A “bomba relógio” explodiu no Acampamento Moriá, na Ilha de Lesbos

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14 Setembro 2020

O secretário-geral da Comissão das Igrejas para Migrantes na Europa, Dr. Torsten Moritz, exortou a Europa, depois do incêndio que destruiu o campo de refugiados Moriá, na ilha de Lesbos, na Grécia, a acabar de uma vez por todas com a abordagem do “hotspot” (ponto de acesso) ao abrigo de migrantes.

A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.

O incêndio, que teve início na noite de 8 de setembro e só foi controlado pelos bombeiros na manhã do dia seguinte, deixou 13 mil refugiados sem teto, sem ter para onde ir. “Treze mil pessoas já viviam em condições inaceitáveis e estão agora completamente sem casa”, disse Moritz.

“Estamos com eles em nossos pensamentos e em nossas orações e realmente esperamos que ninguém tenha se machucado fisicamente durante esses eventos”, agregou. Não há relato de mortos, mas pessoas do acampamento tiveram que ser atendidas por médicos após inalarem grande quantidade de fumaça.

Além de bombeiros, o governo grego mobilizou a tropa de choque da polícia, que se posicionou na estrada que leva à capital da ilha, Mitilene, a cerca de 6 Km de Moriá, junto com a população local, para evitar que refugiados invadam a cidade.

Em entrevista ao canal Skaï, o prefeito do povoado de Moriá, Yiannis Mastroyiannis, relatou que o incêndio teve início depois que 35 pessoas diagnosticadas com covid-19 se negaram a ingressar numa área de isolamento determinada pelo governo federal.


Mapa do Mediterrâneo, em destaque: Grécia, Lesbos, Turquia e Síria. Fonte: Google Maps


Mapa do mar Egeu, bacia interna do Mediterrâneo. Em destaque: Grécia, a ilha grega de Lesbos e Turquia. Fonte: GreenMe

“A nova quarentena irritou muito as pessoas, sobretudo porque a comunicação não foi transparente. Estão há meses sem água suficiente e fechados no campo de refugiados”, relatou Thomas von der Osten-Sacken, voluntário que trabalha para a ONG Stand by Me Lesvos, ao repórter André Mourenza, do El Pais de Istambul. Quando, no dia 7, levaram essas pessoas a uma zona de isolamento “sem lhes dar explicação do porquê, houve protestos”, contou Thomas.

Tanto Médicos Sem Fronteiras como a Oxfam alertaram para a “bomba relógio” que estava instalada no acampamento de refugiados. Desde o início da pandemia as ONGs exigiam o desmantelamento de Moriá e a transferência das pessoas para campos ou instalações menores. Moriá não tinha água suficiente, sabão ou privadas para a população que estava abrigando, da qual 40% eram crianças.

Mourenza reporta que era impossível manter uma distância de segurança num campo previsto para receber 2,5 mil pessoas e que tinha uma população cinco vezes maior. Assim, só havia uma latrina para cada 160 refugiados, um chuveiro para cada 500. Tendas de campanha e bangalôs abrigavam entre 15 a 20 pessoas cada.

O enviado especial do El Pais a Mitilene, Cristian Segura, constatou que foram três os incêndios que destruíram o campo, os outros dois de origem desconhecida. “Em dois anos que estou aqui isto é o pior que vivi”, disse Ali Ahmed, 24 anos, um somali que trabalha como voluntário na ONG dinamarquesa Team Humanity, ao repórter. Depois do incêndio, as instalações da ONG dinamarquesa recolheram 500 refugiados do Moriá.

O ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, foi a primeira autoridade a se manifestar sobre a situação. Ele frisou que a União Europeia deve se encarregar dos migrantes após essa “catástrofe humanitária”, e propôs a distribuição de refugiados entre os países membros que estiverem dispostos a acolhê-los. França, Alemanha e outras dez nações aceitam recebê-los, mas a Áustria já anunciou que não abrirá suas portas.

Mapa com os campos de refugiados destacados em vermelho (Mapa: Wikimedia Commons/Benutzer Marsupilami)

Moriá abrigava refugiados sírios, afegãos, em sua maioria, mas também paquistaneses, iraquianos, iranianos e congoleses. “Há mulheres grávidas dormindo ao rés do chão e só há dois profissionais dos Médicos Sem Fronteiras na área”, descreveu Ali Ahmed. No acesso à área da Team Humanity há um trânsito constante de refugiados que se aproximam para pedir alimentos, roupa e material de higiene, contou o voluntário ao El Pais.

O coordenador governamental para os campos de refugiados, Manos Logothetis, informou à Agência EFE que o Moriá foi totalmente desocupado. O desafio, agora, é encontrar alojamento para as 13 mil famílias que o habitavam, adiantou. Por enquanto, sem comida e água suficiente, refugiados dormem ao relento em acostamentos de estradas. Eles se opõem à construção de um novo campo preparado por Atenas.

Nas redes sociais circulam imagens de centenas de pessoas, entre elas mulheres e crianças, levando cartazes que pedem: “Não queremos voltar a um inferno como Moriá”.

A Europa é um continente forte o suficiente para abrigar, receber e dar procedimentos de asilo decentes a todos aqueles que chegam, afiançou Torsten Moritz. “Parem com essa abordagem porque só vai criar mais vítimas”, exortou.

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