A China por uma comunidade global: “O mundo precisa de justiça, não de hegemonia”

Boao Forum for Asia Annual Conference | Foto: Reprodução - Youtube

30 Abril 2021

 

Publicamos aqui o discurso proferido no dia 20 de abril por Xi Jinping, presidente da República Popular da China, no chamado “Davos chinês”, o Boao Forum for Asia Annual Conference 2021.

O discurso foi publicado em Xinhua.net, agência de notícias oficial do governo da China, 20-04-2021. A tradução é de Anne Ledur Machado.

 

Eis o texto.

 

Este ano marca o 20º aniversário do Boao Forum. Ao longo dessas duas décadas, os países asiáticos avançaram na integração econômica regional e trabalharam em uníssono para buscar o desenvolvimento econômico e social, o que transformou a Ásia na região mais vibrante e promissora da economia global.

A Ásia também esteve ao lado do restante do mundo diante do terrorismo, do tsunami do Oceano Índico, da crise financeira internacional, da Covid-19 e de outras ameaças à segurança tradicionais e não tradicionais, o que ajudou a manter a estabilidade e a segurança na região.

Como um membro importante da família asiática, a China tem aprofundado as reformas e a abertura, ao mesmo tempo que promove a cooperação regional, alcançando assim o progresso e o desenvolvimento em sintonia com o restante da Ásia e do mundo.

É justo dizer que este fórum testemunhou a extraordinária jornada da China, da Ásia e do mundo, e exerceu uma influência significativa na promoção do desenvolvimento na Ásia e além.

A conferência deste ano é convocada contra um pano de fundo muito especial. O tema da conferência – “Um mundo em mudança: unir as mãos para fortalecer a governança global e avançar na Cooperação Belt and Road” – é mais oportuno e relevante nas circunstâncias atuais.

Agora, as forças combinadas das mudanças e uma pandemia, ambas imprevisíveis em um século, levaram o mundo a uma fase de fluidez e transformação. A instabilidade e a incerteza estão claramente aumentando. A humanidade está enfrentando um déficit crescente de governança, de confiança, de desenvolvimento e de paz. Ainda há muito a ser feito para alcançar a segurança universal e o desenvolvimento comum.

Dito isso, não há nenhuma mudança fundamental na tendência rumo a um mundo multipolar; a globalização econômica está mostrando uma resiliência renovada; e o apelo para defender o multilateralismo e melhorar a comunicação e a coordenação tornou-se mais forte. Embora vivamos em uma época repleta de desafios, também é uma época cheia de esperança.

Para onde a humanidade deve ir a partir daqui? Que tipo de futuro devemos criar para as gerações futuras? Ao tentarmos responder a essas importantes perguntas, é fundamental que tenhamos em mente os interesses compartilhados da humanidade e que façamos escolhas responsáveis e sábias.

A China apela a todos os países da Ásia e além para responderem ao apelo dos nossos tempos, derrotar a pandemia por meio da solidariedade, fortalecer a governança global e continuar buscando uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade.

- Precisamos de uma consulta em pé de igualdade para criar um futuro de benefícios compartilhados. A governança global deve refletir a evolução do cenário político e econômico no mundo, estar em conformidade com a tendência histórica de paz, desenvolvimento e cooperação ganha-ganha, e atender às necessidades práticas para enfrentar os desafios globais. Precisamos seguir os princípios da ampla consulta, da contribuição conjunta e dos benefícios compartilhados, defender o verdadeiro multilateralismo e tornar o sistema de governança global mais justo e equitativo. Precisamos salvaguardar o sistema internacional centrado na ONU, preservar a ordem internacional sustentada pelo direito internacional e defender o sistema de comércio multilateral com a Organização Mundial do Comércio em seu núcleo. Os assuntos mundiais devem ser tratados por meio de uma extensa consulta, e o futuro do mundo deve ser decidido por todos os países trabalhando juntos. Não devemos permitir que as regras estabelecidas por um ou alguns países sejam impostas a outros, nem permitir que o unilateralismo perseguido por alguns países dite o ritmo para o mundo inteiro. O que precisamos hoje no mundo de hoje é justiça, não hegemonia. Os grandes países devem se comportar de maneira condizente com seu status e com um maior senso de responsabilidade.

