A gestão econômica nas paróquias do futuro

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15 Setembro 2021

 

"A primeira coisa a fazer deverá ser transparência! Sem isso não será possível ir até as pessoas para pedir dinheiro. Teremos que abandonar a prática de ofertas sem registro, o caixa dois, os balancetes forjados... O segundo elemento deverá ser o envolvimento dos fiéis, por meio de uma boa sensibilização e destacando a finalidade de algumas doações. O terceiro elemento é criar sinergia com a instituição pública: municípios, regiões e estado. Esse aspecto é novo na cena, mas também é provavelmente o mais significativo e é a oportunidade mais importante que o presente nos oferece", escreve Gigi Maistrello, sacerdote da diocese de Vicenza, em artigo publicado por Settimana News, 09-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

Nas intervenções anteriores procurei delinear o perfil da nova paróquia (aqui) e daqueles que, dentro dela, deverão ser os protagonistas (aqui). Agora eu gostaria de entrar na questão mais espinhosa, a econômica.

Creio que esta seja um âmbito de grande importância e o lugar onde se poderá medir a coragem de uma Igreja que realmente quer recomeçar e fazê-lo com a determinação de quem tem consciência de ter um papel decisivo no futuro da nossa gente.

É inegável que a Igreja sempre teve uma relação ambígua com tudo o que diz respeito ao dinheiro e à "gestão econômica"; teve quase uma espécie de medo de entrar naquele mundo, como se houvesse o temor de ser dominado pelo poder demoníaco de "mamon"! Se aos sacerdotes pedimos qualidades humanas além de espirituais, não podemos esquecer este aspecto que não é nada secundário.

 

É possível administrar o dinheiro de forma limpa?

 

Aprendi pessoalmente a administrar dinheiro sem medo também graças a uma longa experiência em uma cooperativa social que ainda presido e fundada com um grupo de amigos em 1984. Entendi que é possível e viável ter uma relação transparente e franca com tudo que diz respeito à gestão econômica.

Além disso, entendi como o mundo do empreendedorismo deve e pode ser evangélico para cumprir sua missão. Por isso, não devemos ter medo de afirmar que a gestão das paróquias do futuro deverá ter também conotações empresariais, para enfrentar os desafios do amanhã com um novo espírito.

No passado, a gestão econômica das paróquias dizia respeito principalmente à construção, à manutenção e à gestão dos edifícios. Apenas em casos esporádicos, dizia respeito à gestão de pessoas e de serviços. No futuro, esta perspectiva também deverá ser levada em consideração e o padre deverá ser suficientemente formado e auxiliado nessa delicada tarefa.

Atualmente as entradas econômicas provêm das ofertas dos fiéis e do oito por mil dos impostos de renda. Estas duas fontes não devem ser eliminadas, pelo contrário, apenas terão de ser adequadamente regulamentadas com parâmetros que o mundo econômico também está procurando, depois de ter compreendido que uma administração ética conduz a novas e sólidas perspectivas, embora não permitirá aquelas margens de ganhos que antes eram possíveis e que agora são impensáveis.

Como antecipamos no artigo relativo aos atores da nova paróquia, teremos que garantir um salário digno e justo para aqueles que irão presidir as paróquias (os/as curas) e para aqueles que irão dirigir o Centro Comunitário (Oratório). Os valores para fazer frente a tudo isto são importantes, de 60.000 a 100.000 euros por ano.

Certamente a oferta dominical arrecadada na igreja não será suficiente e não será suficiente nem mesmo ir bater na caixa do Instituto para o sustento do clero: será preciso que inventar algo novo, acessível e atual. Neste contexto, não se pode contar com proventos das diversos festividades e eventos. Estas são oportunidades extraordinárias e não podem oferecer cotas fixas. No máximo, servirão para a manutenção dos prédios.

 

Para uma correta gestão econômica

 

A primeira coisa a fazer deverá ser transparência! Sem isso não será possível ir até as pessoas para pedir dinheiro. Teremos que abandonar a prática de ofertas sem registro, o caixa dois, os balancetes forjados ...

