Se Deus está morto, tudo é permitido? Entrevista especial com Michael Kirwan

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Por: Márcia Junges e Patricia Fachin | Tradução: Walter Schlupp | 17 Abril 2019

“A política não nos conseguirá salvar mais.” Essa frase, dita por René Girard em 2012, durante uma entrevista, demonstra que ele “era meio pessimista em termos de política”, frisa Michael Kirwan na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail.

Segundo ele, a função sacrificial dos sistemas políticos, como o Estado, não foi tema das investigações de Girard, mas tem sido abordada pelos estudiosos girardianos que “têm explorado os aspectos políticos e econômicos da sua teoria”, a partir de aproximações entre o conceito de bode expiatório e as teorias políticas de Agostinho, Hobbes e Carl Schmitt.

Na avaliação de Kirwan, Girard se insere numa geração de intelectuais do pós-guerra que estavam “ansiosos por buscar esclarecimentos sobre a condição humana em um mundo que ‘irradiava desastre triunfal’”. Essa questão, ressalta, “era particularmente candente para Girard e seus contemporâneos existencialistas. Eles buscavam autenticidade na sequência do horrendo colapso moral e político da Europa, e na ausência de consolo religioso, uma vez que [se dizia que] ‘Deus está morto’. Muitos desses pensadores, e Girard era um deles, passaram a considerar o problema do desejo como o cerne do desafio de autenticidade. Assim sendo, Girard faz parte de uma geração que cultivava a investigação e preocupação ‘existencialista’”.

Entre os pensadores com os quais Girard dialogou, Kirwan menciona Freud, Hegel e Nietzsche, com quem ele “viu-se em conflito criativo”. “Ele concorda inteiramente com a visão de Nietzsche, de que há uma escolha a ser feita, entre ‘Dionísio’ e ‘O Crucificado’; ele discorda sobre qual dessas opções seria a autêntica. (...) Talvez estejamos lidando com uma reflexão ampliada sobre o ambíguo e perturbador axioma de que, ‘se Deus está morto, tudo é permitido’. Nem Girard nem Dostoiévski aceitam o veredito negativo de Nietzsche sobre o cristianismo, embora compartilhem boa parte do seu diagnóstico sobre o que essa rejeição implicaria”, ressalta. 

Do mesmo modo, explica, Girard não compartilha a noção de “subconsciente” entendida pela psicanálise e desenvolvida por Freud. “Girard fala, em vez disso, do não reconhecimento (méconnaisance) de determinado tipo que ocorre como resultado de nossa vulnerabilidade, temerosos em face do conflito mimético. É um medo que nos faz ver monstros e demônios, em vez de irmãos e irmãs; faz ver culpa em vez de inocência. Este é o ‘desconhecido’ para o qual Jesus pede perdão na cruz, para seus assassinos, convencidos de estarem praticando uma ação sagrada. Como se poderá expor e superar tal estado de ignorância? Não pelo engajamento estruturado com os próprios traumas infantis, como no diálogo psicanalítico, mas por meio de ‘conversão’, proposta em seu sentido religioso mais direto por Paulo, Pedro, Agostinho, etc. Para tanto há analogias na literatura universal, como em escritores europeus favoritos de Girard, como Shakespeare e Hölderlin [1]. A sabedoria e autoconhecimento que vêm à luz nesses escritos são fruto não da introspecção no passado, mas de interação com o presente”, conclui.

Michael Kirwan (Foto: Jesuits.org)

Michael Kirwan graduou-se em Literatura no St. John’s College, em Oxford. Ingressou na Companhia de Jesus em 1980; de 1982 a 1984 estudou Filosofia e de 1986 a 1989 cursou Teologia no Heythrop College, faculdade jesuíta em Londres. É PhD em Teologia por essa instituição com a tese Friday’s children: an examination of contemporary martyrdom in the light of the mimetic theory of René Girard. Desde 1998 é professor de Teologia no Heythrop College e chefe do Departamento de Teologia. De sua extensa produção bibliográfica, citamos Discovering Girard (Darton, Longman and Todd, London, 2004), Political theology: a new introduction (DLT: London, 2008) e Girard and Theology (T&T Clark Continuum: London and NY, 2009).

*Entrevista publicada originalmente na edição 479 da Revista IHU On-Line, de 21 de dezembro de 2015.