- Precisamos de abertura e inovação para criar um futuro de desenvolvimento e prosperidade. A abertura é essencial para o desenvolvimento e o progresso. Ela também contém a chave para a recuperação econômica do pós-Covid. Precisamos promover a liberalização e a facilitação do comércio e dos investimentos, aprofundar a integração econômica regional e melhorar as cadeias de abastecimento, industriais, de dados e de recursos humanos, com vistas a construir uma economia mundial aberta. Precisamos aprofundar as parcerias para a conectividade e fortalecer os vínculos de infraestrutura para manter as artérias das atividades econômicas desobstruídas. Devemos aproveitar as oportunidades históricas em uma nova rodada de revolução científica e tecnológica, e de transformação industrial, impulsionar a economia digital e intensificar os intercâmbios e a cooperação em áreas como inteligência artificial, biomedicina e energia moderna, para que os frutos da inovação científica e tecnológica possam se transformar em maiores benefícios para as pessoas em todos os países. Nesta era da globalização econômica, a abertura e a integração são uma tendência histórica irrefreável. As tentativas de “erguer muros” ou “desacoplar” vão contra a lei da economia e os princípios do mercado. Elas ferem os interesses alheios sem gerar benefícios próprios.

- Precisamos de solidariedade e cooperação para criar um futuro de saúde e segurança. Na luta contínua contra a Covid-19, a vitória será nossa no fim. Devemos colocar as pessoas e suas vidas acima de qualquer outra coisa, ampliar o compartilhamento de informações e os esforços coletivos, melhorar a saúde pública e a cooperação médica, e desempenhar plenamente o papel-chave da Organização Mundial da Saúde (OMS). É importante que fortaleçamos a cooperação internacional em pesquisa e desenvolvimento, produção e distribuição de vacinas, e aumentemos a sua acessibilidade e disponibilidade nos países em desenvolvimento, para que todos no mundo possam ter acesso e condições de pagar pelas vacinas de que precisam. Também é importante que tomemos medidas abrangentes para melhorar a governança global na segurança da saúde pública e que trabalhemos juntos por uma comunidade global de saúde para todos. Precisamos seguir a filosofia do desenvolvimento verde, avançar na cooperação internacional sobre as mudanças climáticas e fazer mais para implementar o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. O princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, deve ser mantido, e as preocupações dos países em desenvolvimento sobre capital, tecnologia e capacitação devem ser abordadas.

- Precisamos de compromisso com a justiça para criar um futuro de respeito e aprendizado mútuos. A diversidade é o que define o nosso mundo e torna a civilização humana fascinante. A pandemia da Covid-19 tornou ainda mais claro para as pessoas ao redor do mundo que devemos rejeitar a mentalidade de “Guerra Fria” e de soma zero e nos opor a uma nova “Guerra Fria” e confrontação ideológica em quaisquer formas. Nas relações entre Estados, os princípios da igualdade, do respeito e da confiança mútuos devem ser postos na frente e no centro. Mandar nos outros ou se intrometer nos assuntos internos dos outros não oferecerão nenhum apoio. Devemos defender a paz, o desenvolvimento, a equidade, a justiça, a democracia e a liberdade, que são valores comuns da humanidade, e encorajar os intercâmbios e o aprendizado mútuo entre as civilizações para promover o progresso da civilização humana.

Nesse contexto, gostaria de anunciar que, assim que a pandemia ficar sob controle, a China sediará a segunda Conferência sobre o Diálogo das Civilizações Asiáticas, como parte dos nossos esforços ativos para promover o diálogo intercivilizacional na Ásia e além.

Observei em várias ocasiões que a Belt and Road Initiative (BRI) é uma estrada pública aberta a todos, não um caminho privado detido por uma única parte. Todos os países interessados são bem-vindos a bordo para participar da cooperação e compartilhar seus benefícios. A cooperação Belt and Road busca o desenvolvimento, visa a benefícios mútuos e transmite uma mensagem de esperança.