Até a sociedade civil se tornou mais transparente nisso e não é impossível encontrar uma maneira de contar o dinheiro pelo que ele é, sem segundas intenções.

E também a prática (felizmente em processo de superação) de tarifar os sacramentos deve ser abandonada.

O segundo elemento deverá ser o envolvimento dos fiéis, por meio de uma boa sensibilização e destacando a finalidade de algumas doações.

Da minha experiência de 42 anos como padre, entendi que as pessoas são generosas se veem frutos, se veem que o que foi ofertado foi bem aproveitado, se se sentem devidamente informadas tanto sobre as decisões como sobre os relatórios financeiros.

Os escândalos das últimas décadas nada mais fizeram que repercutir sobre as receitas. Se continuarmos assim, corremos o risco de perder até o oito por mil! Afinal, é mais conveniente mudar para ter "o bolão"! Existem várias modalidades para permitir aos contribuintes depositar fundos nas contas paroquiais e, ao mesmo tempo, beneficiar-se de descontos fiscais, e não é difícil adotar esse método de contribuição.

O terceiro elemento é criar sinergia com a instituição pública: municípios, regiões e estado. Esse aspecto é novo na cena, mas também é provavelmente o mais significativo e é a oportunidade mais importante que o presente nos oferece.

Deixar os centros das cidades desguarnecidos, fechar os Centros Comunitários, abandonar igrejas e casas canônicas, é algo que diz respeito a todos, inclusive à sociedade civil. Basta ver como muitas administrações estão fazendo o possível para substituir as paróquias na organização do tempo livre dos jovens e das crianças. Os acampamentos de verão, o Grest, as atividades culturais eram peças fortes das paróquias e agora estão em vias de ser transferidas para outros referentes. Infelizmente, com resultados muito inferiores!

As nossas paróquias têm uma história e uma cultura secular nesses âmbitos, acumulando experiências insubstituíveis.

 

Colaborar com as instituições

 

Por que não se reunir então? Por que não convocar uma mesa, onde o município e a paróquia possam se sentar juntas e se propunham a atingir os mesmos objetivos (prevenção, encontro, acolhimento, cultura, respeito pelas regras ...)?

A paróquia tem as estruturas e a cultura. O município tem possibilidade de ter a cobertura econômica. Atualmente, os fundos atribuídos pela Europa para este fim são enormes e muitas vezes não são utilizados. É preciso realismo e uma boa dose de humildade. São necessários imaginação e coragem para embrenhar-se por caminhos até agora inexplorados.

Um bom prefeito só quer que as crianças se ocupem, que os idosos possam viver momentos serenos, que a prevenção seja feita não só na escola, mas sobretudo na gestão dos tempos livres (que está em maior risco).

O bom pároco e o bom cura têm os mesmos desejos, só que também têm em mente um outro passo: permitir que essas experiências de comunhão e de humanidade possam produzir também uma nostalgia do Absoluto e, portanto, conseguir chegar a Deus. Mas isso não está escrito no protocolo entre o município e a paróquia, está escrito no coração de quem sabe o quanto o Espírito possa verdadeiramente incidir sobre a vida. Mas para chegar a isso é preciso primeiro ter frequentado a sala do bem, crentes e não crentes juntos.

Entre outras coisas, tal proposta leva à criação de novos postos de trabalho! Alguns poderão considerar isso um elemento secundário, mas não é o caso. Existem espaços para utilizar o momento difícil que estamos vivendo para inventar e criar. Esta é a força de Deus quando se torna resiliência.

Procurei contar uma “visão”, uma proposta de futuro, uma ideia concreta e realizável. Creio que seja essencial que algumas dioceses possam tomas uma solução desse tipo em suas mãos e fazer uma experiência concreta. Só assim será possível ver os pontos críticos e propor eventuais modificações.

Acima de tudo, porém: é preciso muito amor por esta Igreja, que nos gerou na fé e que também nos fez sofrer por seus atrasos e suas contradições. É inegável, porém, que a nossa Igreja Católica e Apostólica ainda tem um futuro, deve ter um futuro. Esse futuro só será negado se o cenário continuar sendo o atual. Se for assim, seremos obrigados a sofrer e a viver momentos dramáticos.

 

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