Cardeal Gerhard Müller acusa: este Sínodo expulsou Jesus

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08 Outubro 2019

Começou o Sínodo sobre a Amazônia. “Porém terá consequência sobre a Igreja Universal”, adverte o cardeal Gerhard Müller, em uma entrevista conduzida por Matteo Matzuzzi para o jornal “Il Foglio”, publicada precisamente no dia de início dos trabalhos. “Ao escutar as vozes de alguns dos protagonistas dessa assembleia, se compreende facilmente que a agenda é totalmente europeia”.

Europeia e sobretudo alemã. Também na Alemanha, de fato, se iniciou um “caminho sinodal” que se inspirará no Sínodo sobre a Amazônia para reformar nada menos que a Igreja universal, um Sínodo em que os leigos terão números e votos a par dos bispos, um sínodo cujas deliberações serão “vinculantes” e se referirão ao fim do celibato sacerdotal, à ordenação das mulheres, à reforma da moral sexual e à democratização dos poderes na Igreja.

A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Settimo Cielo, 08-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

É um terremoto que desde o momento que foi anunciado semeou inquietude no mesmo papa Francisco, que em junho escreveu aos bispos alemães uma carta aberta para induzi-los a moderar suas desproporcionadas ambições. Em setembro, o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, escreveu uma carta ainda mais forte, caracterizando como inválido o Sínodo iniciado em movimento na Alemanha. E está fora de toda dúvida que Ouellet se move em sintonia e acordo com o Papa. Foi dado prova disso há poucos dias, quando se declarou “cético” sobre a ideia de ordenar homens casados – ponto chave dos Sínodos amazônicos e alemães – para agregar imediatamente que é cético “também alguém que está acima de mim”. Enquanto Francisco, quis encontrar em 25 de setembro oito jovens catequistas do norte da Tailândia, animadores de pequenas comunidades remotas, reunidas muito raramente por um padre que celebra a Missa, porém muito longe de pedir por esse motivo a ordenação de homens casados. “O Reino dos Céus é dos pequenos”, disse o Papa “profundamente comovido”, no relatório do L’Osservatore Romano.

Porém as advertências efetuadas por Roma à Alemanha não teve até agora nenhum efeito. “Não será Roma que nos dirá o que devemos fazer na Alemanha”, declarou o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e presidente da Conferência Episcopal Alemã, já entre a primeira e a segunda sessão do Sínodo sobre a Família. E continua atendo-se a esse mantra, na Alemanha com o consenso da maioria e a oposição de poucos, entre os quais o de maior peso é o arcebispo de Colônia, o cardeal Rainer Maria Woelki, que chegou a denunciar o perigo de um cisma.

“Na Alemanha – disse Müller, que também é alemão, porém não tem uma diocese e, por consequência, não faz parte da Conferência Episcopal – querem quase que refundar a Igreja Católica. Pensam que Cristo é somente um homem que viveu a dois mil anos atrás, consideram que não foi um homem moderno, estão convencidos que não tinha nada de suas doutas formações. Por isso pensam que é necessário preencher essas lacunas e esperam agir sobre elas. Em uma homilia, o cardeal Marx perguntou retoricamente: ‘Se Cristo estivesse aqui hoje, diria o que disse há dois mil anos?’. Porém Cristo não é uma figura histórica como o César. Jesus Cristo é o ressuscitado que está presente, que celebra a Missa através de seu representante ordenado sacerdote. É o sujeito da Igreja e sua Palavra permanece e vale eternamente. Cristo é a plenitude da Revelação, por isso não haverá outra Revelação. Somos nós os que devemos buscar conhece-la mais e melhor, certamente não podemos muda-la. Cristo é insuperável e irreversível, porém isso hoje não parece ser muito claro em certas latitudes”.

Para Müller esse erro está presente também no Instrumentum laboris, o documento base do Sínodo sobre a Amazônia: “um documento que não fala de Revelação, do Verbo encarnado, da Redenção, da Cruz, da Vida eterna”, mas sim que exalta no lugar da Revelação divina, para assumir como tais, as tradições religiosas dos povos indígenas e suas cosmovisões.