Rumo ao futuro, continuaremos trabalhando com outras partes na cooperação Belt and Road com alta qualidade. Seguiremos os princípios da ampla consulta, da contribuição conjunta e dos benefícios compartilhados, e defenderemos a filosofia da cooperação aberta, verde e limpa, em uma aposta de tornar a Belt and Road uma cooperação de alto padrão, centrada nas pessoas e sustentável.

- Construiremos uma parceria mais estreita para a cooperação em saúde. As empresas chinesas já iniciaram a produção conjunta de vacinas nos países participantes da BRI, como Indonésia, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Malásia, Paquistão e Turquia. Expandiremos a cooperação com várias partes no controle de doenças infecciosas, saúde pública, medicina tradicional e outras áreas para, em conjunto, proteger as vidas e a saúde das pessoas em todos os países.

- Construiremos uma parceria mais estreita para a conectividade. A China trabalhará com todas as partes para promover a “conectividade hard” de infraestrutura e a “conectividade soft” das regras e padrões, garantir canais desimpedidos para a cooperação comercial e de investimentos, e desenvolver ativamente o e-commerce da Rota da Seda, tudo em uma aposta de abrir uma perspectiva brilhante para o desenvolvimento integrado.

- Construiremos uma parceria mais estreita para o desenvolvimento verde. Poderemos fortalecer a cooperação em infraestrutura verde, energia verde e finanças verdes, e melhorar a Coalizão Internacional de Desenvolvimento Verde da BRI, os Princípios de Investimento Verde para o Desenvolvimento da Belt and Road e outras plataformas de cooperação multilateral para tornar o “verde” uma característica definidora da cooperação Belt and Road.

- Construiremos uma parceria mais estreita para a abertura e a inclusão. Um relatório do Banco Mundial sugere que, até 2030, os projetos da Belt and Road podem ajudar a tirar 7,6 milhões de pessoas da pobreza extrema e 32 milhões de pessoas da pobreza moderada em todo o mundo. Agiremos com espírito de abertura e de inclusão ao trabalharmos com todos os participantes dispostos a construir a BRI em um caminho para o alívio da pobreza e o crescimento, o que contribuirá positivamente para a prosperidade comum da humanidade.

O ano de 2021 marca o centenário do Partido Comunista da China (PCC). Ao longo do último século, o PCC lutou contra todas as probabilidades em uma busca implacável pela felicidade do povo chinês, pelo rejuvenescimento da nação chinesa e pelo bem comum para o mundo. Como resultado, a nação chinesa alcançou uma grande transformação, erguendo-se para crescer em riqueza e se tornar mais forte, e assim deu uma notável contribuição para a civilização e o progresso humanos. A China continuará desempenhando seu papel na construção da paz mundial, na promoção do desenvolvimento global e na defesa da ordem internacional.

A China permanecerá comprometida com a paz, o desenvolvimento, a cooperação e o benefício mútuo, desenvolverá a amizade e a cooperação com outros países com base nos Cinco Princípios da Coexistência Pacífica e promoverá um novo tipo de relações internacionais. A China continuará realizando a cooperação anti-Covid com a OMS e outros países, honrará seu compromisso de tornar as vacinas um bem público global e fará mais para ajudar os países em desenvolvimento a derrotar o vírus.

Por mais forte que possa crescer, a China nunca buscará a hegemonia, a expansão ou uma esfera de influência. A China também jamais se envolverá em uma corrida armamentista. A China participará ativamente da cooperação multilateral no comércio e nos investimentos, implementará integralmente a Lei de Investimento Estrangeiro e suas regras e regulamentos de apoio, cortará ainda mais a lista negativa de investimentos estrangeiros, continuará desenvolvendo o Porto de Livre Comércio de Hainan e desenvolverá novos sistemas para uma economia aberta de alto padrão. Todos são bem-vindos para compartilhar as vastas oportunidades do mercado chinês.

“Ao zarparmos juntos, poderíamos cavalgar o vento, quebrar as ondas e enfrentar a jornada de dez mil milhas.” Às vezes, podemos encontrar ondas tempestuosas e correntes perigosas, mas, enquanto unirmos os nossos esforços e mantivermos a direção certa, o gigante navio do desenvolvimento humano permanecerá em equilíbrio e navegará rumo a um futuro mais brilhante.

Obrigado.

 

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