 

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Quais foram as contribuições centrais de Girard para a filosofia e a teologia?

Michael Kirwan - Girard pertencia a uma geração de intelectuais do pós-guerra, ansiosos por buscar esclarecimentos sobre a condição humana em um mundo que (para usar palavras de Adorno [2]) "irradiava desastre triunfal". O que é que torna autêntica uma vida humana, em vez de inautêntica?

Trata-se da clássica pergunta filosófica: a imagem da caverna, de Platão, por exemplo, descreve a viagem de uma existência falsa para uma verdadeira.

Essa questão era particularmente candente para Girard e seus contemporâneos existencialistas. Eles buscavam autenticidade na sequência do horrendo colapso moral e político da Europa, e na ausência de consolo religioso, uma vez que [se dizia que] "Deus está morto". Muitos desses pensadores, e Girard era um deles, passaram a considerar o problema do desejo como o cerne do desafio de autenticidade. Assim sendo, Girard faz parte de uma geração que cultivava a investigação e preocupação "existencialista".

Interessante é como essa jornada intelectual dá uma guinada religiosa na vida de Girard. Sua trajetória sugere como um cético, de postura "suspeita" ao extremo, ao fim e ao cabo pode acabar se transformando. Girard ficou surpreso ao descobrir que sua pesquisa o levou de volta para a fé cristã, a qual ele havia abandonado anos antes. Seu próprio compromisso religioso, cada vez mais explícito em suas publicações e palestras, certamente é fora do comum.

Entretanto, Girard não tinha a pretensão de ser um pensador religioso original. Sua colaboração com teólogos como Raymund Schwager [3] e James Alison [4] foi muito significativa, mas ele não vê a si mesmo como quem estivesse lidando diretamente com teologia. Quando muito, ele era um leitor de textos, sejam da Escritura, sejam outros. Esses textos demonstravam e confirmavam os padrões de desejo e conflito identificados por sua teoria.

IHU On-Line - Em outra entrevista que nos concedeu, o senhor comentou que a teoria de Girard foi construída em diálogo com o pensamento de Durkheim [5], Hegel, Freud e Nietzsche. Com quais aspectos da obra de cada um desses autores Girard dialogou, e por quais razões houve a necessidade de dialogar com eles?

Michael Kirwan - Como indiquei acima, em muitos aspectos Girard não era um pensador "original": ele afirmou que suas descobertas podiam ser encontradas nas páginas da Bíblia, assim como nas culturas e na literatura por ela influenciadas. Além disso, podemos ver como ele se envolveu profundamente com pequeno número de pensadores cruciais, fazendo significativos ajustes ou acréscimos às suas ideias.

Émile Durkheim descreve transcendência religiosa como projeção grupal ou "efervescência" social; Girard concorda em que isto é legítimo reflexo da transferência que ocorre no mecanismo do bode expiatório: a projeção de medo e ódio humanos. Mas Girard insistiria que, mais além desse "falso outro", há um "realmente outro", que não é projeção humana, mas o verdadeiro Deus, buscando a nossa atenção.

Significativa para Girard é a interpretação de Hegel [6] sobre o embate entre senhor e escravo a buscarem "reconhecimento". Mas ele amplia a versão dessa luta, que para ele trata mesmo é de um objeto comum do desejo (disputado, portanto), a se escalar para uma luta pelo prestígio, pelo "ser" em si. No complexo de Édipo, Freud [7] apresenta famoso exemplo do desejo autoconflitivo: imite-me, mas não imite meus desejos. Girard expande a questão: esse contorcionismo é uma característica de todos os relacionamentos, não apenas entre pai e filho. Em cada caso, temos a impressão de que cada pensador tem uma compreensão parcial ou imperfeita da verdade, e que Girard está tentando fornecer o elemento que falta.

IHU On-Line - Em que consiste a leitura não sacrificial do texto bíblico no pensamento de Girard? Por que ele faz essa leitura "não sacrificial" e em que aspecto essa perspectiva se diferencia da leitura que era feita até então, nos mitos?

