A Missa do Papa com Becciu e o capitel de Vèzelay

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05 Abril 2021

Mas o Papa Francisco é claro ou não é? Qual é o verdadeiro Bergoglio: aquele do discurso do início do ano judicial ou o da Quinta-feira Santa com o cardeal?

A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por Huffington Post, 02-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Mas o Papa Francisco é claro ou não é? A notícia de que ontem ele tenha desistido da Missa em Coena Domini (que lembra a Instituição da Eucaristia e dá início ao Tríduo Pascal) na Basílica de São Pedro e, na mesma hora, tenha celebrado missa privadamente com o Cardeal Becciu em sua casa, parece contrastar com as solenes palavras pronunciadas no sábado passado para a abertura do ano judicial do Vaticano em que encorajou os magistrados a serem incisivos na luta contra os crimes financeiros, com uma referência indireta mas evidente também às investigações em curso sobre a compra do prédio de Londres na Sloane Ave, que custou a Becciu o cargo há seis meses.

Discurso, vejam bem, proferido quando a missa na casa de Becciu já havia sido decidida (e a desistência na Basílica oficialmente anunciada pela Sala de Imprensa do Vaticano, que apesar dos pedidos nunca quis explicar o que o Papa teria feito nesse ínterim).

Qual é o verdadeiro Bergoglio: aquele do discurso do início do ano judicial ou o da missa com Becciu?

Aquele que tirou até o último euro dos cofres da Secretaria de Estado (realizando a reforma desejada desde o início do Pontificado pelo tão contestado Cardeal Pell)? Ou aquele que autorizou Becciu a dar a conhecer que ontem celebrou com ele o dia mais importante da vida dos sacerdotes, o dia em que Cristo instituiu o sacerdócio?

O que ampliou enormemente os poderes dos promotores do Vaticano em um dos últimos Motu proprio em matéria penal, estabelecendo independência formal de qualquer outro poder (incluindo aquele exercido pelo soberano) no pequeno estado? Ou aquele que, a partir do primeiro telefonema revelado pelo Huffpost, continuou a ver e ouvir o cardeal?

Naturalmente, o "grupo" de Becciu logo ressaltou, de uma forma clerical que não deve ter agradado em Santa Marta, que a missa coincidia praticamente com uma absolvição "judicial", porque a investigação teria sido desmantelada por uma sentença inglesa que diz respeito a uma apreensão de dinheiro solicitado pelos promotores contra o financista Torzi.

Mas quem não se deixa enganar pelo jogo de espelhos de narrativas interessadas, sabe que a sentença londrina não tem a menor relevância para o período em que Becciu era substituto da Secretaria de Estado (mas eventos ocorridos entre novembro de 2018 e maio de 2019, quando o cardeal estava à frente da Congregação para as Causas dos Santos) e envolve apenas a solução final do caso de Londres, que conforme a própria sentença inglesa começou mesmo em dezembro de 2012, pouco antes da renúncia de Ratzinger (quem sabe por quê?).

Além disso também sabe que a apreensão de Londres, se confirmada, envolveria um valor menor, inferior a 800 mil euros, enquanto a mesma sentença lembra que uma apreensão imputável a Torzi por 10 milhões de euros foi autorizada a pedido do Vaticano pela Suíça no passado. E que há poucos dias quatro sentenças do Tribunal Federal Suíço de Bellinzona confirmaram enormes apreensões (menos de 300 milhões de euros, que é o dano estimado pelo Vaticano aos cofres da Secretaria de Estado, pelo que consta nessas sentenças) ao financista que por 27 anos administrou as contas da Terza Loggia e foi o artífice do esquema financeiro para a compra do prédio.

Então, o que significa o gesto do Papa? Ainda ontem, o Osservatore Romano publicou uma reprodução de um quadro que o Papa guarda atrás de sua escrivaninha: Jesus que, descendo da cruz, abraça Judas, o traidor que se enforcou. Além disso, sabe-se que uma das iconografias mais caras a Bergoglio é o capitel medieval de Vèzelay, no qual o Bom Pastor coloca sobre seus ombros o corpo de um Judas suicida. O Bom Pastor, aquele que deixa as 99 ovelhas que estão seguras e vai em busca de uma só. E isso, diz o Evangelho, gera uma grande alegria no céu. E "alegria" é a palavra com que Becciu (que sempre afirmou sua inocência) quis comentar a missa com o Papa.

A justiça vaticana, depois seguirá seu curso. 

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