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24 Setembro 2021

 

O Papa Francisco revela aos jesuítas eslovacos os jogos do trono papal realizados nas sombras, mas ele mesmo molda a igreja que o sucederá a luz do sol: “Sei que até houve encontros entre prelados, que pensavam que o Papa estivesse pior do que se declarava. Estavam preparando o conclave. Paciência! Graças a Deus estou bem”, disse ele à La Civiltà Cattolica, publicação dos jesuítas, e à Stampa.

A reportagem é de Marco Grieco, publicada por Domani, 23-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Com um passado de provincial jesuíta em seu currículo, Bergoglio conhece bem as dinâmicas do poder e ao longo dos anos assumiu a máxima atribuída a Inácio de Loyola: “Aja como se tudo dependesse de ti, sabendo que na realidade tudo depende de Deus”, dando uma virada decisiva à Igreja Católica, não só com motu proprio e revisão de gastos.

 

A imagem e semelhança

 

Haverá prelados hostis que conspiram contra ele, mas enquanto isso Francisco, em seus oito anos de pontificado, modelou o colégio dos cardeais com personalidades afins à sua. Em sete consistórios, ele não apenas ampliou a plateia internacional dos seus eleitores diretos, mas também deu o consenso a um viés específico.

Com as nomeações do consistório de novembro de 2020, os cardeais eleitores que ele nomeou passaram a ser 73 de 128, contra os 39 para Bento XVI e os 16 para João Paulo II. A partir de novembro próximo, quatro cardeais indicados pelo Papa Wojtyła perderão seu direito ao voto, devido ao limite de 80 anos, conforme previsto pelo motu proprio Ingravescentem aetatem, promulgado por Paulo VI em 1970: são Gabriel Zubeir Wako, arcebispo emérito de Cartum, Wilfried Fox Napier, arcebispo de Durban, o arcebispo de Sidney, George Pell, e arcebispo emérito de Milão, Angelo Scola. O vazio, que em breve será preenchido, mudará pouco as características de um colégio cardinalício cada vez menos europeu - são 106 os cardeais da UE - e cada vez menos italiano.

Trata-se de uma mudança substancial e repentina para uma instituição bimilenar como a Igreja Católica: na época do Papa Pio X em 1904, os cardeais não europeus eram apenas os arcebispos de Baltimore e Sidney.

 

Jogos de role-playing

 

As nomeações cardinalícias refletem a identidade que Francisco pretende dar à Igreja do futuro, cada vez mais atenta aos problemas sociais, descentralizada de Roma e distante de posições conservadoras.

O pontífice traduz o pensamento em ação, por exemplo, ao não atribuir a púrpura a sedes italianas tradicionais episcopais e "cardinalícias" por tradição, como Turim, Milão, Veneza ou Palermo. Por outro lado, nomeou como cardeais bispos de sedes diferentes como Perugia, L'Aquila e Agrigento.

Essa tendência também se aplica no plano global. Nas Filipinas, o Papa criou uma sede cardinalícia na arquidiocese de Capiz, ao lado daquelas históricas de Manila e Cebu. Pela primeira vez, foram nomeados cardeais em Ruanda e em Brunei, o ex-protetorado do continente asiático onde ainda é aplicada a lei Sharia.

O Papa Francisco escolheu em sintonia com sua ideia de uma igreja missionária. Entre eles, destaca-se o cardeal jesuíta Michael Czerny - elevado de sacerdote a cardeal de uma só vez - que atua com migrantes e refugiados no Dicastério para o desenvolvimento Humano e Integral, mas também nomes que mais se dedicaram ao diálogo inter-religioso, como o arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi, primeiro cardeal da comunidade de Santo Egídio.

Para encontrar personalidades afins a ele, o Papa não tem medo de buscá-las entre os sacerdotes, como o frei Raniero Cantalamessa, encarnação da teologia do povo tão cara a Bergoglio, ou rostos símbolo das periferias do mundo, como como o bispo de Huehuetenango, Álvaro Ramazzini Imeri, ou Juan de la Caridad García Rodríguez, arcebispo de Havana.

Mesmo em um país aparentemente influente como os Estados Unidos, Francisco nomeia como cardeal um rosto de força centrífuga, como Wilton Gregory, primeiro cardeal afro-americano, ex-presidente dos bispos estadunidenses na época da descoberta dos abusos na arquidiocese de Boston, e um verdadeiro freio à escalada curial do Arcebispo de Nova York, cardeal Timothy Dolan.

Em tal quadro, os grupos malévolos e conservadores aos quais o Papa se refere se chocam inevitavelmente com um vasto exército de fidelíssimos cuidadosamente distribuídos para guarnecer a fortaleza.

 

Uma revolução vinda de baixo

 

O Papa Francisco está moldando uma igreja à sua imagem, não apenas entre as principais figuras da Santa Sé, mas também a partir de baixo. Nos últimos anos, não só fechou canais de diálogo tradicionais, mas impôs transferências e equilibrou nomeações com renúncias. À frente de uma área delicada como a diocese de Hong Kong, colocou o provincial dos jesuítas na China, Stephen Chow, na esperança de mitigar as vozes mais adversas à sua abertura com Pequim, como o cardeal Joseph Zen.

Entre os muros leoninos, a escolha de morar entre os idosos inquilinos da Casa Santa Marta é contrabalançada por nomeações reservadas e não convencionais, como dom Fábio Salerno e padre Gonzalo Aemilius, respectivamente secretário pessoal e particular do Papa. Não faltam novas personalidades, como o sacerdote veneziano dom Marco Pozza, o rosto televisivo da Tv2000 e sombra da comunicação mainstream do Papa através da TV e da imprensa.

Pouco tempo se passou desde a primeira direção de um leigo como Paolo Ruffini no dicastério da Comunicação, para que Francisco colocasse ao seu lado o jovem sacerdote Luigi Maria Epicoco, nomeando-o diretamente assistente eclesiástico e editorialista do L'Osservatore Romano, o jornal do Vaticano que - como especifica o portal Il Sismografo - já tem no diretor Andrea Monda seu editorialista. 

 

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