maioria é a favor dos migrantes, uma minoria tem medo deles, os criminaliza e os explora: o crime organizado, o Instituto Nacional de Migração e os políticos mexicanos em coordenação com os Estados Unidos.

No México, as manifestações pelos migrantes se uniram àquelas contra as privatizações de Peña Nieto. Há uma esperança de mudança nas próximas eleições?

Sim. Contra Trump e contra as políticas de Henrique Peña Nieto, no dia 20 de janeiro, houve uma grande manifestação e marchas em frente à embaixada dos Estados Unidos. Nunca a popularidade de um presidente caiu tão baixo como a de Nieto. O partido Morena, de Amlo, poderia ter sucesso, se a esquerda não se dividir mais uma vez. As candidaturas independentes, como a do EZLN, são boas, mas um pouco tardias. E, neste momento, como no passado, se a esquerda se dividir, o sistema ganha. Morena é um movimento novo, e devemos vigiar para que não acabe na engrenagem. Eu sugeri a Amlo uma comissão de controle social e ética, que já começou a funcionar.

O senhor tem um papel importante na busca dos desaparecidos, também dos 43 estudantes secundaristas, a partir das confissões de alguns traficantes. O que eles lhe disseram?

O fato de que os estudantes foram queimados também aparece nos exames de alguns restos mortais, mas a fogueira não aconteceu no aterro de Cucula. A equipe interdisciplinar de especialistas independentes se aproximou da verdade a partir dos testemunhos de três sobreviventes, que participaram do último encontro dos estudantes com o Exército federal e com a polícia. Em um dos ônibus, havia um grande carregamento de heroína. Eles desapareceram nos quartéis militares, onde se sabe que existem fornos crematórios. É um crime de lesa humanidade, que não prescreve. Um crime de Estado. O inquérito só poderá ter uma continuidade se Amlo vencer e as coisas mudarem.

Como o senhor escreve no livro, o México é uma gigantesca vala comum, mas a comunidade internacional, e até mesmo os bispos, têm como alvo a Venezuela que acolhe os migrantes. Por quê?

Quando há grandes recursos em jogo, e neste caso o petróleo, há a mão da CIA e dos Estados Unidos, que querem o controle geopolítico. O papa pede a paz, e eles, a guerra. Muito diferente foi a mensagem do bispo Ruiz ou de Dom Romero, que eu conheci pessoalmente. Em 1972, eu lhe pedi ajuda para a minha equipe de missionários itinerantes, que a Igreja local não aceitava. Mas ele estava entusiasmado: é o caminho do Evangelho, disse.

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