Núncio na França se encontra com “apóstolas” depois que candidata a “bispa” recebe ameaça de morte

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03 Agosto 2020

O núncio na França deve se encontrar com as mulheres “apóstolas” que buscam o seu lugar na hierarquia da Igreja, depois que uma delas, candidata a “bispa”, recebeu uma ameaça de morte.

A reportagem é de Mada Jurado, publicada por Novena News, 31-07-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Sylvaine Landrivon é uma das sete mulheres do novo grupo feminista católico Toutes Apôtres! (Todas apóstolas!), que, no dia 22 de julho passado, depositaram na caixa de correio da nunciatura apostólica em Paris as suas candidaturas a vários cargos na Igreja – pregadora leiga, diácona, sacerdote, bispa e núncia –, dos quais elas estão atualmente proibidas apenas pelo fato de serem mulheres.

Mas, depois desse gesto corajoso e profético, Landrivon – que se candidatou ao cargo de bispa – teve a desagradável surpresa de encontrar, no dia 27 de julho, em sua própria caixa de correio, em sua casa no vilarejo de Isère, onde costuma morar durante o verão, uma carta ameaçando-a explicitamente.

“Esperamos ansiosamente pela sua próxima reforma, pelo seu próximo Concílio. A Igreja conta com você. Mas se apresse, pois a morte pode surpreendê-la”, escreveu o autor da carta a Landrivon, que não hesitou em registrar uma denúncia na polícia de ameaça de morte.

Segundo Landrivon, que é doutora em Teologia, a polícia está levando a ameaça “muito a sério” e já se comprometeu a realizar uma análise de impressões digitais do envelope em que a carta estava contida.

Em um comunicado na quinta-feira passada, o Toutes Apôtres! condenou “firmemente” a ameaça contra Landrivon. E as sete mulheres, junto com a “mentora” e inspiradora Anne Soupa – que já havia se candidatado a suceder o cardeal Philippe Barbarin, manchado de abuso, como arcebispa de Lyon –, deploraram uma agressão que elas disseram ter sentido como se tivesse sido “endereçada a cada um delas”.

Cada uma dos membros do Toutes Apôtres!  “é solidária com Sylvaine Landrivon e está determinada a viver seu compromisso pela igualdade em responsabilidade dos homens e mulheres batizados católicos”, acrescentou o comunicado de imprensa do coletivo.

O Toutes Apôtres! comemorou o fato de que “o nosso coletivo e as nossas candidatas receberam centenas de mensagens de apoio provenientes do mundo inteiro” e “tiveram a alegria de descobrir um apoio inesperado entre nossos amigos próximos e em nossas paróquias”.

“Já ficamos sabendo de padres que pedem abertamente mais igualdade em suas homilias”, observou o coletivo.

Mas as mulheres lamentaram que a ameaça de morte contra Landrivon “nos lembra que a igualdade entre homens e mulheres continua sendo o marcador de uma divisão” na Igreja “entre tradição e modernidade, entre direitos humanos e patriarcado”.

O fato de uma “simples reivindicação de uma verdadeira igualdade” entre homens e mulheres na Igreja “provocar tamanha violência” é um sinal de que “alguns se sentem ameaçados em sua identidade” e de que as mulheres católicas continuam sendo “reféns” de um sexismo insidioso, lamentou o Toutes Apôtres!.

“Tal situação traz à tona cruelmente a urgência de abrir um debate mais sereno todos e todas juntos. Nós devemos poder construir relações de gênero que escapem dos jogos de violência, de poder e de hierarquia”, acrescentou o coletivo, antes de apelar aos católicos e católicas para que apoiem a causa da justiça de gênero “que, no fundo, é a dos direitos humanos”.

Enquanto isso, e após o choque da ameaça de morte contra uma delas, as mulheres do Toutes Apôtres! receberam algumas boas notícias nessa semana, na forma de convites para pelo menos quatro delas por parte do núncio em Paris, Celestino Migliore, para se encontrar com ele em particular para discutir as suas candidaturas no escritório da Igreja.

Por sua parte, no entanto, Anne Soupa ainda não recebeu nenhuma resposta oficial à sua candidatura ao arcebispado de Lyon.

“É muito provável que, quando eu me candidatei, eles pensaram que o meu gesto era anedótico e que era melhor não falar sobre isso”, explicou a biblista, teóloga, jornalista, escritora e antiga ativista dos direitos das mulheres católicas.

“Mas, com mais sete postulantes, eles provavelmente não podem mais se dar ao luxo de não lidar com o assunto, nem que seja apenas por cortesia. Porque é como uma onda que está se espalhando”, alegrou-se Soupa.

 

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