As escolas gaúchas estão prontas para voltar às aulas presenciais em setembro?

42% das escolas do Rio Grande do Sul não têm acesso à rede pública de esgoto.

Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

Por: João Conceição e Marilene Maia | 26 Agosto 2020

Pesquisa realizada com a comunidade escolar aponta que mais de 90% das escolas não têm recursos suficientes para investir em estrutura para receber alunos. Ainda assim, em live realizada na segunda-feira, 24, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), manteve a defesa do calendário para a volta das aulas presenciais. Apesar da negativa de nove a cada dez prefeitos, que estão contrários à retomada, o governo indica o retorno no mês de setembro.

O texto é do ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

O Rio Grande do Sul contabilizava até ontem, 25, 112.763 pessoas infectadas e 3.161 mortas pelo novo coronavírus. Observa-se número de casos subnotificados, como em Porto Alegre. A Secretaria Estadual de Saúde registrava 11.727 casos, enquanto a Prefeitura de Porto Alegre informa 21.840 na terça-feira. Após atingir a marca de 71 mortos em único dia, em 3 de agosto, o governo de Eduardo Leite (PSDB) tinha como ideia inicial retomar as aulas presenciais no dia 31 de agosto em todo o estado.

A pesquisa “Educação e pandemia no Rio Grande do Sul” desenvolvida pelo Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul - CPERS, em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese aponta que 91,9% das escolas não têm recursos suficientes para investir em estrutura para receber alunos e adquirir equipamentos de proteção. Ainda de acordo com o levantamento, 61,4% dos repasses da verba de manutenção das escolas estão em atraso.

 

 

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 83,6% dos alunos tiveram alguma atividade no mês de julho no estado, entretanto 180 mil responderam que não tiveram atividades, sendo que 63,4% dos alunos que não tiveram possuem até um salário mínimo como renda domiciliar per capita. Tal fato pode estar relacionado à falta de acesso à internet, que atinge 17% da população gaúcha. Um outro levantamento realizado pelo CPERS aponta nesse sentido, pois 59% dos alunos das escolas estaduais e 47% das municipais dizem ter computador, enquanto na rede privada o percentual é mais de 96%.

Já a pesquisa do Datafolha aponta que o medo da contaminação pelo novo coronavírus no retorno às aulas é uma preocupação para 87% dos estudantes no Brasil. Estes e outros dados indicam o risco do aumento da evasão escolar em meio à pandemia. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP de 2017 mostram que a taxa média de evasão no ensino fundamental é de 1,8 no Rio Grande do Sul, chegando a 4,9 no novo ano. No ensino médio, a taxa média de evasão é de 11,1 alcançando 15,7 no segundo ano. A evasão também impacta diretamente o número de jovens que não estudavam e não trabalhavam. Antes da pandemia, segundo o IBGE, 16,3% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam nessa condição.

Entre as propostas do governo estadual está a retomada da redução do número de alunos por turma. Os dados do INEP indicam que a média de aluno no estado por turma da creche e pré-escola - os primeiros níveis a voltarem - é de 14, enquanto no ensino fundamental e ensino médio é acima de 20 alunos por turma. Estes números demonstram números elevados de pessoas em um mesmo ambiente, mesmo que viabilizado o distanciamento social.

sistematização realizada na semana passada pelo ObservaSinos, com base nos dados do INEP, aponta que 42% das escolas do Rio Grande do Sul não têm acesso à rede pública de esgoto. Outra questão é que 14% das escolas gaúchas não têm acesso a abastecimento público de água e 58% não fornecem água filtrada. Além da falta de estrutura sanitária, o infográfico abaixo aponta que 15% das escolas não fornecem alimentação para os alunos.

 

 

Estas realidades e outras se colocam em meio às justificativas da negativa de nove a cada dez prefeitos ao calendário de volta às aulas proposto pelo governador, conforme pesquisa da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul - Famurs. Ainda assim, o governo projeta a retomada na metade do mês de setembro.

 

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