Escolaridade e renda no mercado de trabalho. Especial do Trabalho Vale do Sinos 2003-2016

Por: João Dias, João Conceição, Lucas Schardong e Marilene Maia | 03 Junho 2018

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Desde a sua criação, o Observatório das realidades e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos tem como seu foco de atuação o mundo do trabalho e dos trabalhadores. No mês de maio, quando completa dez anos de existência, o ObservaSinos preparou uma série de ações para memorar o seu trabalho de sistematização, análise e publicização de dados sobre as realidades do Vale do Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre.

Uma destas ações é o Especial do Trabalho Vale do Sinos. A série histórica do ObservaSinos abordará quatro grandes temas sobre o trabalho entre os anos de 2003 e 2016, período de grande movimentação e transição econômica, política e social no Brasil. Os dados analisados são dos 14 municípios do Conselho Regional de Desenvolvimento - Corede do Vale do Rio dos Sinos, região de atuação do Observatório.

Esta publicação especial também será um subsídio para os debates no Ciclo de Palestras: Trajetórias da Política Econômica Brasileira 2003-2017, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

Os temas abordados no Especial do Trabalho são:

Geração e gênero;
Escolaridade e renda;
Ocupação e perfil dos estabelecimentos;
Saúde do trabalhador;
Pessoas com Deficiência;
• Desigualdades raciais;

Confira a segunda parte do Especial do Trabalho Vale do Sinos com a tematização sobre a escolaridade e a renda dos trabalhadores:

Escolaridade

Em 2003, 15,3 milhões de trabalhadores brasileiros (52%) não haviam completado o ensino médio. Em 2016, esses trabalhadores passaram a ser 12,5 milhões, 27,15% dos trabalhadores formais do Brasil.

No Rio Grande do Sul, havia 1,1 milhão de trabalhadores com grau de instrução até o ensino médio incompleto em 2003, 55,51% da massa de trabalhadores do estado. Em 2016, eram 927 mil trabalhadores com escolaridade até ensino médio incompleto, 31,86% do conjunto de trabalhadores formais.

A maioria dos trabalhadores (65,50%) do Vale do Sinos não haviam completado o ensino médio em 2003, sendo que a maior parte dos trabalhadores estavam na faixa do 6º a 9º incompleto (22,36%). Esta realidade mudou radicalmente ao longo dos anos. Em 2016 a maioria dos trabalhadores (61,39%) tinha ensino médio completo, superior incompleto e superior completo e a maior parte dos trabalhadores tinha ensino médio completo, passou de apenas 21,44% dos vínculos ativos em 2003 para 41,82% dos vínculos em 2016.

 

Segundo a professora do curso de Ciências Econômicas da Unisinos, Janaína Ruffoni, é provável que essa melhoria esteja relacionada com a política de ampliação e permanência da população nas escolas. “Entendo que esse é um primeiro passo para qualificar a mão–de-obra, pois devemos continuar acreditando que a escola é capaz de transformar e ampliar as trajetórias possíveis para as pessoas e sociedade”, explica.

Se analisarmos a escolaridade dos trabalhadores dividindo-os por sexo, quase metade das mulheres em 2003 (43,57%) tinham no mínimo o ensino médio completo enquanto apenas 28,64% dos homens estavam nesta mesma condição, ou seja, desde 2003 as mulheres trabalhadoras têm proporcionalmente uma escolaridade maior que os homens. Em 2016, 67,86% das trabalhadoras têm no mínimo o ensino médio completo enquanto 56,08% dos homens trabalhadores têm a mesma característica.

 

Em 2003, Nova Hartz era o município que tinha a maior parte de trabalhadores menos qualificada do Vale do Sinos, 86,91% dos trabalhadores tinham até o ensino médio incompleto, sendo que 30% dos trabalhadores tinham até o 5º ano completo e 31,56% tinham 6º ao 9º incompleto. Em 2016 Nova Hartz continua sendo o município com mão de obra menos qualificada do Vale, 69% dos trabalhadores não haviam completado o ensino médio.