Michael Kirwan - Acredito ser útil, no final das contas, usar a distinção de um teólogo francês, Louis-Marie Chauvet [8], entre "não sacrificial" e "antissacrificial". Girard muda dessa primeira posição para o segundo tipo de pensador. Em suas primeiras publicações, ele estava convicto de que o cristianismo não deve pensar-se em termos de sacrifício. "Sacrifício" era sinônimo da violenta exclusão do bode expiatório, portanto incompatível com a auto-oferenda de Jesus, a nos unir com o "efetivamente outro", em vez de uma projeção falsa. O Girard posterior aceita que a terminologia do sacrifício está em tensão com a revelação cristã, mas não deve ser simplesmente descartada. O termo "antissacrificial" indica, portanto, uma jornada, de bode expiatório para a auto-oferenda, um contínuo, talvez, ao invés de oposição pura e simples.

A ideia de um "êxodo do sacrifício" faz sentido, aqui. Como os israelitas fugindo do Egito, somos gratos por certo tipo de "libertação"; mas para que essa libertação realmente seja eficaz, precisamos manter viva a memória de onde viemos, exatamente como o povo judeu faz ao comemorar a Páscoa. Simplesmente tirar de cena o sacrifício (o que seria uma postura "não sacrificial") apenas convidará um "retorno do reprimido"; e a exclusão das vítimas se fará sentir com força ainda maior, de formas ocultas e imprevisíveis.

IHU On-Line - Como a questão das vítimas do mecanismo sacrificial é abordada no pensamento de Girard?

Michael Kirwan - Mesmo que a posição "antissacrificial" seja um enquadramento mais sutil do problema, permaneceu absoluta a oposição de Girard à [noção de] "bode expiatório" e exclusão. A falsa transcendência, a surgir após a morte ou expulsão da vítima demonizada, faz com que aquela pessoa seja "reapresentada" como ser sobrenatural, fonte de nova harmonia e bênção. Em outras palavras, nesse processo a humanidade da vítima sumiu de vista. Podemos pensar em muitos exemplos tristes, como as imagens subumanas aplicadas aos judeus no antissemitismo e na ideologia nazista, ou a descrição da tribo inimiga como "baratas" durante o conflito em Ruanda. Podemos ter certeza de que, quando a humanidade de pessoas vulneráveis está sendo apagada dessa forma, estamos diante de processos do falso sagrado.

IHU On-Line - Que leitura faz da análise de Girard sobre o sacrifício de Isaque e, posteriormente, o sacrifício de Jesus?

Michael Kirwan - Determinada interpretação do sacrifício de Isaque está bem em conformidade com a teoria mimética de Girard, ou seja, de que o relato em Gênesis 22 registra o momento histórico em que um grupo humano específico descobriu e decidiu que o sacrifício de crianças era desnecessário para a união com o divino; e que, na verdade, Deus teria indicado expressamente uma rota alternativa. O carneiro que Abraão mata, ao invés [do filho], é a primeira de uma série de "substituições'' que encontramos ao longo da prática ritual judaica, como a circuncisão, oferta simbólica do primogênito, sacrifícios não animais, etc., cedo ou tarde gerando uma compreensão mais interiorizada, "espiritual". O auge desse processo, para os cristãos, é a pessoa de Jesus, cuja auto-oferenda afasta de uma vez por todas a necessidade de sacrifício por qualquer outro ser humano (Jesus é identificado, pelos teólogos cristãos, como o carneiro morto por Abraão). Mas nem todos os exegetas bíblicos aceitariam essa leitura de Gênesis 22.

Também vale dizer que outros textos do Antigo Testamento parecem mais significativos para Girard e para os teóricos girardianos, como a história de José depois, em Gênesis, ou os poemas do Servo Sofredor, em Isaías. O que é comum a todos os três textos, no entanto, é que o processo de sacralização violenta por meio de bode expiatório é interrompido ou evitado: José e Isaque não morrem de fato, e o Servo é reabilitado, mas não sacralizado. Em cada um dos casos, chama-se a atenção para o fato de que algo muito mais profundo está acontecendo ali.

IHU On-Line - Os conceitos mimético e bode expiatório de Girard nos ajudam a compreender as relações entre o Oriente e o Ocidente?

