O papa, a prêmio Nobel e o general. Convidados indesejados: os Rohingya

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30 Novembro 2017

Rohingya. Enfim, Bergoglio não pronuncia a palavra proibida. Ou, pelo menos, não a pronuncia no público.

Em seu segundo dia na Birmânia o Papa Francisco, que se reuniu no dia anterior durante apenas 15 minutos com o general mais antigo e de maior patente do país, foi recebido pela Nobel da Paz Aung San Suu Kyi por 45 minutos. Uma entrevista privada e, com toda probabilidade, sem tanta cerimônia, em que o pontífice deve ter feito referência ao drama da comunidade rohingya para a qual, no passado, já proferiu fortes palavras, da janela de seu gabinete com vista para a Praça de São Pedro.

A reportagem é de Emanuele Giordana, publicada por Il Manifesto, 29-11-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

O homem que chamou os rohingyas de "irmãos e irmãs" e que, diziam na época fontes confidenciais, já tinha confrontado sobre o tema a Prêmio Nobel, por ocasião da sua visita a Roma no verão passado (quando o Vaticano e Mianmar retomaram relações diplomáticas), em seu discurso público destacou alguns pontos importantes, também reiterados no encontro com os líderes religiosos. O papa desejou a construção de uma "ordem social justa, reconciliada e inclusiva" e lembrou (já são agora poucos a fazer isso) a importância do papel da ONU.

Mas principalmente, disse: "O futuro de Mianmar deve ser a paz, uma paz fundada no respeito pela dignidade e direitos de cada membro da sociedade, no respeito a cada grupo étnico e sua identidade, no respeito pelo estado de direito e uma ordem democrática que permita a cada indivíduo e cada grupo - sem exceção - oferecer a sua legítima contribuição para o bem comum".

O discurso é claro, especialmente naquele detalhe “sem exceção” que equivale, ainda que em linguagem diplomática, a pronunciar a palavra "rohingya".

"As diferenças religiosas - acrescentou o Papa - não devem ser fonte de divisão e desconfiança, mas sim uma força para a unidade, para o perdão e para a tolerância". É um conceito que o Papa Francisco retomou também com representantes das várias comunidades religiosas a quem falou de um "coro das diferenças", onde a diversidade torna-se uma riqueza. No grupo havia também três líderes muçulmanos.

Em seu discurso público Aung San Suu Kyi manteve-se, ao contrário, nos tons formais e agradeceu ao Santo Padre por sua visita e pelo convite para prosseguir com a construção de uma nova sociedade. Nenhuma menção ao drama dos rohingyas, apenas uma breve digressão em que apareceu o termo Rakhine (o Estado de onde os rohingyas foram expulsos). Nada mais.

Permanece um pequeno mistério a mudança de programa que inicialmente previa para 30 de novembro a reunião com o poderoso general Min Aung Hlaing, o homem forte do Exército. Talvez Francisco tenha preferido evitar a pompa de um encontro demasiado oficial e optado por um breve encontro privado, talvez para evitar dar muito destaque para o general. Uma atenção ao contrário reservada, com todos os protocolos cerimoniais, tanto ao presidente Htin Kyaw como para a sua premiê de facto, Aung Sann Suu Kyi. O general também não recebeu qualquer destaque público, mas foi apenas uma espécie de etapa obrigada pela etiqueta. O pontífice não lhe concedeu nada mais do que a obrigação de respeitá-la.

A viagem ao Mianmar chegou ao fim e, antes da sua continuação para o Bangladesh, incluiu uma reunião com os líderes da Sangha, o "Vaticano" dos monges birmaneses, e com o Comitê dos monges que interagem com o governo e que regem as relações entre leigos e o clero. É fácil imaginar que, inclusive com eles, o Papa irá reiterar sua mensagem de unidade para além do credo religioso. Uma maneira de lembrar os rohingyas, mas também a pequena comunidade católica de apenas 700 mil almas.

Depois será a vez da viagem para Bangladesh, onde está agora praticamente confirmado que Francisco vai se reunir com um grupo de rohingya. Descartada a visita do Papa a Cox’s Bazar, onde uma massa de mais de 600 mil refugiados vive em condições de miséria. A delegação dos rohingyas provavelmente o encontrará em Dhaka, em uma data que poderia ser 1º. de dezembro. Faltarão 24 dias para o Natal, o dia mais importante para um católico e também o período em que em Bangladesh as pessoas visitam em férias justamente Cox’s Bazar, conhecida por ter a maior praia do mundo. E, agora, por ser um inferno.

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