“Maciel tinha uma capacidade incrível de manipular e enganar as pessoas”, revela ex-diretora vocacional dos Legionários de Cristo

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24 Setembro 2020

Elena Sada publica o livro “Ave Negra”, um sucesso de vendas e livro imprescindível para entender o caso de Marcial Maciel. A autora narra como foi sua experiência ao lado do fundador dos Legionários de Cristo.

A reportagem é publicada por Milenio e reproduzida por Religión Digital, 23-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Marcial Maciel foi um padre mexicano de ascendência espanhola e francesa. Fundou a ordem sacerdotal da Legião de Cristo. 60 anos depois do seu início, depois de décadas de acusações por numerosos crimes, o papa Bento XVI pediu a Maciel que se retirasse “a uma vida de penitência e oração”. Morreu dois anos mais tarde e jamais foi sentenciado em corte civil ou penal, apesar das múltiplas evidências de seus crimes como ladrão e pedofilia em série”. Com estas palavras começa Ave Negra (publicado no México pela editora Madre Editorial), estremecedor relato de Elena Sada sobre os 18 anos que passou integrada à congregação Regnum Christi, a rama feminina dos Legionários de Cristo. Sada, nascida em Monterrey, chegou a ocupar o posto de diretora vocacional para a América do Norte, Austrália e Nova Zelândia.

Seu trabalho consistia em recrutar, buscar pessoas que quisessem fazer parte dos Legionários de Cristo e também treinar as recrutadoras para que conseguissem mais adeptas. Depois de quase duas décadas na organização em que entrou aos 18 anos, em uma madrugada de 2001 a abandonou. Agora, reconstruiu sua experiência para pôr sobre o papel o inferno que viveu nos Legionários de Cristo.

Elena Sada define Marcial Maciel como “narcisista abusivo”. Em uma de suas últimas entrevistas ao jornal Milenio, a autora aprofunda a imagem do fundador dos Legionários de Cristo. “Maciel tinha uma capacidade incrível de manipular e enganar as pessoas. Fez-nos pensar que ele era um santo e que gozava de certa clarividência por sua proximidade com Deus. Convencia-te de que ele sabia mais de ti do que tu e tua família sabiam. De fato, manipulava para que duvidássemos de nossos próprios pais. No meu caso, me abusou ao me aniquilar, ao extrair minha identidade, meus juízos, minhas crenças. Me fez acreditar que desejos normais eram pecaminosos”.

Sada fala de uma “lavagem cerebral” e de um isolamento em que era extremamente difícil se comunicar com a família e pensar por si mesmo. Por exemplo, o pai de Elena sofreu um derrame e os diretores da organização não lhe disseram, “para que não se distraísse”.

O livro revela o perdão que Elena deseja transmitir a todas as pessoas que recrutou para entrar na Regnum Christi. Ela também envia uma mensagem de esperança para que aqueles que passaram por experiências terríveis no passado como ela, saibam se reinventar e se aceitar.

Sada conta como “escapou” do reino de Maciel. “Eram 5:25 da manhã. Algo dentro de mim me dizia que, se eu não agisse imediatamente, nunca o realizaria e escolheria uma morte lenta. Enquanto descia, vi uma fotografia do padre Maciel. Seus olhos me avisavam: ‘Elena, quando uma mulher fecha a porta à sua vocação religiosa ou consagrada, ela carrega o peso dos pecados das almas que estava destinada a salvar, mas se omitiu por egoísmo’. Lamento padre Maciel, esta noite escolho viver. Seu aviso – ou ameaça – não vai me parar”.

Segundo o jornal El Mundo, em Ave Negra, Elena Sada também recolhe depoimentos das vítimas de Maciel, que anos depois lhe pediram explicações por meio de cartas. “Quando escrevi a ele, há 10 anos, pedi que explicasse por que vivia uma vida tão contraditória. Ele nunca respondeu, mas depois de duas semanas, fui transferido para o seminário menor na Espanha e minha ordenação foi adiada por sete anos. Não só você tem evidências dos crimes. A sua será pornografia infantil homossexual cuidadosamente elaborada para fazer parecer que eu e outras crianças estávamos ‘procurando’ por você. Nunca lhe disse que também tenho provas: fotografias que tirei quando ele me convidou para as suas orgias”. Os Legionários de Cristo se desculparam publicamente em 2014 pelo comportamento grosseiro e objetivamente imoral de seu fundador.

Após deixar a ordem, Elena Sada se estabeleceu em Nova York. Casou-se e começou uma família. Pouco depois, o casamento deles acabou, tendo se casado quase imediatamente após deixar o Regnum Christi e ainda não tendo processado sua experiência lá. Felizmente, seus filhos se adaptaram e têm um pai comprometido, como ela mesma expressou.

Sada é atualmente professora do Departamento de Educação da Connecticut State University, nos Estados Unidos. Em agradecimentos ao livro, Elena Sada lembra de seus terapeutas, que são a chave para sua recuperação. “Com seus conselhos oportunos, fui capaz de refletir sobre meu processo e aceitar minha vulnerabilidade”.

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