Michael Kirwan - É interessante lembrar que a teoria de Girard foi elaborada nos anos 60 e 70, quando a ordem política global estava dominada pela "Guerra Fria", pelo impasse entre capitalismo e comunismo. A situação apresenta-se como caso clássico de "duplicação" mimética, que para Girard é o resultado inevitável de um conflito em que os adversários acabam se espelhando um ao outro, por mais que tentem enfatizar suas diferenças. Enquanto essa competição certamente foi grave em termos das suas implicações militares — muitas "guerras por procuração", a angústia da crise dos mísseis cubanos, etc. —, também podemos olhar para trás constatando com espanto o quanto essa rivalidade alimentou tantas outras atividades, como a corrida espacial, esportes e assim por diante. É claro que havia duas ideologias travadas em mútua desconfiança e ódio, mas também fascínio, exatamente da maneira que Girard descreve.

IHU On-Line - De que maneira a ideia do sacrifício de Isaque se manifesta na contemporaneidade?

Michael Kirwan - Existe um conhecido poema do poeta inglês Wilfred Owen [09], que morreu em campanha militar semanas antes do fim da Primeira Guerra Mundial. "A parábola do velho e do novo homem", é uma chocante releitura de Gênesis 22, em que Abraão se recusa à proposta de Deus, “de matar seu melhor carneiro, ao invés [do filho Isaque]". Ele mata mesmo seu filho "e toda a descendência da Europa, um a um". Resumindo, é uma metáfora para os jovens da Europa lançados na batalha por implacáveis generais. Vale a pena lembrar este poema à luz do último livro de Girard, Battling to the End (original francês Achever Clausewitz). Ali Girard fala longamente sobre a escalada da violência no mundo contemporâneo, sendo a guerra o exemplo mais assustador. Por milhares de anos a guerra tem sido um uso controlado, codificado, de violência limitada, a fim de evitar a violência total. Numa era de guerra total moderna, onde a "guerra ao terror" nos coloca a todos na linha de frente, essas restrições não valem mais; e é muito real o perigo de a violência se escalar em extremo paroxismo. Este tipo de processo assustador é sugerido quando Wilfred Owen reformula a história Isaque.

IHU On-Line - É possível verificar a ressonância desse pensamento em outras áreas do saber, como a política e a economia, por exemplo?

Michael Kirwan - Girard era meio pessimista em termos de política; em 2012, ele declarou que "a política não nos conseguirá salvar mais", o que talvez seja compreensível em face das crises a nos ameaçar: segurança, economia, política, ambiente. No geral, mais que o próprio Girard, têm sido estudiosos girardianos que têm explorado os aspectos políticos e econômicos da sua teoria. Há uma clara afinidade entre o mecanismo de bode expiatório e da teoria política (Agostinho [10], Hobbes [11] e, no século XX, Carl Schmitt [12]), que salienta a função "sacrificial" dos sistemas políticos, tais como o Estado, na manutenção da ordem através da restrição de caos e desordem. Entidades políticas surgem — sugere-se — através da promoção de fortes laços internos de afinidade, junto com uma projeção igualmente forte de hostilidade contra forças externas, "estrangeiras". Há estudos interessantes sobre as implicações econômicas da teoria mimética de Girard. Qualquer mercado seria simplesmente um mecanismo para a correlação recíproca e bem-sucedida dos desejos das pessoas — por mercadorias, moedas, etc., e como tal pode ser entendido usando-se a teoria de Girard. Também é digno de nota que a concorrência econômica, embora muitas vezes discutida em termos de antagonismo implacável, tem o potencial de ser uma "substituição", em grande parte benigna, da interação mais grave que seria a guerra.

IHU On-Line - Qual é a influência das elaborações nietzschianas do ressentimento e da culpa, em A Genealogia da Moral, no pensamento de Girard?

Michael Kirwan - Girard, certamente, viu-se em conflito criativo com Nietzsche [13], semelhante ao seu envolvimento com Freud e Hegel, descrito acima. Ele concorda inteiramente com a visão de Nietzsche, de que há uma escolha a ser feita, entre "Dionísio" e "O Crucificado"; ele discorda sobre qual dessas opções seria a autêntica. O diagnóstico de ressentimento está, certamente, em consonância com suas próprias descrições de desejo mimético contorcido, embora se possa dizer que Girard, crítico literário, provavelmente se aproxime deste tema mais diretamente pelo seu estudo de Dostoiévski [14]. Talvez estejamos lidando com uma reflexão ampliada sobre o ambíguo e perturbador axioma de que, "se Deus está morto, tudo é permitido". Nem Girard nem Dostoiévski aceitam o veredito negativo de Nietzsche sobre o cristianismo, embora compartilhem boa parte do seu diagnóstico sobre o que essa rejeição implicaria.