Em 2003, 42,49% dos trabalhadores em São Leopoldo tinham entre ensino médio completo e ensino superior completo e a maior parte tinha ensino médio completo (24,31%). Em 2016 65,87% dos trabalhadores do município tem ensino médio completo, ensino superior incompleto ou ensino superior completo e a maior parte dos trabalhadores tinha ensino médio completo (41,68%).

Renda

O número de trabalhadores entre 2003 e 2016 passou a diminuir no ano de 2015 no Brasil. O ano de 2003 o número de trabalhadores formais era de 29,5 milhões. O número subiu para 45,2 milhões no ano de 2016. O que representou um aumento de 53,5% no período. O ano de 2014 foi quando o número chegou ao ponto mais alto entre 2003 e 2016. O número de trabalhadores chegou a 48,8 milhões em 2014.

Ao analisar essa movimentação dos trabalhadores formais por faixas salariais, percebem-se momentos distintos de aumento e diminuição no número entre admitidos e desligados. Por exemplo, quem recebia entre meio e um salário mínimo e meio, o número maior de trabalhadores chegou em 2013, diminuindo de 17,3 milhões para 15,9 no ano de 2016. Os trabalhadores ganhando acima desses valores todos tiveram o auge das contratações até o ano de 2016 no Brasil.

No Vale do Sinos, o número de trabalhadores entre 2003 e 2016 passou a diminuir no ano de 2014. No ano de 2003 o número de trabalhadores formais era de 288 mil. O número subiu para 342 mil no ano de 2016. O que representou um aumento de 18,8% no período. O ano de 2013 foi quando o número chegou ao ponto mais alto ao analisar o período entre 2003 e 2016. O número de trabalhadores chegou a 379 mil em 2013.

 

Esses números mostram que quem ganhava entre 0,5 e 1,5 salários mínimos em 2003 representava 12% do mercado de trabalho formal, passando a representar 30% no ano de 2016. O período mais alto das contratações nessa faixa salarial foi em 2010, quando representou 35% dos trabalhadores. Quem ganhava entre 1,51 e 4 salários mínimos passou de 63% para 56% dos trabalhadores em 2016. A participação dos trabalhadores que ganhavam acima destas faixas diminuiu entre 2003 e 2016.

A professora Janaína contextualiza as mudanças salariais pelas instabilidades dos 13 anos estudados, “O período de 2003 a 2016 foi bastante turbulento, com crises e também com a entrada mais fortemente da China como uma economia concorrente em vários mercados onde o Brasil já participava. Isso desestruturou diferentes setores da nossa economia nacional e também do RS. Tal situação influencia na questão da renda do trabalhador. ”

A renda média no Vale do Sinos era de R$ 951,95 (R$ 2.049,78 a valores de 2016) no ano de 2003, passando para R$ 2.474,86 em 2016. Em 2003, Canoas possuía a maior renda média entre os municípios do Vale do Sinos e Araricá a menor. Já em 2016, São Leopoldo passou a ter a maior renda média e Nova Hartz a menor na região.

 

A maioria dos trabalhadores formais no Vale do Sinos possuem ensino médio completo (41,82%) no ano de 2016. Destes, 25,9% ganham entre 1,5 e 4 salários mínimos, sendo apenas 3,9% ganhando acima de 4 salários mínimos mensais. Os trabalhadores com ensino superior completo representavam 13,2% no ano de 2016, sendo que 6,2% deles também ganhavam entre meio e 4 salários mínimos. Os dados mostraram que houve um significativo aumento na escolaridade dos trabalhadores formais no Vale do Sinos. Assim como o aumento de trabalhadores ganhando entre meio e 4 salários mínimos na região.

A professora Janaína pondera sobre a relação entre escolaridade e salários, “Devemos pensar que há um tempo necessário para que a maior escolaridade dos trabalhadores reflita em uma maior renda. Não se sabe ao certo o tempo deste processo, então pode ser algo que esteja influenciando nos resultados encontrados.”

Na próxima semana será lançada mais uma nota do Especial do Trabalho com o tema “Ocupação e perfil dos estabelecimentos”.

 

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