Em Aparecida, em 2007, Bento XVI alertou os bispos do continente sobre isso. “A utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, separando-as de Cristo e da Igreja universal – disse –, não seria um progresso, mas sim um retrocesso, uma involução para um momento histórico ancorado no passado”. Porém foi coberto de críticas pelos teóricos de “uma nova compreensão da Revelação de Deus” identificada nos povos indígenas, sem querer converte-los então. Entre os mais aguerridos estava justamente um teólogo alemão emigraram para o Brasil, Paulo Suess, inspirador do bispo Erwin Kräutler, nascido na Áustria, grande estrategista do Sínodo sobre a Amazônia, coautor do Instrumentum laboris e incentivadores da ideia de fazer celebrar o sacramento da Eucaristia não somente por viri probati, mas também por “mulheres casadas que dirigem uma comunidade”.

"Mas também não há direito ao sacramento", objeta Müller. “Somos criaturas de Deus e uma criatura não pode reivindicar um direito ao seu criador. A vida e a graça são dons. O homem tem o direito de se casar, mas não pode afirmar que uma certa mulher o desaprova reivindicando um direito específico. Jesus livremente escolheu doze deles entre todos os seus discípulos, apresentando assim sua autoridade divina. Ele escolheu aqueles que queria, é Deus quem escolhe. Ninguém pode entrar no santuário sem ser chamado. Mais uma vez a mentalidade secularizada prevalece: é pensada como homem, não como Deus”.

“O celibato sacerdotal – continua Müller na entrevista para Il Foglio – só pode ser entendido no contexto da missão escatológica de Jesus, que criou um novo mundo. Houve uma nova criação. Com as categorias de secularismo, você não consegue entender a indissolubilidade do casamento, assim como o celibato ou a virgindade das ordens religiosas. Tampouco esses problemas podem resolver problemas que têm sua origem exclusivamente na crise da fé. Não se trata de recrutar mais pessoas para administrar os sacramentos, mas é necessária uma preparação espiritual, é necessário entrar na espiritualidade dos apóstolos. É necessária uma preparação espiritual e teológica, é necessário entrar na espiritualidade dos apóstolos, não prestando atenção aos órgãos leigos que aconselham muito e sobre muitas coisas por razões totalmente contrastantes com a missão da Igreja. Serve à espiritualidade, não ao mundanismo”.

Uma mundanização vê o cardeal Müller também na maneira como parte da Igreja se alinha à ideologia ambientalista:

“A Igreja é de Jesus Cristo e deve pregar o Evangelho e dar esperança para a vida eterna. Você não pode se tornar o protagonista de nenhuma ideologia, seja a de 'gênero' ou a de neopaganismo ambientalista. É perigoso se isso acontecer. Volto ao 'Instrumentum laboris' preparado para o Sínodo na Amazônia. Em um de seus parágrafos, ele fala da "Mãe-Terra": mas essa é uma expressão pagã. A terra vem de Deus e nossa mãe na fé é a Igreja. Somos justificados pela fé, esperança e amor, não pelo ativismo ambiental. É verdade que o cuidado do criado é importante, afinal vivemos em um jardim querido por Deus. Mas este não é o ponto decisivo. O fato é que, para nós, Deus é a coisa mais importante. Jesus deu sua vida pela salvação dos homens, não do planeta”.

Para L'Osservatore Romano, que publicou um obituário da geleira islandesa Okjökull, morta “por culpa nossa”, Müller objeta: “Jesus se tornou um homem, não um cristal de gelo”. E ele continua dizendo:

“Certamente a Igreja pode dar sua própria contribuição com boa ética, com doutrina social, com ensino, lembrando princípios antropológicos. Mas a primeira missão da Igreja é pregar Cristo, o Filho de Deus. Jesus não disse a Pedro para lidar com o domínio do Império Romano, ele não entra em diálogo com César. Ele manteve uma boa distância. Pedro não era amigo de Herodes ou Pilatos, mas sofreu o martírio. A cooperação com um governo legítimo é justa, mas nunca esquecendo que a missão de Pedro e seus sucessores é unir todos os crentes na fé em Cristo, que não confiou que eles lidam com as águas do Jordão ou da vegetação da Galileia”.

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