IHU On-Line - Por outro lado, como o mecanismo do subconsciente, em Freud, se aproxima de uma leitura girardiana da vingança?

Michael Kirwan - Embora Freud seja importante parceiro de diálogo para Girard, a noção do subconsciente como entendido na psicanálise não desempenha papel significativo para ele. Girard fala, em vez disso, do não reconhecimento (méconnaisance) de determinado tipo que ocorre como resultado de nossa vulnerabilidade, temerosos em face do conflito mimético. É um medo que nos faz ver monstros e demônios, em vez de irmãos e irmãs; faz ver culpa em vez de inocência. Este é o "desconhecido" para o qual Jesus pede perdão na cruz, para seus assassinos, convencidos de estarem praticando uma ação sagrada. Como se poderá expor e superar tal estado de ignorância? Não pelo engajamento estruturado com os próprios traumas infantis, como no diálogo psicanalítico, mas por meio de "conversão", proposta em seu sentido religioso mais direto por Paulo, Pedro, Agostinho, etc. Para tanto há analogias na literatura universal, como em escritores europeus favoritos de Girard, como Shakespeare e Hölderlin. A sabedoria e autoconhecimento que vêm à luz nesses escritos são fruto não da introspecção no passado, mas de interação com o presente.

IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?

Michael Kirwan - Com a morte de René Girard em novembro de 2015, sua teoria naturalmente vai ser reavaliada por muita gente, sendo seu desenvolvimento futuro acompanhado de perto na ausência do "patriarca fundador". Na verdade, por vários anos ele já era um participante ativo na discussão e debate sobre as suas ideias. O que impressiona, enquanto isso, é o quanto a teoria se libertou das suas origens europeia e norte-americana. Ainda há muita atividade entre os estudiosos dos EUA, da França, Itália e Áustria; mas as redes agora têm aumentado na Austrália e América do Sul, na medida em que o significado desta extraordinária teoria recebe reconhecimento mundial. Para os atuais leitores, vale a pena lembrar que Girard apenas uma vez apresentou suas ideias para uma audiência fora da Europa ou dos EUA, quando participou de um colóquio com teólogos da libertação no Brasil, em 1990.

 

Notas: 

[1] Johann Christian Friedrich Hölderlin (1770— 1843): poeta lírico e romancista alemão. Conseguiu sintetizar na sua obra o espírito da Grécia antiga, os pontos de vista românticos sobre a natureza e uma forma não-ortodoxa de cristianismo, alinhando-se hoje entre os maiores poetas germânicos. Em 1788 iniciou seus estudos em Teologia na Universidade de Tübingen, como bolsista. Lá conheceu Hegel e Schelling, que mais tarde se tornariam seus amigos. Devido aos recursos limitados da família e de sua recusa em seguir uma carreira clerical, Hölderlin trabalhou como um tutor para crianças de famílias ricas.Em 1796 foi professor particular de Jacó Gontard, um banqueiro de Frankfurt, cuja esposa, Susette, viria a ser seu grande amor. Susette Gontard serviu de inspiração para a composição de Diotima, protagonista de seu romance epistolar Hyperion. Sobre Holderin, a IHU On-Line publicou a edição número 475, em 19.10.2015, intitulada Hölderlin. O trágico na noite da Modernidade. (Nota da IHU On-Line)

[2] Theodor Adorno [Theodor Wiesengrund Adorno] (1903-1969): sociólogo, filósofo, musicólogo e compositor, definiu o perfil do pensamento alemão das últimas décadas. Adorno ficou conhecido no mundo intelectual, em todos os países, em especial pelo seu clássico Dialética do Iluminismo, escrito junto com Max Horkheimer, primeiro diretor do Instituto de Pesquisa Social, que deu origem ao movimento de idéias em filosofia e sociologia que conhecemos hoje como Escola de Frankfurt. Sobre Adorno, confira a entrevista concedida pelo filósofo Bruno Pucci à edição 386 da Revista IHU On-Line, intitulada Ser autônomo não é apenas saber dominar bem as tecnologias. A conversa foi motivada pelo palestra Theodor Adorno e a frieza burguesa em tempos de tecnologias digitais, proferida por Pucci dentro da programação do Ciclo Filosofias da Intersubjetividade. (Nota da IHU On-Line)

