Se nos empenharmos a aliviar tanto sofrimento, estaremos buscando a Deus. Artigo de José María Castillo

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04 Julho 2020

“Não conhecemos Deus em seu 'ser', mas em sua 'atividade'. Que é uma atividade libertadora do sofrimento e da opressão. E é exatamente a isso que Jesus se dedicou, libertando os doentes e os que sofrem com suas dificuldades”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo, em artigo publicado por Religión Digital, 03-07-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Eis o artigo.

Chama-me a atenção que, na pandemia que estamos sofrendo, o tema de Deus pouco seja levado em conta. No mínimo, da relação que Deus tenha ou não com a pandemia, é um assunto pelo qual, pelo visto, poucas pessoas se interessam. E aos que se interessam, o mais certo é que se perguntam: se Deus pode tudo, por que não resolve este problema?

Como é lógico, quem se faz essa pergunta, primeiro teria que pensar é se, na realidade, sabe de quem está falando. E em geral, quando falamos de Deus, estamos seguros e sabemos precisar de que ou a quem nos referimos?

É indispensável se fazer esta pergunta, porque, se falamos de Deus, por isso mesmo do que estamos falando, é do Transcendente. Pois bem, falar de “transcendência” é falar de “incomunicação”. Isso exatamente é o que define e precisa a transcendência. Porém, então, quando falamos de Deus, do que estamos falando?

A solução que o cristianismo deu a esta pergunta tem sido a “encarnação”, isto é, a “humanização” de Deus em Jesus de Nazaré. De forma que, naquele modesto e simples galileu, de dois mil anos atrás, que foi Jesus, o Nazareno, se fez presente a nós e nos comunicou Deus, “o Pai”, como o designam os Evangelhos. Por isso, o próprio Jesus pode dizer a um de seus discípulos: “Felipe, o que vê a mim, está vendo a Deus” (Jo 14, 10). Da mesma maneira que, no anúncio do que seria o juízo final, Deus, da boca de Jesus, dirá: “todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25, 40).

Mas, sem dúvida, o evangelho de João é o que fala mais claramente sobre esse assunto. Já, no prólogo do IV Evangelho, é dito: “Ninguém jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho único, que está junto ao Pai” (Jo 1, 18). É Jesus, em sua maneira de viver e em sua atividade, que nos ensinou como é Deus e o que Deus quer. É por isso que, no Evangelho de João, o nome de Deus é repetido insistentemente, assim como o próprio Deus o revelou a Moisés na teofania da sarça ardente (Êx 3, 6-8). Considerando, acima de tudo, que Jesus se apropria da estranha definição que Deus deu de si mesmo a Moisés: “Eu sou” (Êx 3, 14). É o Deus que “viu a opressão do seu povo... e desceu para libertá-lo” (Êx 3, 7-8).

A definição que Deus deu a Moisés não é uma definição do “ser” de Deus (G. Von Rad), mas da “atividade” de Deus (cf. Jo 8, 24. 28. 58). Por isso os fanáticos dirigentes do judaísmo disseram a respeito de Jesus que ele blasfemava e queriam matá-lo.

Em resumo, não conhecemos Deus em seu “ser”, mas em sua “atividade”. Que é uma atividade libertadora do sofrimento e da opressão. E é exatamente a isso que Jesus se dedicou, libertando os doentes e os que sofrem com suas dificuldades.

Bem, se o tema de Deus é pensado e aplicado à realidade da vida, como a Bíblia faz e como o Evangelho a apresenta concretamente, pode (e deve) se garantir que a pandemia nos confronta a cada dia para o tema de Deus, para o problema de Deus e, acima de tudo, está nos dizendo em todos os momentos onde e como devemos encontrar Deus.

Quando há mais confinamento e mais ameaça de sofrimento e perigo de morrer, é aí que, sejam quais forem nossas ideias, se nos empenharmos a aliviar tanto sofrimento, é aí onde – saibamos ou não – em seu sentido mais profundo, estamos buscando a Deus, lidando com o assunto de Deus e sentindo o significado que Ele tem em nossas vidas.

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