[3] Raymund Schwager (1935-2004): sacerdote suíço e teólogo. (Nota da IHU On-Line)

[4] James Alison (1959): teólogo católico, sacerdote e escritor. Com estudos em Oxford, é doutor pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE, de Belo Horizonte. É considerado um dos principais expositores da vertente teológica do pensamento de René Girard. Atualmente é Fellow, da Fundação Imitatio, instituição que apoia a divulgação da teoria mimética. Há mais de 15 anos é um dos raros padres e teólogos católicos assumidamente gays. Seu trabalho é respeitado em todo o mundo pelo caminho rigoroso e matizado que tem aberto nesse campo minado da vida eclesiástica. Seus sete livros já foram traduzidos para o espanhol, italiano, francês, holandês e russo. Em português podem ser lidos Uma fé além do ressentimento: fragmentos católicos numa chave gay (São Paulo: É Realizações, 2010) e O pecado original à luz da ressurreição (São Paulo: É Realizações, 2011). Seu trabalho mais recente é A vítima que perdoa – uma introdução para a fé cristã para adultos em doze sessões (www.forgivingvictim.com). A versão em língua inglesa será lançada em texto e vídeo ainda em 2012 com a possibilidade de versões em outros idiomas em andamento. James Alison reside em São Paulo, onde está iniciando uma pastoral católica gay e viaja pelo mundo inteiro dando conferências, palestras e retiros. Textos seus podem ser encontrados no site www.jamesalison.co.uk. Mais detalhes sobre a Fundação Imitatio encontram-se disponíveis no link endereço www.imitatio.org. Confira as entrevistas concedidas por Alison à IHU On-Line: O amor homossexual. Um olhar teológico-pastoral, na edição 253, de 07-04-2008; Uma fé para além do ressentimento, na edição 393, de 21-05-2012, e "O perdão antecede o pecado". A superação de uma visão moralista e chantagista, na edição 402, de 10-09-2012. (Nota da IHU On-Line)

[5] David Émile Durkheim (1858-1917): conhecido como um dos fundadores da Sociologia moderna. Foi também, em 1895, o fundador do primeiro departamento de sociologia de uma universidade européia e, em 1896, o fundador de um dos primeiros jornais dedicados à ciência social, intitulado L'Année Sociologique. (Nota da IHU On-Line)

[6] Presumivelmente alvo da mencionada "projeção de medo e ódio humanos". (Nota do tradutor)

[7] Friedrich Hegel (Georg Wilhelm Friedrich Hegel, 1770-1831): filósofo alemão idealista. Como Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, tentou desenvolver um sistema filosófico no qual estivessem integradas todas as contribuições de seus principais predecessores. Sobre Hegel, confira a edição 217 da IHU On-Line, de 30-04-2007, intitulada Fenomenologia do espírito, de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1807-2007), em comemoração aos 200 anos de lançamento dessa obra. Veja ainda a edição 261, de 09-06-2008, Carlos Roberto Velho Cirne-Lima. Um novo modo de ler Hegel, e Hegel. A tradução da história pela razão, edição 430. (Nota da IHU On-Line)

[8] Sigmund Freud (1856-1939): neurologista, fundador da psicanálise. Interessou-se, inicialmente, pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse quadro. Mais tarde, interessado pelo inconsciente e pelas pulsões, foi influenciado por Charcot e Leibniz, abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da psicanálise. Freud nos trouxe a ideia de que somos movidos pelo inconsciente. Freud, suas teorias e o tratamento com seus pacientes foram controversos na Viena do século XIX, e continuam ainda muito debatidos hoje. A edição 179 da IHU On-Line, de 08-05-2006, dedicou-lhe o tema de capa sob o título Sigmund Freud. Mestre da suspeita. A edição 207, de 04-12-2006, tem como tema de capa Freud e a religião. A edição 16 dos Cadernos IHU em formação tem como título Quer entender a modernidade? Freud explica. (Nota da IHU On-Line)

[9] Louis-Marie Chauvet (1942): teólogo católico francês. (Nota da IHU On-Line)

[10] Wilfred Edward Salter Owen (1893-1918): poeta e militar inglês. Estudou nas Universidades de Liverpool e Londres, e veio a morrer em combate. (Nota da IHU On-Line)

[11] Santo Agostinho (Aurélio Agostinho, 354-430): bispo, escritor, teólogo, filósofo foi uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente. Ele foi influenciado pelo neoplatonismo de Plotino e criou os conceitos de pecado original e guerra justa. (Nota da IHU On-Line)

[12] Thomas Hobbes (1588–1679): filósofo inglês. Sua obra mais famosa, O Leviatã (1651), trata de teoria política. Neste livro, Hobbes nega que o homem seja um ser naturalmente social. Afirma, ao contrário, que os homens são impulsionados apenas por considerações egoístas. Também escreveu sobre física e psicologia. Hobbes estudou na Universidade de Oxford e foi secretário de Sir Francis Bacon. A respeito desse filósofo, confira a entrevista O conflito é o motor da vida política, concedida pela Profa. Dra. Maria Isabel Limongi à edição 276 da revista IHU On-Line, de 06-10-2008. (Nota da IHU On-Line)

[13] Carl Schmitt (1888-1985): jurista, filósofo político e professor universitário alemão. É considerado um dos mais significativos (porém também um dos mais controversos) especialistas em direito constitucional e internacional da Alemanha do século XX. A sua carreira foi maculada pela sua proximidade com o regime nacional-socialista. Entre outros, é autor de Teologia política (Politische Theologie), tradução de Elisete Antoniuk, Belo Horizonte: Ed. Del Rey, 2006 e "O Leviatã na Teoria do Estado de Thomas Hobbes". Trad. Cristiana Filizola e João C. Galvão Junior. In GALVÃO JR. J.C. "Leviathan cibernetico" Rio de Janeiro: NPL, 2008. (Nota da IHU On-Line)

[14] Friedrich Nietzsche (1844-1900): filósofo alemão, conhecido por seus conceitos além-do-homem, transvaloração dos valores, niilismo, vontade de poder e eterno retorno. A Nietzsche foi dedicado o tema de capa da edição número 127 da IHU On-Line, de 13-12-2004, intitulado Nietzsche: filósofo do martelo e do crepúsculo. A edição 15 dos Cadernos IHU em formação é intitulada O pensamento de Friedrich Nietzsche. Confira, também, a entrevista concedida por Ernildo Stein à edição 328 da revista IHU On-Line, de 10-5-2010, intitulada O biologismo radical de Nietzsche não pode ser minimizado, na qual discute ideias de sua conferência A crítica de Heidegger ao biologismo de Nietzsche e a questão da biopolítica, parte integrante do Ciclo de Estudos Filosofias da diferença - Pré-evento do XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana. Na edição 330 da revista IHU On-Line, de 24-5-2010, leia a entrevista Nietzsche, o pensamento trágico e a afirmação da totalidade da existência, concedida pelo professor Oswaldo Giacoia. Na edição 388, de 9-4-2012, leia a entrevista O amor fati como resposta à tirania do sentido, com Danilo Bilate. Na edição 513, de 16-10-2017, leia a entrevista Uma política de vida ao invés de uma política sobre a vida. A biopolítica afirmativa de Nietzsche. A edição 529 da IHU On-Line teve como tema de capa Nietzsche. Da moral de rebanho à reconstrução genealógica do pensar. (Nota da IHU On-Line)

[15] Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (1821-1881): um dos maiores escritores russos e tido como um dos fundadores do existencialismo. De sua vasta obra, destacamos Crime e castigo, O Idiota, Os Demônios e Os Irmãos Karamázov. A esse autor a IHU On-Line edição 195, de 11-9-2006. dedicou a matéria de capa, intitulada Dostoiévski. Pelos subterrâneos do ser humano. Confira, também, as seguintes entrevistas sobre o autor russo: Dostoiévski e Tolstoi: exacerbação e estranhamento, com Aurora Bernardini, na edição 384, de 12-12-2011; Polifonia atual: 130 anos de Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, na edição 288, de 06-04-2009; Dostoiévski chorou com Hegel, entrevista com Lázló Földényi, edição nº 226, de 02-07-2007. (Nota da IHU On-Line)

 

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